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Brasília

Especial Idosos: velhice não significa limitação

Arquivo Geral

03/10/2018 7h00

Atualizada 02/10/2018 23h02

Foto: Matheus Albanez.

Manuela Rolim
Especial para o Jornal de Brasília
[email protected]

Chegar à terceira idade, por muito tempo, foi um conceito associado ao momento de descansar. Hoje, estar em uma faixa etária avançada pode significar o movimento de se reinventar. Na terceira e última reportagem da série especial sobre a população idosa do DF, o Jornal de Brasília mostra pessoas que descobriram novas aptidões depois dos 60 anos e optaram por uma velhice feliz e ativa.

Aos 89 anos, Eduardo Oliveira, que frequenta duas vezes por semana a Casa do Vovô, na Asa Norte, é pura vitalidade. Médico aposentado, ele não se afastou da profissão e, sempre que pode, se prontifica para a atividade.

A dedicação à cirurgia geral e à ginecologia e obstetrícia, especialidades exercidas durante 20 anos, segue movendo o doutor Eduardo, como é chamado pelos amigos da Casa do Vovô. “A medicina é a grande paixão da minha vida”, resume. “Sempre que possível, sigo ajudando, mesmo longe dos hospitais.”

Ambientes hospitalares são mais do que familiares para esse pioneiro de Brasília, que tem cerca de 60 títulos na área da saúde da mulher e passou por grandes hospitais da capital, entre eles os de Taguatinga (HRT) e o das Forças Armadas (HFA).

Talento nato

“Quando eu era criança, minha mãe me vestia de branco e dizia que eu ia ser um homem de bem”, lembra. “Até hoje, a coisa que eu mais sei fazer nessa vida é socorrer pessoas”.

Atendimentos emergenciais batem ponto com frequência em sua memória. Em 1975, ele salvou a vida de uma mulher grávida em Taguatinga. “Ela chegou com uma hemorragia grave e quase não tinha mais pulso. Operamos a paciente, fizemos duas transfusões de sangue e revertemos o quadro. A mãe e o bebê sobreviveram. Jamais esquecerei esse dia.”

Outro episódio que marcou sua carreira também se deu no âmbito de saúde feminina. “A mulher chegou com uma ruptura uterina na emergência”, conta. “Minha única saída era colocar a mão na vagina dela para controlar a situação e obstruir a hemorragia até outro médico chegar, e foi o que eu fiz. Fiquei na mesma posição durante 15 minutos. No final, conseguimos salvar a mãe, que estava no início da gestação. São atitudes rápidas que temos que tomar quando a vida está por fio”.

O desvelo com que sempre exerceu sua profissão lhe rendeu reconhecimento. “Para a minha honra, existem muitos eduardos e eduardas por aí ”, cita, lembrando os bebês que foram batizados em sua homenagem.

 

Eduardo Oliveira, 89 anos. Foto: Matheus Albanez.

Na ativa

Um Acidente Vascular Cerebral (AVC), há três anos, foi o que levou o doutor Eduardo ao abrigo. “Fiquei na horizontal, depois passei para uma cadeira de rodas e, hoje, já consigo andar com as minhas próprias pernas”, destaca. “ A verdade é que a gente não tem ideia do nosso potencial na velhice.”

Todas as terças e sextas-feiras, ele passa o dia na Casa do Vovô desenvolvendo atividades que ajudam na recuperação dos movimentos, mas não dorme no abrigo. Para o médico, o segredo de uma velhice saudável é manter-se em constante movimento.

“Nosso corpo é uma máquina e o nosso cérebro, um computador”, ensina. “Temos que estar sempre atualizados, não podemos parar. Não existe idade certa para encontrar novas ocupações, isso pode ser feito a qualquer momento. Jamais será tarde para voltar a estudar, trabalhar”.

Casado e pai de seis filhos – três atuantes da área da saúde -, ele também tem orgulho da companheira, de 66 anos, que o leva e busca na Casa do Vovô. “Ela é meu braço direito, minha enfermeira, a mulher da minha vida”, exalta .

Amar faz parte da receita para sua longevidade: “ Feliz do homem que tem uma família como eu. Já são mais de 50 anos de casados e sigo apaixonado. A base de um relacionamento duradouro é o respeito e a liberdade. Nunca a proibi de fazer nada. Quando se ama, não há espaço para desconfiança. A mulher é o início e o fim de um homem. O universo masculino é uma miniatura diante do feminino” .

Para esse homem sempre atualizado, outra atitude que faz a diferença é a dedicação ao próximo. “Não guardar mágoa e praticar a caridade é o que levamos dessa vida”, diz. Já sonhando com a festa de 90 anos, ele sabe que a vida saúda sua presença a cada momento.

Depois dos 60, uma nova profissão

Foi na terceira idade que a economista e funcionária pública Maria de Fátima Sobreira também se reinventou. Aos 64 anos, ela criou coragem para tirar do papel e colocar em prática um sonho antigo: montar um gastrobar.

O negócio familiar já completou seis meses de muito trabalho e satisfação. Especializada em gastronomia, Maria de Fátima ainda assumiu a cozinha do estabelecimento, sem deixar o cargo que ocupa no GDF de lado.

“Nunca tive medo de trabalhar”, afirma. “Pelo contrário, é isso que me motiva. Ficar parada, para mim, é uma tortura. Tenho muito orgulho de, a essa altura do campeonato, ainda ter tido forças para realizar esse sonho”.

Para ela, isso não tem a ver com idade. “É questão de cabeça. Conheço pessoas muito mais novas do que eu e que parecem mais velhas. Se deixar, a gente se acostuma com a velhice, mas não podemos nos entregar”. Palavra de quem sabe.


Saiba Mais

Em comemoração ao Dia do Idoso, o Jornal de Brasília publicou desde a segunda-feira (1º) uma série de reportagens especiais sobre o tema, sempre tão esquecido pela população. Contamos a história de Dona Glória, moradora do Lar dos Velhinhos Maria Madalena, no Park Way, há pouco mais de 20 anosA senhora, que encanta qualquer um pelo sorriso largo e sincero, se casou algumas vezes, talvez oito no total, sendo três delas no abrigo.

Outro relato mostrado foi o de seu Francisco Pacheco Ormond que foi parar no abrigo por vontade própria. Pai de cinco filhos, o mecânico aposentado encontrou no local o que buscava para ter uma velhice tranquila.

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