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Brasil

Entenda a polêmica do ‘apagão’ da vacina contra a Covid em SP

O estado afirma que mantém seu cronograma de dar a dose 1 a todos os adultos até 15 de setembro e “trabalha para antecipar esse objetivo”

Redação Jornal de Brasília

23/06/2021 10h51

Foto: Agência Brasil

Vinícius Torres Freire
São Paulo, SP

Prefeitura e estado de São Paulo têm versões diferentes sobre o “apagão” de vacinas na cidade de São Paulo. A Prefeitura de São Paulo diz que faltou dose para vacinar o restante do grupo de pessoas de 50 a 59 anos na “repescagem” de segunda-feira (21). O governo do estado de São Paulo diz que o problema não foi bem esse.

O estado afirma que mantém seu cronograma de dar a dose 1 a todos os adultos até 15 de setembro e “trabalha para antecipar esse objetivo”. A prefeitura diz que segue o ritmo definido pelo governo estadual. Segundo seu plano oficial, havendo doses, vacina pessoas de 18 e 19 anos em 13 de setembro. Escalou as pessoas de 49 anos para que se vacinem na quarta (23), as de 48 anos na quinta (24) e assim por diante. Segundo dados disponíveis até o começo da tarde desta terça (22), 50,5% dos adultos da cidade de São Paulo haviam tomado a dose 1.

Nesta segunda e na terça, o estado aplicou 334 mil doses por dia (na capital, não houve vacinação na terça). A média do estado na semana passada (segunda a sábado) foi de 388 mil doses por dia. No restante do estado, portanto, a vacinação continuou no ritmo acelerado da semana anterior.

De mais objetivo na controvérsia do apagão de vacinas, a prefeitura conta que teve cerca de 668 mil doses para aplicar na semana passada (350 mil que tinha em “estoque” e outras 318 mil que recebeu de terça a sábado). No sábado, restavam 59 mil. Na segunda-feira, cerca de 50 mil. Até então, quase 265 mil pessoas na casa dos 50 anos de idade não haviam tomado a primeira dose de imunizante contra a Covid-19 na cidade, embora essa estimativa não seja precisa. Dado o estoque que a prefeitura dizia ter na segunda, não seria possível dar injeções em todo mundo caso todos os cinquentões aparecessem nos postos.

A estimativa da população é feita por instituições como o IBGE e o Seade, instituto de estatísticas paulista. É uma projeção baseada em dados de nascimentos, mortes, pesquisas por amostragem etc. (o último Censo foi realizado em 2010). As estimativas de IBGE e Seade divergem. Para o IBGE, a população paulista é 1,76 milhão maior do que a estimada pelo Seade. Apenas no grupo de 18 anos ou mais, a diferença é de 988 mil pessoas. No grupo de 50 a 59 anos, de cerca de 116 mil pessoas.

Para dificultar a conta da população ainda a ser vacinada em uma cidade como São Paulo, por algumas semanas residentes de outros municípios tomaram vacina na capital paulista. Ainda assim, essa diferença de projeções explicaria apenas parte da escassez desta semana. Enfim, a prefeitura usa dados do Seade para fazer suas contas de cobertura vacinal (qual a proporção de pessoas vacinada em cada grupo). O estado segue o IBGE em seu planejamento, na linha do Programa Nacional de Imunização.

O secretário-executivo da Secretaria Estadual de Saúde, Eduardo Ribeiro, diz que a falta de doses se deveu a dois fatores maiores: 1) a “grande eficácia” da prefeitura em vacinar e o grande comparecimento da população; 2) falta de uma “sobra” no total de doses. Abaixo de um certo número total de doses disponíveis na cidade, os imunizantes podem se esgotar mais rapidamente em certos postos, o que exige a redistribuição das vacinas. Esse remanejamento entre quase 500 locais de vacinação nem sempre pode ser feito de modo rápido se faltar vacina em muitos postos.

Segundo Ribeiro, essa “sobra” precisa ser maior na capital

Mesmo com a escassez, até segunda-feira cerca de 86% das pessoas de 50 a 59 anos havia recebido a primeira dose (parte delas já fora sido vacinadas antes, por terem sido incluídas em outros grupos prioritários).

A prefeitura, como se sabe, disse que alertou o governo estadual da escassez já no sábado. Na segunda-feira de noite, teria sido informada pela cúpula da Secretaria de Saúde estadual que “estavam procurando” vacinas em outras cidades. A prefeitura se queixa de que não recebe “números claros” do estado, que por vezes sabe de planos estaduais “pela imprensa”.

Vai faltar vacina de agora em diante? Até segunda-feira, o ministério da Saúde afirmava que havia enviado 29,82 milhões de doses para o estado de São Paulo. Na conta do estado, seriam 28,88 milhões, mas Ribeiro diz que essa discrepância pode ser um problema burocrático de registros. Até segunda, São Paulo aplicara 22,08 milhões de doses.

Haveria, pois, pelo menos 6 milhões de doses que não foram aplicadas. Está sobrando?

Parte dessas 6 milhões de doses já pode ter sido aplicada pelas cidades, que ainda não teriam registrado oficialmente que deram a injeção. Parte está em uma reserva, uma margem de segurança, a depender de cada município. Outra parte é “guardada” para a aplicação de parte das segundas doses devidas.

A quantidade reservada para a dose 2, diz Ribeiro, segue a indicação do governo federal, da coordenação do Plano Nacional de Imunização, que estima quantas doses devem ser “guardadas”. Segundo Ribeiro, estão “guardados” de 3 milhões de doses de AstraZeneca, pouco mais de 100 mil de Coronavac e nenhuma de Pfizer (isto é, espera-se dar a segunda dose de Pfizer com remessas futuras).

Pelos dados levantados pela Folha até dia 13 de junho, o estado de São Paulo “devia” então a aplicação de mais de 6 milhões de doses. No entanto, a data de vencimento de boa parte dessa “dívida” de doses 2 é distante (até três meses, dado o intervalo de aplicação dos produtos de AstraZeneca e Pfizer, de 12 semanas).

Essa “dívida” de doses 2 ainda vai aumentar. Mas, a partir de 23 de junho, todas as doses 2 de AstraZeneca e Pfizer serão “devidas” depois do dia 15 de setembro, quando o governo estadual espera ter concluído a aplicação de doses 1. No plano estadual, haveria vacina tanto para as doses 2 devidas como para vacinar 100% dos adultos com dose 1 até 15 de setembro.

Segundo Ribeiro, o governo estadual vai enviar doses suficientes para atender os grupos que serão vacinados nas próximas semanas na cidade de São Paulo, levando em consideração a população dessas faixas etárias e reservas para remanejamentos (e desde que o cronograma federal seja cumprido).

Já houve frustração grande desse calendário, embora a taxa de descumprimento venha diminuindo. Ribeiro diz que o governo estadual trabalhou com uma “margem de falha” quando estipulou sua meta de 15 de setembro. Ou seja, o plano paulista depende do cumprimento do cronograma federal, mas já trabalharia com uma “margem” de erro negativa.

Um integrante da cúpula do governo paulista disse a este jornalista, no sábado passado, que “brevemente poderia haver boas notícias”, pois estuda uma nova antecipação da data dessa meta, dado o sucesso da vacinação no estado e a perspectiva mais segura de chegarem mais doses, de Pfizer em particular. Ribeiro disse que “trabalha dia e noite para antecipar a meta”, mas diz que não tem como afirmar nada agora, embora “brevemente” (disse também) possa haver boas notícias.

As informações são da FolhaPress

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