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Brasília

“Quem tem fé não acredita nas denúncias”, dizem seguidores de João de Deus

Arquivo Geral

12/12/2018 13h34

Denúncias de abuso sexual não abalaram a fé dos seguidores de João de Deus. Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília

Jéssica Antunes
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As denúncias de abuso sexual de mulheres parece não ter abalado a fé de quem busca por cura espiritual com João de Deus. No primeiro dia de atendimentos após estourar o escândalo contra o médium, a Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO), amanheceu lotada. Seguidores vestidos de branco tinham a expectativa de encontrar com o próprio religioso para demonstrar apoio. Em passagem relâmpago de menos de dez minutos, ele subiu ao palco, se disse à disposição da Justiça e recebeu apoio dos fiéis que se negam a acreditar em crime.

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“É um homem como você, como eu”, diz Cláudio José Antônio Pruja. Voluntário há 21 anos, o homem de 61 acredita que há interesse financeiro ou vingativo por trás das denúncias de abuso. “Quem lançou a flecha que trate de pegar ela de volta. Tem que ter provas, o que não existe. Para aquele que acredita, nenhuma palavra é necessária. Para quem não, nenhuma é possível. Ninguém vem aqui por conta dos olhos azuis dele, mas pelo trabalho das entidades em busca de cura”, defende. Ele classifica como “absurdos” os relatos que se multiplicam entre mulheres no Brasil e no exterior.

Cláudio José Antônio Pruja trabalha como voluntário. Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília

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O que não falta é quem use dos próprios testemunhos para desconfiar das versões apresentadas por mulheres pelos quatro cantos do País. Douglas Moreno, 65, diz a ser a prova de que a cura é possível. Seis anos atrás, ele foi assaltado e alvejado na coluna. O carreteiro foi desenganado pelos médicos, que disseram que não seria possível sair de uma cama. Recomendado por um cardiologista, ele e a família, católicos, chegaram à casa de João de Deus.

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Em três anos, o morador de São José dos Pinhais (PR) passou por diversas cirurgias espirituais, mas nunca ficou sozinho com o religioso. Com autonomia, hoje ele consegue até erguer o andador. É a quarta vez no ano que eles se deslocam até o município goiano. Em 2017, foram nove vezes.

“Só deixa de voltar a pessoa que não tem fé. A fé e a cura são segmentos um do outro. Se a pessoa não tiver, não vem. Ele é um ser humano e cometeu erros como nós todos, e é tão bom com a gente.Hoje dirijo, voltei a tomar banho sozinho, ninguém precisa me limpar mais”, relata. Com a mulher, Elaine Machado, 57, dona de casa, ele decidiu de última hora voltar ao centro em meio às denúncias, para acompanhar a irmã Eliana Moreno, 58, empresária, que já tinha o trajeto agendado.

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“Para mim, só tem que ser investigado para quem não acredita. Nós não acreditamos que os relatos sejam verdadeiros. As pessoas atualmente querem se tornar estrelas da noite para o dia”, defende Elaine. “A verdade vai ter que ser apurada de qualquer maneira, mas não vou deixar de vir por isso. Aqui nós nos encontramos espiritualmente, tem uma energia importante. Espero que tudo seja esclarecido porque ele ajuda muita gente”, completa Eliana.

Incondicionalmente

A crença incondicional no médium causou tumulto quando João Teixeira de Farias, 76, apareceu pela primeira vez desde que os primeiros relatos começaram a ser divulgados. A presença da imprensa foi afastada, e profissionais foram agredidos por seguidores do religioso. Entre socos e empurrões, uma mulher dizia aos gritos: “tomara que todos peguem câncer e voltem para se curar”. Com pressão alta, o religioso saiu às pressas do local e, segundo a assessoria de imprensa, seu retorno é incerto.

João de Deus em meio à multidão reunida na Casa de Dom Inácio de Loyola. Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília.

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Essa foi a primeira aparição de João Teixeira de Farias, 76, desde o escândalo de abuso sexual denunciado por centenas de mulheres. Quando chegou ao complexo de 12 mil metros quadrados, os salões estavam lotados de pessoas que o receberam sob aplausos e gritos. Seguranças e funcionários do centro espírita impediram a aproximação de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas. Do palco, ele disse que agradece a Deus por estar ali. “Estou nas mãos da lei brasileira. João de Deus ainda está vivo e que a paz de Deus esteja com vocês”, discursou.

Depois, ele saiu rodeado de funcionários e não se pronunciou para a imprensa. Antes de deixar o local, ele rebateu brevemente as acusações: “Sou inocente e acredito que a verdade aparecerá. Isso nunca aconteceu aqui”. Segundo a assessoria de imprensa, ele não concedeu entrevista por ter passado mal, após aumento da pressão arterial, mas está sereno diante das acusações. “As denúncias são seríssimas, devem ser apuradas pela Justiça e não em programa de entretenimento”, manifestou-se a porta-voz Edna Gomes.

Em nome da casa, ele desculpou pelas agressões. “Isso não acontece aqui, talvez as pessoas estejam nervosas em função de tudo o que está acontecendo. Peço desculpas, pelo comportamento nada elegante de algumas pessoas. A casa é de amor, ternura, vi coisas inimagináveis de cura aqui”, disse.

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