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Idosa perde R$ 19 milhões por acreditar que estava com demônio no corpo

Vidente enganou Vera Pratt durante sete anos

Redação Jornal de Brasília

03/11/2021 12h56

Uma idosa que acreditou estar possuída durante anos perdeu 3,5 milhões de dólares (equivalentes a 19 milhões de reais) para uma falsa vidente. O caso foi divulgado nesta semana.

A americana Vera Pratt fez “tratamento” com a golpista durante sete anos. A falsa vidente conseguiu manter a vítima sob controle: afastou ela de família e amigos e tomou-lhe os cartões de crédito, dentre outras ações.

Vera Pratt morreu em 2018 e fazia parte da geração que vivia do dinheiro ganho por Charles Pratt, sócio de John D. Rockefeller na Standard Oil Company. Vera acreditava que ela mesma era um pouco bruxa, e se convenceu de que as coisas que aconteceram com ela desde que completara 70 anos eram coisas do diabo. Foi então que encontrou um anúncio de uma mulher da Flórida que se anunciava como Psychic Angela, ou seja, a Vidente Angela Johnson —que, na verdade, se chamava Sally Reed, afirmava pertencer aos ciganos norte-americanos e vendia serviços de leitura de cartas, limpeza espiritual, cura e meditação.

Já em sua primeira conversa, em 2006, a vidente deve ter intuído que tinha um negócio de longo prazo nas mãos. Começou um tratamento que duraria mais de sete anos. Johnson lhe dizia que passava horas inteiras, do dia e da noite, exorcizando os demônios de Pratt, e cobrava pelo tempo dedicado, é claro. Dava-lhe instruções por telefone para colocar cristais e incenso em casa para conter a energia negativa, rezar e meditar.

Como os demônios aparentemente persistiam, a vidente convenceu-a de que era necessário que se encontrassem. Johnson começou a fazer viagens regulares da Flórida a Martha’s Vineyard. É claro que Pratt pagava a passagem aérea e a estadia no Harbor View Hotel, onde a noite custa cerca de 500 dólares.

Em 2011, quando Pratt já havia pagado centenas de milhares de dólares à vidente, notou que tinha pouco dinheiro na conta. Em um e-mail que escreveu a Johnson, ela disse: “Não tinha olhado quanto eu te dava”. E em seu diário escreveu, com a despreocupação de quem nunca perdeu o sono por causa de dinheiro: “O que você me pede para lidar com demônios é muito. Pelo visto, estou ficando sem fundos”. Enquanto isso, a vida financeira de Johnson ia muito bem. Morava em uma casa de meio milhão de dólares na Flórida e tinha outro apartamento em Nova York, no Flatiron District. Graças ao cartão de Pratt, que usava à vontade, podia comprar bolsas Celine e Chanel, além de sapatos Louboutin e Yves Saint Laurent.

A família de Pratt começou a se preocupar com a relação com a vidente, especialmente depois que Pratt pediu dinheiro ao seu irmão Charles. Eles a viam cada vez menos, porque Johnson fez algo muito comum nesses tipos de golpes de manipulação: convencer o cliente de que sua família e amigos eram más influências para sua aura.

Seu irmão Peter escreveu-lhe: “Infelizmente isso já aconteceu antes e acontecerá novamente, porque sua curandeira te pede mais dinheiro à medida que você fica mais viciada nela. Embora você ache que esta é especial, está custando muito dinheiro. Espero que você procure uma segunda opinião antes que isso te custe todos os teus amigos, família, casa e propriedades”.

Finalmente, depois de fazer algumas verificações no banco, uma das afilhadas de Pratt levou o caso à polícia. Como Martha’s Vineyard é um lugar pequeno, descobriu-se que o detetive designado para o caso, Sean Slavin, era vizinho de Pratt e tinha visto a mulher trabalhando no jardim. Ele foi visitá-la e ficou surpreso com a desordem na casa.

Pratt admitiu ter gasto cerca de 15.000 com uma vidente. Na verdade o valor era de três milhões e meio.

Aí começou uma investigação para tentar condenar a vidente por fraude. A defesa de Johnson alegou, entre outras coisas, liberdade religiosa. Apontou que quem via tudo aquilo como uma fraude não compartilhava as crenças de Pratt e Johnson.

Apesar da insistência de Sean Slavin, o caso não pôde prosseguir porque a legislação norte-americana tem uma lacuna nesses casos, o que permite que muitos videntes e similares escapem impunes. O que o FBI conseguiu fazer foi iniciar uma investigação fiscal em relação a Johnson, que declarava ganhar 4.000 dólares por ano. Na verdade, em muitos meses Pratt enviava-lhe até 50.000.

A essa altura, a família já havia conseguido cortar o vínculo entre ambas, embora a vidente não tenha deixado ir de qualquer maneira sua cliente mais lucrativa. Passou a ligar para ela até que tiveram de mudar o número da casa. A demência que Pratt já sofria começou a se acelerar e ela foi para uma casa de repouso.

Em 2018, um tribunal da Flórida condenou Johnson a devolver 3.567.300 à vítima e outros 800.000 ao fisco, e condenou-a a 26 meses de prisão. Vera Pratt já estava com a saúde muito deteriorada para saber disso. Morreu um mês depois, com 82 anos. Com informações do portal Pragmatismo Político

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