Menu
JBr Literatura
JBr Literatura

JBr Literatura #003 – Entrevista com a escritora Eneida Queiroz

“O erotismo elegante e matemático do poema “A mulher e a casa”, de João Cabral de Mello Neto, a combinação perfeita com a financista Eufrásia”

Gilberto Rios

10/03/2021 10h00

JBr Literatura #003 - Entrevista com a escritora Eneida Queiroz

Eneida Queiroz – Escritora. Foto: Acervo pessoal

Todos nós já lemos um Romance arrebatador, mas apesar da relação que as pessoas fazem com o sentimentalismo e as paixões, a narrativa romântica não está necessariamente ligada a essas características. Um bom romance está ligado às histórias em prosa organizadas em diversas tramas para contar uma ideia principal. Ele apresenta alguns elementos que ajudam a compor esta narrativa, estamos falando do narrador (responsável por contar a história), personagens (sobre quem se conta a história), enredo (o acontecimento e o seu desenrolar), além disso, a história deve acontecer em determinado espaço e tempo.

Eneida Queiroz, mãe e historiadora do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), considera-se uma romancista nas horas vagas. Natural de Niterói – RJ, Eneida cursou graduação e mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Desde 2008, quando se afastou das franjas do mar, morou por 5 anos em Brasília, 4 anos em Bruxelas e retornando para Brasília.

Apreciadora de romances históricos, a nossa entrevistada dedicou-se a dar vida aos personagens e temas dos museus e da história brasileira.
O JBr Literatura convida os leitores para fazer um breve passeio por museus e pela história brasileira por meio de uma excepcional narrativa dos seus romances ambientados no século XIX. O Projeto Histórias Poéticas dos Museus da escritora Eneida de Queiroz nos trás de forma apaixonada, personagens e temas do nosso país. O projeto terminou rendendo 2 romances: A Mulher e a Casa e Úmida Trama.

Em “A mulher e a casa”, o erotismo elegante e matemático do poema “A mulher e a casa”, de João Cabral de Mello Neto, combina-se perfeitamente com a financista Eufrásia Teixeira Leite. Rica e inteligente, esta senhora de escravos desperta uma paixão inconciliável no abolicionista Joaquim Nabuco. O famoso casal vive uma história de amor entre o Brasil e a Europa, com muitas correspondências, viagens e encontros. Amor que só se concretiza quando os dois equalizam as divergências ideológicas e tornam-se um só sentimento, ainda que por pouco tempo. Ao narrar esse amor impossível entre uma escravocrata e um abolicionista no século XIX, A mulher e a casa apresenta a história e o acervo do Museu Casa da Hera. É gancho que fisga o leitor a assuntos como escravidão, abolicionismo, política imperial, cafeicultura, moda e questões de gênero. Destacam-se as cartas que Eufrásia escreveu a Nabuco – hoje guardadas pela Fundação Joaquim Nabuco em Recife – e, como ela pediu para ser enterrada com as cartas que ele a enviou, a recriação ficcional, com base em pesquisa nos diários, jornais e discursos políticos, das cartas de Nabuco.

No livro “Úmida Trama” a escritora nos traz a história de criação dos quadros “A origem do mundo” (Museu d’Orsay), do realista francês Gustave Courbet, e “Leitura” (Pinacoteca de São Paulo), do brasileiro José Ferraz de Almeida Junior. Em épocas de criminalização da arte, quando o corpo nu em museus choca a ponto de grupos pedirem o encerramento de exposições, o livro permite que o leitor conheça os passos dos realistas franceses e brasileiros, que já trabalhavam o nu de forma não idealizada. Dentro do Museu d’Orsay, uma vagina é rasgada com uma faca: a tela “Origem do Mundo”. Um ataque à arte e às mulheres, mote que permite não apenas falar sobre gênero e feminismo, como também narrar as relações entre a história da arte brasileira e a francesa no século XIX.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado