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Brasília

Mulher diz ser estuprada por ex-namorado durante 15 dias em Cidade Ocidental (GO)

Vítima denuncia que filhas também foram abusadas. Delegacia de Polícia de Cidade Ocidental apura o caso

Arquivo Geral

04/06/2019 6h20

Atualizada 10/06/2019 16h56

Ana Karolline Rodrigues
[email protected]

“Ele me estuprou por 15 dias consecutivos. Não se satisfazendo só comigo, abusou também das minhas filhas”. Este é o desabafo feito por I. R., 22 anos, em suas redes sociais, no último dia 29, para pedir por socorro após ser abusada e ameaçada pelo ex-companheiro, Jhonata César, 23 anos, em sua própria casa, em Cidade Ocidental (GO). Após a violência sexual, a estudante de enfermagem registrou uma ocorrência na Delegacia de Polícia de Cidade Ocidental, no dia 24 de maio, mas ainda não teve retorno das investigações. Sem saber a localização do rapaz atualmente, e buscando outras formas de apoio, ela resolveu, então, divulgar seu caso como um pedido de ajuda.

Em entrevista concedida ao Jornal de Brasília, a vítima contou que começou a se relacionar com Jhonata em abril de 2017 e namorou com ele por oito meses. Porém, ainda no início do relacionamento, ele já passou a se mostrar agressivo. Neste mesmo ano, o então companheiro abusou dela pela primeira vez. “Teve um dia que ele bebeu, usou maconha, cocaína, certos tipos de entorpecentes e acabou me pagando a força”, contou. Foi após esta violência que ela engravidou de sua terceira criança, sua única filha com ele.

De acordo com I., após o crime, o agressor ainda chegou a contar a um conhecido sobre a ação que cometeu. “Ele conheceu um rapaz e acabou desabafando com esse cara. Isso eu ouvi por bocas de parentes desse rapaz. O Jhonata contou tudo que ele fez comigo e esse cara foi e contou para outra pessoa que é traficante e detesta estuprador”, narrou.

Fugindo, então, desse traficante, ela conta que Jhonata foi morar no Piauí por mais de um ano. “Quando ele ficou sabendo quem era o Jhonata, ele começou a procurar por ele. A cabeça dele aqui dentro da Ocidental está a prêmio. Uma semana depois, chegaram os boatos no meu ouvido que meu ex está sendo procurado pelo maior traficante daqui”, afirmou.

Apesar disso, ele ainda permaneceu a observando através de um amigo até abril deste ano, quando voltou para a cidade goiana. “Em abril, eu estava indo buscar minha filha na escola e quando dobrei a esquina o amigo dele foi e me abordou dizendo que ele me mandou um recado. Disse que eu tinha que entrar em contato com ele e fazer as coisas como ele estava mandando” contou.

“Eu fiquei meio acuada, temi logo pelos meus filhos. Então, fui e entrei em contato com ele ainda na rua. Ele me falou que eu não podia desligar a ligação até chegar em casa e que eu tinha que falar para a minha mãe que eu estava perdoando ele e nós iríamos criar nossa filha juntos”. Temendo pela vida dos três filhos, a vítima o fez.

I. R. foi vítima de estupro durante 15 dias. Sem apoio policial, ainda recebe ameaças do agressor. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília.

“No dia 16 de abril ele me mandou uma foto da passagem [de volta à Brasília] dizendo que era para eu buscar ele. Aí eu fui e ele me falou que era para irmos para a casa da minha mãe e agir naturalmente”, disse.

“Nesse mesmo dia, quando foi por volta de uma hora da madrugada, ele falou para eu tirar a roupa. Eu falei que não estava afim, que não queria. Mas ele disse que eu não tinha que querer: ‘você vai fazer do jeito que eu te ordenar. Ou você prefere que eu mate toda sua família, te esquarteje bem aqui e suma com a minha filha?’. Eu me tremi toda, minhas mãos chega molhavam”, relatou a mulher.

Em um áudio enviado para a vítima, o rapaz ainda chegou a admitir o crime, mas disse que a “estuprou por amor”. Em outro, ele a ameaça afirmando que seria a última vez que ela falaria com ele. Confira as gravações a seguir:

Problema de saúde

Ainda neste ano, a estudante de enfermagem descobriu uma suspeita de leucemia. Segundo I., ela chegou a ser abusada pelo ex-companheiro mesmo nos momentos em que esteve com mal estar e febre. “Teve um dia que ele acabou de me violentar, eu entrei no banheiro, me olhei e pensei que estava sendo tratada como um lixo. E eu tentei suicídio. Peguei todas as veias, inclusive a que pega no pulso. Aí ele arrombou a porta e falou para a minha mãe que precisava me levar ao hospital, mas isso na maior tranquilidade”, disse.

“Eu tentei pedir ajuda de tudo que foi jeito no hospital, mas ele não dava espaço. Tentei falar com a enfermeira, com o médico, mas ele entrou comigo na sala. Se eu abrisse a boca eu podia me preparar”, completou.

Filha

Os dias de horror vividos por I. se tornaram ainda piores após a estudante desconfiar de abusos cometidos também contra sua filha de apenas cinco anos. “Imagina, você se deitar com um homem e ser obrigada a manter relações sexuais com ele por 15 dias, se não a sua família poderia ser assassinada. Agora, imagina sua filha se queixar de dor ao urinar e quando você vai olhar as partes íntimas dela, ela se treme com medo. Eu fui olhar e ela não deixava, estava toda inchada”, contou, em lágrimas.

“Um cara que não tocou só em mim, mas tocou nas minhas filhas. A menor eu não posso afirmar, mas eu sei que foi também”. Segundo ela, o Conselho Tutelar chegou a acompanhá-las no Instituto Médico Legal (IML), após o registro do boletim de ocorrência na delegacia. No entanto, desde então, ela não recebeu nenhum retorno da entidade.

“Acompanharam no primeiro dia no IML, mas depois disso nem vieram mais aqui. Como se não fosse importante, parece que só é importante quando uma criança morre ou é espancada”, desabafou.

O Jornal de Brasília tentou contatar o Conselho Tutelar de Cidade Ocidental, mas, até o fechamento desta reportagem, não teve retorno.

I.R. foi vítima de estupro durante 15 dias. Sem apoio policial, ainda recebe ameaças do agressor. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília.

Sem resposta

Após registrar o boletim de ocorrência, I. conta que apenas foi orientada por agentes da delegacia a esperar um retorno. Sem medidas protetivas, nem notícias sobre o desenrolar das investigações, ela ainda pensou em registrar o caso novamente em outro local, mas foi informada de que não seria necessário.

“Eu nem sei se a polícia está atrás, me falaram que era para eu só seguir com o que eu tinha registrado, não procurar fazer outro. É uma situação que parece que nem um mandado de prisão para ele foi expedido”, disse.

Procurado pelo JBr., o delegado Daniel Marcelino, da delegacia local, informou que só poderia repassar qualquer tipo de informação caso a reportagem tivesse o número do registro da ocorrência e que não poderia dizer se tinha ou não conhecimento do crime.

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