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Brasília

Especial Idosos: quando a esta altura da vida, eles encontram-se sem um lar

Arquivo Geral

02/10/2018 7h00

Atualizada 03/10/2018 0h21

Foto: Kléber Lima/Jornal de brasilia

Manuela Rolim
Especial para o Jornal de Brasília
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Morar em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) custa caro. E muito. No caso dos abrigos privados, o gasto pode chegar a valores exorbitantes.
Pessoas na terceira idade esbarram na despesa com planos de saúde e, mais do que isso, na dificuldade para conseguir ser aceitas por um convênio de qualidade. Para os maiores de 60 anos, faixa enquadrada nessa categoria, ter qualidade de vida é, antes de tudo, algo dispendioso. E não há como deixar de arcar com esse tributo.

De um lado, as despesas com a saúde já são um problema para quem atravessa a chamada terceira idade. De outro, vem a questão logística da manutenção de instituições especializadas.

Instalar uma ILPI não é tarefa das mais fáceis. Além de uma equipe de profissionais altamente qualificada e especializada, é preciso oferecer uma estrutura adaptada aos moradores.

Estrutura

Dentre os muitos itens que não podem faltar em uma casa direcionada a esse público, destacam-se camas adequadas às necessidades dos idosos, rampas de acesso, barras de segurança, câmeras de monitoramento e uma estrutura que garanta alimentação regular e higiene completa.

A garantia desses recursos está prevista no Estatuto do Idoso, criado por meio da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, e na Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 283, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Isso torna alto o custo de manutenção de uma ILPI e, consequentemente, as mensalidades cobradas dos moradores especiais. Nas unidades particulares, dificilmente, as famílias conseguem encontrar alojamento por menos de R$ 5 mil mensais.

Custo

“Tem abrigo no Lago Sul que cobra R$ 10 mil, R$ 12 mil por idoso”, aponta Leonardo Tavares, psicólogo do Lar dos Velhinhos Maria Madalena, instituição conveniada ao GDF no Park Way.

Dentre as unidades que recebem recursos do governo – no Distrito Federal, são cinco -, a mensalidade pode sair mais em conta. De acordo com o disposto no Estatuto do Idoso, no caso de entidades filantrópicas – também chamadas de casa-lar -, é facultada a cobrança de participação do morador no custeio da instituição.

Sob esse esquema, as ILPIs podem cobrar da pessoa idosa até 70% da aposentadoria ou do Benefício de Prestação Continuada (BPC) – equivalente a um salário-mínimo.
No Lar dos Velhinhos Maria Madalena, o rendimento da maioria dos 90 acolhidos é esse. “Eles jamais teriam condições de pagar por uma instituição 100% privada. Seria absolutamente inviável”, garante Leonardo.

O psicólogo explica que o abrigo só acolhe idosos em situação de vulnerabilidade encaminhados pela Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh). “Cedemos essas vagas para o Estado devido à falta de uma ILPI pública no DF”, explica.

Plano de saúde, outro problema

O valor das mensalidades cobradas nos abrigos está longe de ser a maior dificuldade enfrentada pelos idosos. O custo dos planos de saúde é, disparado, um problema muito maior – até porque poucos idosos possuem um.

É justamente na terceira idade que a adesão aos convênios se torna mais complicada. Consequentemente, resta à maioria dos acolhidos, especialmente os que vivem sob o sistema de ILPI conveniada, procurar a rede pública de saúde no caso de emergência.

“A situação é trágica”, resume o psicólogo do Lar dos Velhinhos Maria Madalena . “Aqui a gente conta nos dedos os idosos que têm plano de saúde. O custo é inviável. O jeito é torcer para que ninguém passe mal, porque sabemos como é o atendimento nos hospitais públicos. Já perdemos as contas de quantas vezes tivemos que ajuizar ações na Defensoria Pública e no Ministério Público para conseguir ter acesso ao serviço. Falta um hospital geriátrico no DF. Já tivemos caso da rede pública perder o corpo de um idoso”.


Casas Conveniadas

Casa do Candango – 10 idosos independentes e 40 idosos dependentes
Casa do Ceará – 6 idosos independentes e 1 dependente
Lar dos Velhinhos Maria Madalena – 17 idosos independentes e 75 dependentes
Bezerra de Menezes – 5 idosos independentes e 65 dependentes
Lar dos Velhinhos Belo Horizonte – 5 idosos independentes e 25 dependentes


A busca por uma velhice tranquila

Aos 72 anos, Francisco Pacheco Ormond tem 70% da sua renda mensal destinada ao Lar dos Velhinhos Maria Madalena, onde vive desde 28 de fevereiro deste ano. Ele foi parar no abrigo por vontade própria.

Pai de cinco filhos, o mecânico aposentado encontrou ali o que buscava para ter uma velhice tranquila. “Nunca quis morar de favor na casa de ninguém”, conta. Como não tenho minha casa própria, achei melhor vir para cá e estou adorando.”

Francisco Pacheco Ormond. Foto: Kléber Lima/Jornal de brasilia

Depressão

Carioca, seu Francisco veio para Brasília em 2003, após perder o pai e a mulher, Dilcéia – mãe de seus filhos -, assassinada. “Comecei a adoecer”, lembra, emocionado. “A depressão me pegou, eu não parava de emagrecer. Ela não foi o meu primeiro casamento, mas foi o grande amor da minha vida. Até hoje, sinto muita saudade. Já tentei outros relacionamentos, mas não é a mesma coisa.”

Quando perguntado sobre sua trajetória, seu Francisco diz que, ao olhar para trás, se arrepende de muitas atitudes. “Sempre fui muito farrista, vivi intensamente e paguei caro por isso. Não acompanhei o crescimento dos meus filhos como gostaria. Se eu pudesse dar um conselho para os jovens, diria para eles terem equilíbrio.” Atualmente, ele mantém contato com os filhos pela internet.

Francisco Pacheco Ormond guarda a foto da ex-mulher (já falecida) e da filha no celular. Foto: Kléber Lima/Jornal de brasilia

Benefício

Casos como o de Francisco podem requerer o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que, instituído pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção, nem de tê-la provida por sua família. Para ter direito, é necessário que a renda por pessoa da família seja menor que 1/4 do salário-mínimo vigente.

Segundo a Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh), a distribuição dos recursos é feita de acordo com a quantidade de acolhidos em cada instituição.

Lei Mais: Conheça dona Glória, moradora do Lar dos Velhinhos há 20 anos

Saiba Mais

As unidades conveniadas com o GDF sobrevivem com parte da renda dos idosos, repasses e doações. Segundo a Sedestmidh, o custo de cada morador independente é de R$ 2.067,08; para os dependentes, R$ 2.463,51.

Essa verba, avalia o psicólogo Leonardo Tavares, do Lar dos Velhinhos Maria Madalena, ainda não é suficiente. Ele cita a carência de profissionais da área da saúde – uns atuam por meio de convênios; outros, por voluntariado.

Há ainda os gastos com refeições – seis por dia -, fraldas, produtos de limpeza, mão de obra e contas de água, luz, telefone e internet. Só com alimentação, explica o o coordenador administrativo do Lar Maria Madalena, Paulo César Farias Ferreira, são gastos cerca de R$ 80 mil

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