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Música

Cláudio Frêp e a celebração da cultura nacional por meio da arte

Ingrid Costa

15/03/2024 16h16

Foto: Oseias Barbosa

“A pele Cabocla é a que melhor representa a vestimenta de um corpo universal. Liga os extremos do tempo e espaço. Guarda, sente, exala todas as culturas, linguagens, sonhos e medos humanos.” É assim que começa “Manifesto Caboclo”, texto do cantor e compositor Cláudio Frêp que levou ao lançamento de seu EP homônimo.

Fã de MPB e de tudo o que o gênero representa, Cláudio traz provocações acerca da intolerância, do racismo, do machismo e de outras pautas sociais em seus trabalhos e lugares que ocupa. Atualmente, o artista se prepara para as apresentações de lançamento do novo disco, que começaram na última terça (13), em que também trará performances de seus outros três álbuns.

Em entrevista ao Jornal de Brasília, Cláudio Frêp falou sobre suas referências, a importância social da arte e outros projetos para sua carreira. Confira:

Como começou a sua relação com a música?
A música sempre foi uma coisa muito intuitiva e plural em mim, desde criança. Mesmo sem tocar instrumentos, eu já compunha. Comecei a estudar música, piano clássico, violão popular, até que descobri o teatro. Fiquei um bom tempo nas artes cênicas, mas nas peças acabavam me convidando para fazer as composições musicais, ainda de uma maneira muito principiante. Em 2008, retornei a música e lancei meu primeiro álbum, que foi dirigido e produzido pelo Tom da Bahia, e em 2015 e 2019 foi o lançamento dos álbuns seguintes. Até eu estava preparando os shows e a pandemia, então eles acabaram não acontecendo. Aproveitei esse momento e compus as músicas para o Manifesto Caboclo.

Você mencionou o teatro na sua trajetória, o que você aprendeu nas artes cênicas também influencia no seu trabalho como músico?
Sem dúvida. eu acho que o teatro é uma grande escola, sabe? Você se entrega de uma forma, tem toda aquela preocupação de como estar no palco e ocupar o espaço. É algo que não faço há seis anos, mas costumo dizer que você entra no teatro, você sai do teatro, mas o teatro não sai de você. Muitas pessoas me veem no palco e perguntam se sou ator? Elas percebem isso, mesmo eu não sentindo.
Sem dúvida. eu acho que o teatro é uma grande escola, sabe? Você se entrega de uma forma, tem toda aquela preocupação de como estar no palco e ocupar o espaço. É algo que não faço há seis anos, mas costumo dizer que você entra no teatro, você sai do teatro, mas o teatro não sai de você. Muitas pessoas me veem no palco e perguntam se sou ator? Elas percebem isso, mesmo eu não sentindo.

Quais são suas referências como artista?
Na música, o meu segmento é a MPB. Curto Noel Rosa, Caetano Veloso, Gilberto Gil, essa turma toda. Gosto muito também de Clara Nunes, Maria Bethânia, uma diva, né? Elis Regina, incrível. De compositor, o Chico Buarque é minha grande referência, porque você pega as letras dele e nada ali é por acaso. Tem nomes que, quando você fala de MPB já vem eles na cabeça, não tem jeito. É uma riqueza tão grande que considero “MPB” como um selo de qualidade.

Como foi o processo de criação do “Manifesto Caboclo”?
Eu resolvi lançar esse disco porque queria fechar uma fase muito difícil que o país estava passando, sobretudo o pessoal da cultura, de 2018 a 2022. A impressão é que éramos tratados não como trabalhadores da arte, seja música ou seja teatro, mas éramos como vagabundos. Então, nesse período, eu compus músicas muito ligadas a temas recorrentes do nosso dia a dia, como o feminismo, o preconceito, porque muitas coisas ruins saíram do armário e as pessoas começaram a se revelar. Falei dessa divisão ideológica que separou amigos, dividiu famílias e o Brasil, e que não é uma questão só brasileira. Parti desses pontos, mas sempre de uma maneira leve, alegre e festiva como eu gosto.

Qual o papel social da arte para você?
Acho que o papel principal da arte é unir e humanizar as pessoas. Moro perto do Sambódromo e adoro assistir as escolas de samba. Você vai sozinho, não conhece ninguém e logo depois está abraçando e conversando com alguém, tamanha a energia lá. E o que é isso? É a música, a arte, a fantasia e o prazer de estar ali. E a arte é reflexão também, mas tem a forma como se faz. Porque algo panfletário também se torna chato. Você tem que ir levando, conduzindo as pessoas e, elas percebem, pensam “interessante essa mensagem”. A arte é isso, é a própria vida encenada.

Como está a recepção do público com EP?
Essa semana foi meu primeiro show aqui no Rio de Janeiro e a recepção foi muito boa, porque o “Manifesto Caboclo” é uma celebração a cultura brasileira, das nossas raízes, então ele reverbera em diferentes pessoas. Somos todos caboclos. O branco caboclo, o índio caboclo, o negro caboclo, todos. A resistência e a poesia do povo brasileiro no seu dia se revelam através de culturas como funk, maracatu, coco e pop. Falo isso no palco rapidamente e as pessoas entendem a mensagem, o porquê de tanta mistura.

Quais os seus próximos projetos?
Quando a gente lança um trabalho novo, por mais que a gente se prepare, imprevistos acontecem, então ele nunca nas primeiras apresentações como a gente gostaria, porque ele vai amadurecendo. Por isso quer fazer muitos shows para ir afinando a banda, porque é diferente estar sozinho e juntar todos os músicos. Temos três apresentações esse mês e, conforme eles forem acontecendo, quero sentir e respirar um pouco para depois ir pra outros lugares aqui pelo Rio. A ideia também é entrar em editais que começarem a sair e ver se a gente corre pelo Brasil, apareça aí em Brasília.

“Manifesto Caboclo” está disponível nas plataformas de áudio.

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