Uma floresta de guindastes e poluição, Pequim corre para que tudo esteja pronto a tempo e a China consiga organizar os melhores Jogos da era moderna. Desde 2001, quando foi escolhida como sede olímpica, a cidade vem trabalhando nos preparativos. As obras foram lentas e silenciosas nos primeiros anos, mas atualmente o ritmo é frenético.
Tudo parece girar em torno da competição, desde as simulações de ataques terroristas da Polícia até as campanhas cívicas para que os moradores não furem filas nem cuspam no chão. A cidade está coberta de logotipos olímpicos e relógios que marcam a contagem regressiva. Ao mesmo tempo, arranha-céus se erguem onde havia bairros antigos.
Depois do mal-estar em Atenas, em 2004, onde os estádios só ficaram prontos na última hora, Pequim tenta não repetir o erro. Já estão finalizadas todas as 20 novas instalações esportivas.
Os Jogos já construíram uma imagem muito nítida, com grandes símbolos arquitetônicos, entre eles o estádio de atletismo, conhecido como “o Ninho”. Eles se misturam a detalhes orientalistas que vão desde o emblema olímpico, imitando antigos selos dos calígrafos, às cinco mascotes, cheias de simbologia tradicional.
Técnicos de todo o mundo em informática, cronometragem de corridas, telecomunicações e logística finalizam centenas de detalhes para o maior evento esportivo do planeta.
As primeiras inquietações vêm da dificuldade de coordenação e comunicação dos técnicos estrangeiros com os colegas chineses.
“Além do problema do idioma, enfrentamos a burocracia. Quando há um problema ou imprevisto, você nunca lida com quem pode resolver, e sim com um subalterno, que só atua seguindo ordens”, queixou-se uma espanhola que trabalha nos sistemas de informática do Comitê Organizador.
O Comitê Olímpico Internacional (COI), preocupado com a descoordenação, garante publicamente, porém, que em Pequim tudo ficará pronto a tempo e haverá sucesso de organização. Mesmo reconhecendo que resta muito a resolver.
As maiores preocupações são com o trânsito e a poluição, os dois grandes males de Pequim. Como o resto da China, a capital cresceu demais e de forma caótica.
Nesta época do ano, como sempre, a capital está coberta por uma cinza e úmida camada de poluição. A poeira das obras e a fumaça dos 3 milhões de automóveis que circulam pela cidade contribuem para formar a nuvem escura.
O próprio presidente do COI, Jacques Rogge, reconheceu hoje a gravidade da poluição em Pequim. Ele deixou entrever que o problema pode prejudicar algumas provas esportivas.
“Em esportes de resistência, como ciclismo, nos quais é preciso competir durante seis horas, poderemos ter que adiar as provas”, admitiu.
Pequim reconhece os problemas. Mas, sem tempo para resolver a situação de verdade, terá que recorrer a soluções de curto prazo. Para reduzir os engarrafamentos, proibirá a circulação de um terço dos carros em agosto de 2008. Além disso, tentará conseguir céus azuis bombardeando as nuvens com iodeto de prata e provocando chuvas artificiais.
Uma parte muito importante dos preparativos é o conjunto de campanhas de civismo. Em Pequim, as pessoas costumam mostrar um comportamento rude.
O prefeito Wang Qishan criticou em numerosas ocasiões a atitude de seus concidadãos. E seus conselhos parecem surtir efeito. Nos últimos meses, as pessoas não se empurram tanto para entrar nos vagões dos trens, e aceitam fazer filas.
Mas a principal dor-de-cabeça para o comitê organizador (Bocog) talvez não esteja na cidade, e sim fora do país. Diversas organizações usam os Jogos Olímpicos para criticar constantemente as violações de direitos humanos na China.
À medida que se aproxima a data de início dos Jogos, 8 de agosto de 2008, aumentam os protestos. Esta semana, ativistas das ONGs Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e Estudantes por um Tibete Livre burlaram a segurança e protestaram em dois lugares emblemáticos: a Grande Muralha e a sede do Bocog.
Em Hollywood, artistas como Steven Spielberg, George Clooney e Mia Farrow já desfraldaram a bandeira dos direitos humanos para criticar a China por apoiar ao Governo do Sudão. A atriz chegou a pedir o boicote dos Jogos Olímpicos.