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Brasil

Diretora da Anvisa defende parceria para acelerar produção de vacina contra varíola dos macacos

Nesta quinta-feira (25), a agência autorizou o Ministério da Saúde a importar a vacina do laboratório Bavarian Nordic

FolhaPress

26/08/2022 20h20

Thaísa Oliveira
Brasília, DF

Relatora da liberação da vacina contra a varíola dos macacos na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a diretora Meiruze Freitas afirmou à reportagem nesta sexta-feira (26) que os países precisam trabalhar em conjunto e pensar em uma estratégia para aumentar rapidamente a produção do imunizante.

Nesta quinta-feira (25), a agência autorizou o Ministério da Saúde a importar a vacina do laboratório Bavarian Nordic, já aprovada em outros países, diante do cenário de emergência de saúde pública internacional. A decisão vale também para o antiviral Tecovirimat, que será usado em pacientes graves.

“Os países precisam se preparar cada vez mais e trabalhar em conjunto para enfrentar as doenças emergentes e reemergentes, facilitando o desenvolvimento de imunobiológicos, de vacinas… É preciso trabalho conjunto para que o dado avaliado em um país seja utilizado por outro país. Os dados devem ser transparentes, acessíveis”, afirmou.

A diretora da Anvisa avalia ainda que, além da vacina, a população precisa ter acesso ao maior número de informações, principalmente sobre as formas de transmissão da varíola dos macacos. “Eu acho que, hoje, a medida adicional é informação. Informação clara, objetiva, em linguagem de fácil acesso”, diz.

“O que a gente percebe é que as medidas essenciais de higienização permanecem para qualquer doença infectocontagiosa, e isso vale para essa doença também. Os especialistas ainda discutem se há a necessidade de medidas mais restritivas, mas a gente ainda não viu isso em outros países.”

ENTENDA O QUE SE SABE SOBRE A VACINAÇÃO CONTRA A VARÍOLA DOS MACACOS

Qual vacina será usada no Brasil?
A Anvisa liberou a importação e o uso da vacina de vírus não replicante fabricada pelo laboratório Bavarian Nordic A/S, da Dinamarca. Apesar de ser o mesmo produto, o imunizante é chamado de Jynneos nos Estados Unidos e Imvanex na Europa.

O imunizante foi desenvolvido inicialmente para o controle da varíola, mas também demonstrou eficácia contra a varíola dos macacos. “Devido às semelhanças dos vírus e a estudos feitos em animais, percebeu-se que essa vacina pode ter uma boa resposta também contra a monkeypox. As autoridades fizeram a extensão do uso considerando os dados avaliados”, afirma Freitas.

Quem receberá a vacina?
A Anvisa liberou a aplicação do imunizante em adultos com 18 anos ou mais, sem restrições. O Ministério da Saúde afirma, no entanto, que, neste momento, a vacina será destinada apenas a profissionais de saúde que manipulam as amostras recolhidas de pacientes e pessoas que tiveram contato direto com doentes.

Há alguma vacina aprovada para crianças no país?
Não. Meiruze Freitas afirma, no entanto, que novos dados podem surgir. “Eu diria que o momento é muito incerto. Hoje, o que a gente tem nos relatórios é a indicação de uso para pessoas acima de 18 anos, mas isso também pode ser maleável, a depender de dados que forem surgindo.”

Quantas doses foram compradas?
O Ministério da Saúde comprou 50 mil doses da vacina por meio da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), braço da OMS (Organização Mundial da Saúde) nas Américas. A entidade está coordenando a compra junto ao fabricante, de forma global, para facilitar o acesso à vacina dos países com casos confirmados da doença. O ministério afirma que segue em tratativas para adquirir mais doses.

Quando começará a vacinação no Brasil?
O Ministério da Saúde espera receber 20 mil das 50 mil doses compradas em setembro e o restante em outubro. A pasta não informou quando pretende iniciar a vacinação do público-alvo.

O que pode levar à revogação da liberação da vacina?
Meiruze Freitas explica que o Ministério da Saúde é obrigado a monitorar a reação das pessoas à vacina e a reportar eventuais problemas.

“Nós estamos falando de um produto que, inicialmente, foi desenvolvido para ser utilizado quase em condições de uma doença rara. Não eram tantas pessoas expostas a esse produto. Agora, com a varíola dos macacos, o mundo começou a ter mais pessoas expostas.

A partir do momento em que mais pessoas são expostas ao produto [a vacina], a gente pode verificar se haverá alguma reação adversa desconhecida ou grave que nos obrigue a fazer uma intervenção.”

A liberação da Anvisa vale por seis meses. O que acontecerá depois?
A diretora da Anvisa afirma que se nenhuma empresa pedir o registro definitivo de uma vacina ou a autorização de uso emergencial em seis meses, o Ministério da Saúde pode submeter à Anvisa um pedido de prorrogação do prazo.

“O Ministério vai nos apresentar um relatório de monitoramento do produto no Brasil. Mostrou eficiência? Reduziu o número de casos? Foi seguro? Não tivemos o aparecimento de reações adversas, desconhecidas ou de risco? Se o cenário epidemiológico permanecer o mesmo, a Anvisa pode prorrogar o prazo”, explica.

Quem teve varíola dos macacos poderá tomar a vacina?
Meiruze Freitas afirma que “a lógica é pensar que sim”. “Não existem tantas informações sobre isso. A princípio, acredita-se que quem teve varíola dos macacos tem imunidade natural por um período, mas ainda não se sabe por quanto tempo.

Lá atrás, quem teve varíola depois também tomou a vacina da varíola. Então, não dá para falar que quem teve varíola dos macacos está isento da necessidade de tomar a vacina. Vamos ter que acompanhar ainda.”

Quem tomou a vacina da varíola no passado poderá tomar agora?
“Não existe nenhum impeditivo. Pela lógica, também utilizando o mesmo princípio da razoabilidade, acredita-se que quem tomou a vacina contra a varíola no passado também teria uma proteção cruzada [para varíola dos macacos], mas nós não sabemos por quanto tempo.

O que chama atenção é que a maioria das pessoas infectadas inicialmente tem abaixo de 40 anos. E essas pessoas abaixo de 40 anos nasceram numa época em que a varíola estava erradicada e, por isso, não foram vacinadas. A gente teria que ter um estudo para falar que isso realmente acontece, mas há um forte indicativo.”

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