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Brasil

Com Covid e gripe, espera em prontos-socorros chega a 6 horas em São Paulo

Foram 282 atendimentos por hora, em média. Do total de atendidos, 11.585 tinham quadro suspeito de Covid, o equivalente a 57%

FolhaPress

04/01/2022 22h09

Foto: Agência Brasília

Mariana Zylberkan, Isabela Palhares e Isabella Menon
São Paulo, SP

A espera por atendimento em prontos-socorros públicos e privados na capital paulista é de até seis horas como consequência da epidemia de influenza e do aumento de casos de Covid-19. Somente nos três primeiros dias do ano, 20.333 pessoas com sintomas respiratórios foram atendidas na rede municipal de saúde. Foram 282 atendimentos por hora, em média. Do total de atendidos, 11.585 tinham quadro suspeito de Covid, o equivalente a 57%.

A reportagem percorreu nove endereços nas zonas sul, leste e oeste de São Paulo nesta terça-feira (4) e encontrou salas de espera lotadas de pacientes com sintomas gripais. A situação em hospitais particulares era tão caótica quanto a registrada em postos de saúde. Alguns estabelecimentos privados tinham falta de cuidado em separar pacientes com sintomas gripais dos demais.

A estudante de medicina Larissa Valência, 23, estava enrolada em um edredom vermelho havia quatro horas à espera de atendimento no pronto-socorro da unidade do hospital São Luiz no Anália Franco, na zona leste. “Estou com tontura de tanta dor no corpo”, disse.

Ela acredita que foi infectada pela mãe, que passou o fim de ano isolada da família após ter sido diagnosticada com o vírus influenza H3N2. “Tomamos todos os cuidados, mas acho que acabei pegando também”, disse a estudante.

O hospital particular destinou uma sala de espera apenas para receber os pacientes com sintomas gripais e isolá-los dos demais. As cadeiras não eram suficientes e muita gente teve que esperar em pé.

Na unidade Morumbi do hospital São Luiz, na zona oeste, os sinais da alta procura de pacientes eram visíveis já na rua, onde uma fila de carros aguardava para entrar no estacionamento. Lá dentro, o tempo de espera para uma consulta médica era de 3 a 4 horas.

De acordo com funcionários do local e pessoas que aguardavam o atendimento, os pacientes com sintomas gripais não estavam isolados.

A bancária Caroline de Almeida Oliveira, 37, desistiu de aguardar sua vez. Após uma viagem à praia, ela começou a apresentar sintomas da Covid-19 e decidiu procurar o pronto-socorro. Agora, ela afirma que vai fazer o teste rápido em uma farmácia e tratar os sintomas com analgésicos. A rede hospitalar foi procurada pela reportagem, mas não respondeu aos questionamentos.

Mesmo saguão lotado foi visto no hospital particular Vitória, na zona leste. A paciente Priscila Teixeira foi chamada para ser atendida por volta das 14h após ter chegado ao pronto-socorro às 10h. “Estou com muita dor nas costas. Minha filha e meu marido também estão doentes”, disse.

Procurado, o hospital Vitória afirmou seguir protocolos de atendimento e que aumentou o quadro de médicos diante do aumento de 28,8% nos atendimentos em comparação aos meses de novembro e dezembro.

Outro hospital particular visitado foi o Santa Paula, na zona oeste, onde a espera era de seis horas para atendimento no pronto-socorro. O estabelecimento criou uma senha específica para os pacientes com queixa de sintomas gripais, mas não havia a separação física dos demais na sala de espera.

Em nota, o hospital afirmou que a demanda de paciente com sintomas respiratórios aumentou 268% em dezembro em comparação com novembro e, por isso, a espera aumentou.

Na rede pública, havia também bastante gente para ser atendida, mas o tempo de espera era relativamente menor em algumas unidades. Na AMA Água Rasa, na zona leste, a previsão era de duas horas de espera, e os pacientes com sintomas gripais eram direcionados a uma área externa.

O autônomo Marcelo Carraro, 53, estava à espera de consulta com a filha Pamela Carraro, 23, após a mulher ter sido diagnosticada com Covid-19 logo depois do Natal. “A família toda está com sintomas”, afirmou.

Na AMA Paraisópolis, na zona sul, uma tenda com cadeiras foi separada para os pacientes com sintomas gripais. Lá, o tempo de espera era de cerca de duas horas.

Na AMA Sorocabana, na Lapa, na zona oeste, não havia nem cadeira para todos os pacientes esperarem atendimento. Muitos estavam de pé, alguns chegaram a sentar no chão. A auxiliar de limpeza Verônica do Carmo, 44, chegou às 8h na unidade e até as 13h ainda não tinha sequer passado pela triagem.

Era o segundo dia consecutivo que ela tentava atendimento devido aos sintomas de gripe. Na segunda (3), ela esperou três horas por atendimento em outro posto de saúde, mas desistiu. “Eu estava tão cansada e com febre tão alta que não consegui esperar. Fui trabalhar hoje, mas meu patrão me dispensou porque viu que eu estava muito doente.”

Na Freguesia do Ó, na zona norte, os pacientes aguardavam mais de quatro horas na AMA Vila Palmeiras. Sem sintomas, Isabelle de Melo, 22, procurou atendimento médico depois de todos em sua família terem testado positivo para Covid. Ela queria fazer um teste para não ter que ir trabalhar presencialmente. “É a terceira unidade de saúde que eu busco, todas estão com espera de mais de quatro horas e nem garantem que vão me testar porque estou assintomática”, afirmou.

Na Ama Boracea, na Barra Funda, o tempo de espera para passar pela triagem era de cerca de 30 minutos na manhã desta terça (4). Só depois da primeira avaliação os pacientes eram informados se seriam testados e encaminhados para atendimento médico.

Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde disse que iniciou em dezembro o atendimento de pessoas com sintomas gripais sem necessidade de agendamento nas 469 UBS. Foram instaladas tendas nas unidades com maior número de atendimentos para agilizar a triagem.

A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) não informou, porém, se pretende adotar mais medidas para reduzir o tempo de atendimento diante da nova alta da demanda neste início de ano.

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