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Cinema

Identidade e transformações no penúltimo dia da Mostra Competitiva do 57º Festival de Brasília

O último curta do DF na competição, Descamar, foi seguido por Kabuki (SC) e o longa Salomé (PE), que abordam temas de gênero e sexualidade

Tamires Rodrigues

05/12/2024 23h57

Atualizada 06/12/2024 5h28

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Foto: Tamires Rodrigues/Jornal de Brasília

No quinto dia da Mostra Competitiva Nacional do 57º Festival de Brasília de Cinema Brasileiro, realizado nesta quinta-feira (5/12), a programação começou com o curta Descamar, que representou o Distrito Federal na competição, sendo a última produção da região a ser exibida. Em seguida, foi a vez da animação Kabuki (SC), a única produção em stop motion do festival. Para fechar a noite, o longa Salomé (PE), de André Antonio, trouxe uma história impactante às telonas do Cine Brasília.

O curta Descamar é uma obra que conta com uma equipe local do DF e traz a história de Gabi, uma jovem que se vê envolvida em uma experiência desconcertante. Em meio a uma aula escolar, ela começa a sentir dores intensas e inesperadas, até perceber uma substância espessa e vermelha em suas roupas.

Durante entrevista ao Jornal de Brasília, o diretor de Descamar, Nicolau, compartilhou suas reflexões sobre a inspiração por trás do curta e os significados profundos que a produção carrega. A trama, que aborda o medo de crescer e as mudanças corporais enfrentadas pela personagem Gabi, está intimamente ligada à experiência pessoal de Nicolau. O diretor, que se identifica como uma pessoa trans, utiliza o filme para explorar os desafios e os medos vividos durante sua infância e a transição de identidade.

Nicolau explicou que a ideia central do curta surgiu de sua própria vivência, destacando o temor de se tornar quem realmente desejava ser, ainda que não soubesse exatamente como isso se traduziria. “O filme é muito inspirado na minha própria experiência. Eu sou uma pessoa trans, e a história reflete esse medo que senti quando criança, de crescer e virar mocinha, e não poder me tornar aquilo que desejava”, disse. A menarca, ou primeira menstruação, é apresentada no filme como um símbolo de transformação e de perda da infância, algo que marca profundamente a personagem, que, embora cisgênero, enfrenta esse processo de maneira traumática.

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Foto: Tamires Rodrigues/Jornal de Brasília

Em seguida, foi a vez da animação Kabuki, dirigida por Tiago Minamisawa, que recentemente recebeu o prêmio Silver Hugo de Melhor Filme de Animação. O curta conta a história de Kabuki, o protagonista, um homem que vive em um corpo masculino com o qual não se identifica. Em uma busca de autoconhecimento, ele embarca em uma jornada emocional para entender melhor sua identidade e lugar no mundo. A animação é marcada por uma abordagem única, explorando temas de identidade e autodescoberta com um visual impactante e profundo.

Thiago Minamisawa, diretor da animação, compartilhou com o Jbr os principais temas que norteiam o curta, destacando a busca da protagonista pela identidade e o processo de transformação corporal. “O personagem está procurando a sua identidade. Acredito que o corpo é uma construção, e podemos moldá-lo da maneira que quisermos. Porém, existem respostas sociais para essa construção, e a personagem passa por uma jornada para entender as consequências dessa transformação”, explicou.

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Foto: Tamires Rodrigues/Jornal de Brasília

Fechando a noite, foi a vez do longa “Salomé”, do diretor André Antonio. Produzido em Pernambuco, o filme mergulha no universo da mitologia e da psique humana, oferecendo uma releitura da figura de Salomé e sua relação com o poder, o desejo e a perda. O longa foi aplaudido por sua abordagem audaciosa e pela forma como mistura elementos clássicos e modernos, ao mesmo tempo que aborda de maneira intensa e sensível às questões de gênero e identidade que permeiam o enredo.

Em entrevista ao Jornal de Brasília, o diretor André Antônio explicou a escolha de Salomé como protagonista. “Ela é uma figura presente há muito tempo na história da arte ocidental, resgatada por pintores, artistas visuais, escritores e dramaturgos. É um símbolo do passado que pode ser revisitado e reinterpretado”, disse. Para o diretor, Salomé sempre lhe fascinou pela relação com a morte e o desejo. “Ela é a princesa que segura a cabeça do homem de quem estava apaixonada. Uma imagem sangrenta que fala sobre luxúria, desejo sexual e objetificação da pessoa amada.”

André também abordou a ambiguidade da personagem, que, ao contrário de uma heroína, é alguém com caráter vilanesco. “Salomé representa essa contradição, essa figura maldita. Ela traz à tona questões sobre o desejo sexual e a tensão que ele gera, além das repercussões de onde esse desejo pode nos levar.”

O 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro acontece de 30 de novembro a 7 de dezembro no Cine Brasília e em espaços culturais do Gama, Planaltina e Taguatinga. Os ingressos para a mostra competitiva no Cine Brasília custam a partir de R$ 10, enquanto as demais exibições são gratuitas.

SERVIÇO
57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
Data:Até 7 de dezembro
Local: Cine Brasília (106/107 Sul), Cia. Lábios da Lua (Gama), Centro Universitário Estácio (Pistão Sul, Taguatinga) e Complexo Cultural de Planaltina.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) somente para as sessões da Mostra Competitiva Nacional no Cine Brasília. Entrada franca mediante retirada prévia de ingressos para as demais sessões.
Programação completa: festcinebrasilia.com.br

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