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Brasil

Com seca extrema, água retirada do Cantareira é quase o triplo do que entra no sistema

De julho a setembro, segundo dados fornecidos pela empresa, a relação é de 22,7 m³ por segundo de água retirada a cada 8,5 m³ por segundo

FolhaPress

01/10/2021 12h54

Foto: Divulgação/Sabesp

Mariana Zylberkan

A seca extrema registrada na região metropolitana de São Paulo fez com que a água retirada do Cantareira pela Sabesp nos últimos meses representasse quase o triplo do volume que entra no sistema. O nível do reservatório já é o menor em pelo menos cinco anos. De julho a setembro, segundo dados fornecidos pela empresa, a relação é de 22,7 m³ por segundo de água retirada a cada 8,5 m³ por segundo de água que entra no reservatório.

Nos mesmos meses de 2013, período que antecedeu a crise hídrica na região metropolitana de São Paulo, a média de produção de água no Cantareira era de 15,5 m³ por segundo, quase o dobro da atual. Nesse ritmo, o Cantareira, que abastece 7 milhões de pessoas por dia, está prestes a atingir a chamada faixa de restrição dois meses antes do previsto.

Segundo contrato de outorga da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), quando o sistema entra na faixa de restrição -isto é, quando o volume de armazenamento chega a 30%-, a empresa é obrigada a reduzir a captação de água para evitar o desabastecimento. Pelas previsões do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), o patamar de 30% da capacidade do Cantareira seria atingido somente no fim do ano.

Nesta quinta-feira (30), porém, o reservatório já bateu 30,3% de sua capacidade, o menor volume de água armazenada desde o início de março de 2016, quando o nível do sistema estava em 30,2%. De acordo com o presidente da Sabesp, Benedito Braga, a alta captação em comparação com a baixa produção de água é normal para o período de estiagem e não representa problemas. “A lógica de funcionamento do reservatório é exatamente armazenar em tempos chuvosos para ter água nos tempos secos”, diz.

Braga admite que a seca atual é extrema. De acordo com ele, a média de água que entrou no Cantareira em setembro deste ano está 32% abaixo da média histórica, mas não há iminência de uma crise hídrica. “Não há perspectiva de crise hídrica até o final da primavera e início do verão. Está prevista uma semana chuvosa a partir de domingo”, diz. “A situação é avaliada pela Sabesp semana a semana. “

Segundo Pedro Cortês, professor de pós-graduação em ciência ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da USP, a relação atual entre a quantidade de água retirada e produzida é preocupante. “Conforme os prognósticos climáticos alertaram, a crise hídrica está avançando em São Paulo”, diz. “Hoje, temos cerca de 21% menos água armazenada do que na mesma época em 2013, ano que antecedeu a crise hídrica”, afirma Cortês.

O especialista alerta que os sistemas Cantareira e Alto Tietê, que abastecem grande parte da região metropolitana de São Paulo, serão ainda mais afetados até o verão, período em que está prevista estiagem. A Sabesp tem captado água abaixo do volume permitido desde o começo deste ano como uma forma “de ter maior segurança”, segundo o presidente da companhia. Ao atingir 30% da capacidade do reservatório, a regra é reduzir a vazão de 27 m³ por segundo para 23 m³ por segundo, mas a empresa admite que tem retirado água em ritmo mais lento antes mesmo do marco definido pela outorga.

Em nota, a Sabesp afirmou que “a retirada atual tem sido de 23 m³/s, inferior ao limite máximo, o que é possível graças à integração com os demais sistemas”. A redução na captação de água afeta diretamente o abastecimento de algumas regiões da cidade. Há alguns meses têm sido recorrentes as reclamações de falta de água, principalmente à noite e durante a madrugada, quando habitualmente a Sabesp reduz a pressão nos canos.

Há cerca de duas semanas, a Sabesp aumentou o tempo de redução da pressão nos canos, estratégia adotada para evitar vazamentos durante a madrugada quando a demanda do sistema é menor. A redução que antes ocorria a partir das 23h diariamente passou a ocorrer das 21h em diante. “É uma medida de precaução e não está ligada à crise hídrica”, diz o presidente da Sabesp.

Para José Faggian, presidente do Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo), o fato de a Sabesp não assumir o cenário de crise hídrica, apesar de tomar medidas de contenção, pode refletir uma preocupação com os investidores. “A Sabesp é uma empresa que tem ações na Bolsa e, por isso, muito sensível a notícias negativas”, diz.

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