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Mulher fica 13 dias presa por engano

“Fui presa por algo que não cometi. Ninguém quis me ouvir. Fiquei 13 dias vivendo o meu pior pesadelo”, disse a mulher

Redação Jornal de Brasília

21/02/2020 15h08

A autônoma Arlete dos Reis Guimarães, de 38 anos, ficou 13 dias presa injustamente. Arlete era suspeita de associação ao tráfico, mas a moradora de São Vicente, teve  a inocência comprovada depois do delegado encontrar um erro no número de celular e concluir que a mulher não era a dona de uma número de telefone suspeito. 

“Fui presa por algo que não cometi. Ninguém quis me ouvir. Fiquei 13 dias vivendo o meu pior pesadelo”, disse Arlete. 

Durante a operação Terabyte, a mulher foi presa junto com outras sete pessoas. Em uma entrevista ela lembrou que a prisão ocorreu na manhã do dia 22 de novembro do ano passado, quando a polícia chegou na casa da mãe dela. “Ela passou por uma situação muito constrangedora, porque a fizeram trazê-los até a minha casa. Sem entender, assustada, ela veio”, conta.

Após chegar na casa da vítima, Arlete disse que não sabia do que se tratava, só viu sua mãe junto sem entender. A cada da autônoma foi toda revistada e ela foi informada que precisaria prestar depoimento na delegacia. 

“Eu questionei se eles tinham algum documento para me levar, foi quando um deles me mostrou um mandado de prisão. Fiquei assustada. Eles falaram que tinham a ver com alguns depósitos e eu não estava entendendo nada”, relembra.

Na viatura a mulher foi informada que seria levada até Itanhaém. Já na delegacia, Arlete foi informada que seria presa. 

“Na minha família não tem gente bandida, é todo mundo trabalhador. Sou autônoma, trabalho por conta própria. Entrei em desespero quando recebi a notícia da prisão e expliquei que tinha trocado de operadora e chip em setembro, então que poderia ter ocorrido um engano, porque a investigação já era realizada há quatro meses e eu fui presa em novembro, ou seja, dois meses depois que adquiri o chip”, explicou.

Arlete explicou que sua versão não foi considerada. Passou por exame de corpo de delito e foi encaminhada à Cadeia Pública Feminina, em São Vicente. 

“Eu disse que não era a minha voz na ligação que eles tinham interceptado, mas não acreditaram. Só me soltaram de tanto que minha advogada insistiu e reuniu provas. Depois dos 13 dias, o delegado disse que o sistema atualizou e que um dígito do celular estava errado, que eu realmente era inocente. Essa mulher investigada existia, mas não era eu, porém ninguém acreditou em mim”, diz.

A vítima explicou que os dias na cadeia prejudicaram o ambiente familiar e seu psicológico. “Trabalho honestamente a minha vida toda para ter que passar 13 dias de terror. Nunca vou esquecer disso, é um trauma. É dolorido ser acusada injustamente, ainda mais porque não me deram o direito de falar. Ninguém me ouviu. Meu marido ficou 13 dias sem trabalhar e minha mãe em uma depressão”.

Arlete disse que deve entrar com um processo contra o Estado, para que os danos sejam reparados. 

“Quero saber de onde partiu esse erro. Só tenho a certeza de que sou inocente e fui presa injustamente. Trabalho com comidas fitness e isso me prejudicou, porque clientes não conseguiam falar comigo e fui dada como criminosa. Agora tento me recuperar. São dias difíceis, mas tenho que seguir em frente”, finalizo.

Polícia Civil

A policia explicou que a investigação ocorreu meses antes da prisão ser realizada, baseada no IMEI do aparelho e na voz da mulher investigada, que, segundo o delegado, era muito parecido com a da autônoma.  

“O número de IMEI forneceu um número de telefone que a princípio, era o dela. No entanto, quando é feito o painel do vigia, que é o sistema que a gente identifica as linhas pelo IMEI, tem uma demora. Posteriormente, quando consultamos novamente, vimos que houve o erro em um dos números do telefone. O telefone dela com o da investigada verdadeira só muda o número 1”, relata.

Quando a Policia Civil descobriu que prendeu a pessoa errada, relatou ao juiz e pediu a soltura imediata da vítima.  “Trabalho com interceptação há 10 anos e isso é muito raro de acontecer. A partir do momento que vi que ela poderia ser inocente, corri atrás de informações que confirmassem a veracidade disso, porque não podemos ignorar uma investigação de meses e não ter subsídios para mostrar ao juiz que ela realmente era inocente”, finaliza.

Uma nota da Secretaria de Segurança Pública (SSP) afirmou que o pedido de prisão foi feito baseado na lei 7.960/19 e decretado pela Justiça. Os outros sete detentos continuam presos. 

Defesa

A advogada Angela Regina Monfardini, de Arlete dos Reis, disse que nçao conseguia acreditar no que aconteceu, principalmente porque a mulher sempre trabalhou. 

“Familiares me procuraram após o ocorrido e fui entender o caso. Ela me explicou que era inocente e fiz pedido da revogação da prisão dela por três vezes. Em todas, os pedidos foram indeferidos”, destaca.

Angela explicou que durante os 13 dias esteve em contato com a DISE, correndo atrás de provas que demonstrassem a inocência de Arlete. “Até que consegui o documento que me autorizava ir na operadora e puxar o extrato das ligações realizadas por ela. Ali vi que nas ligações feitas pela Arlete não constava as ligações que a DISE investigava”, afirma.

Desde o início, a autônoma autorizou o desbloqueio de seu celular, para que ele fosse vasculhado e colocou-se à disposição para contribuir com as investigações. 

“Foi um erro de sistema, um caso inusitado.Tanto que nos três pedidos que fiz o juiz não foi favorável a liberdade dela. Esse erro de sistema poderia ter acontecido com qualquer um, porque ela comprou esse chip na rua. É uma situação muito difícil para quem é inocente e acaba preso injustamente”, finaliza a advogada.

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