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Cinema

O hiperlocal é global, diz chefe de ‘Game of Thrones’ que vai eleger série no Rio2C

Questionado sobre quais tendências vê no mercado de séries para este ano, o executivo não é muito otimista

FolhaPress

11/04/2023 10h28

Foto: Reprodução

Maurício Meireles
São Paulo – SP

O americano David Levine passou uma década na HBO, onde foi diretor de dramaturgia e supervisionou séries como “Westworld”, “Game of Thrones” e “True Detective”. Com esse currículo, ele anda atrás de séries que possam ser hits globais -e, para ter esse sucesso, considera a cor local importante.

“O hiperlocal é o outro global”, diz ele, um dos convidados da nova edição do Rio2C, que começa nesta terça-feira (12), no Rio de Janeiro, e vai até o domingo (16).

“Acho que há três tipos de coisas que podem fazer de uma série um sucesso global. Uma é quando ela consegue criar um universo gigantesco para o qual podemos escapar, a segunda é quando vemos a nós mesmos na história -e a terceira é quando vemos outras pessoas e queremos saber como é ser uma delas.”

Nesse terceiro grupo, ele lembra obras como a série da HBO “A Amiga Genial”, inspirada nos livros de Elena Ferrante, que é falada em dialeto napolitano.

Quem sabe um sucesso desses não pode sair do Brasil? Levine, hoje diretor-chefe de criação da produtora Anonymous Content, é um dos nomes que vai selecionar um projeto de série brasileira a ser contemplado com R$ 30 mil -grana para ser usada no desenvolvimento da proposta.

A Anonymous hoje opera no país por meio de uma joint-venture com a brasileira RT Features, numa iniciativa que tem Bárbara Teixeira como CEO e produtora executiva. Ela, Levine e David Davoli, presidente da divisão internacional da produtora estrangeira, serão os responsáveis por escolher o projeto brasileiro no Rio2C, entre quatro finalistas.

“Passamos a pandemia investindo em desenvolvimento e saímos dela com as primeiras produções acontecendo”, diz Teixeira, sem dar detalhes do que vem por aí. “Fizemos parcerias entre nomes brasileiros e nomes estrangeiros. Temos a voz local com intervenções criativas de nomes muito estrelados no mercado internacional, que nos ajudam a garantir que estejamos contando uma história para o mundo inteiro.”

A RT Features, comandada por Rodrigo Teixeira, é a responsável por produções internacionais como o longa “Me Chame pelo seu Nome”, que venceu o Oscar de melhor roteiro adaptado em 2018 e recebeu quatro indicações ao todo. Mas, na Anonymous Content Brasil, o foco é a TV e o streaming -de olho em uma audiência global.

Sucessos como o da sul-coreana “Round 6”, da Netflix, seriam o sinal de que o público internacional está mais aberto a produtos audiovisuais em línguas sem ser o inglês ou idiomas nacionais?

“Acho que hoje o público está disposto a ver experiências diferentes das suas próprias. A língua não é tanto um obstáculo quanto antes. É por isso que a Netflix em especial tem tido experiências do tipo”, afirma Levine.

Mesmo no mercado americano, que tradicionalmente resiste a obras estrangeiras? “Para a maior parte, a língua ainda é um obstáculo, mas os jovens estão mais abertos.”

Ainda assim, resta a dificuldade de qualquer canal ou serviço de streaming em acertar o que vai fazer sucesso. Há quem aposte no uso dos algoritmos e nos dados produzidos por eles para prever o comportamento do público -mas Levine acha que essa abordagem tem limites.

“Nunca trabalhei num sistema em que o algoritmo era determinante no processo de seleção criativa”, afirma. “É útil saber o que pode interessar ao público, mas não acho bom dizer a um artista o que ele tem que fazer para atingir esse objetivo.”

Questionado sobre quais tendências vê no mercado de séries para este ano, o executivo não é muito otimista. Ele espera histórias de crime ou muito novelescas, com ganchos fáceis, assassinatos e traições.

“São premissas básicas da televisão. Na pandemia, produtos únicos e originais tiveram sucesso global, o que fez pensar que agora as pessoas apostariam em coisas parecidas, mas está acontecendo o contrário, as pessoas querem agir numa zona de mais segurança. Mas acho que todos nós que trabalhamos dentro do sistema temos a responsabilidade de desafiá-lo.”

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