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Brasília

Domingo de Ramos pela internet

Diante do decreto do GDF que proíbe missas presenciais, padres fazem celebrações virtualmente

Pedro Marra

06/04/2020 6h57

Os brasilienses que costumam assistir às missas de Domingo de Ramos pessoalmente, tiveram que acompanhar transmissões ao vivo das celebrações pelas redes sociais. A medida do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, publicada no Diário Oficial do DF (DODF) no dia 20 de março, determina o fechamento de igrejas devido à pandemia do novo coronavírus. Mas a decisão não impediu a interação entre os fiéis ontem, quando se comemorou a chegada de Jesus Cristo em Jerusalém.

Na Paróquia Nossa Senhora da Saúde, na 702 Norte, fiéis foram de carro até o estacionamento da igreja ontem pela manhã para receber as bênçãos de ramos. “Nós convidamos as pessoas a trazerem os ramos para serem bentos. O estacionamento da paróquia estava lotado de pessoas com os ramos”, relata o padre Rafael Souza dos Santos, de 34 anos.

O pároco da igreja comenta que nas transmissões ao vivo pelas redes sociais, ele tem buscado passar o sentimento de esperança. “É uma grande dificuldade ter proximidade com os nossos paroquianos. As pessoas têm manifestado a saudade, querendo estar presente. Quando postei a programação da semana santa, algumas pessoas disseram como é triste não poder celebrar. Busco passar a manifestação de cuidado, e com muita fé, e as pessoas ainda têm manifestado a gratidão pela missa”, afirma.

Na homilia, o padre Rafael conta que citou a dor da solidão durante a quarentena. “Disse sobre como lidar com o sofrimento. O profeta Isaías diz sobre o servo sofredor. A função da Igreja é dar esperança. Para que, ao terminar tudo isso, não venha a aumentar o vazio existencial, como a solidão com esse isolamento. A esperança é o próprio Jesus Cristo”, opina.

A igreja tem capacidade para 900 pessoas sentadas. Mas, as três redes sociais usadas na transmissão ao vivo simultâneamente (YouTube, Instagram e Facebook), totalizaram mais de 1 mil visualizações da celebração, que ocorreu apenas às 8h30 de ontem.

Estrutura de transmissão ao vivo

Um dos fiéis da Paróquia São Miguel Arcanjo, localizada no Riacho Fundo I, é o produtor multimídia Lucas Rodrigues, de 25 anos. Pela função que exerce, ele foi contratado pela igreja para fazer as transmissões ao vivo das missas.

“Ele que chamou porque sabe que mexo com áudio e placas de som. Essa foi a primeira missa que transmitimos. As outras missas que estão acontecendo, o padre preferiu transmitir do próprio celular. Como são missas solenes da Semana Santa, ele tem que fazer isso na paróquia. Aí ele me chamou para montar uma estrutura melhor. Agora, vamos transmitir novamente na quinta-feira, sexta-feira santa e no sábado de aleluia, que é o chamado tríduo pascal. Mas, mesmo assim, na segunda, terça e quarta-feira, ele vai continuar transmitindo da casa dele”, explica o rapaz, que usou cerca de 10 equipamentos.

Lucas esclarece quais medidas de prevenção foram tomadas durante a transmissão. “Estávamos com um pote de álcool em gel na nossa mesa. Comigo, tinha apenas uma pessoa para auxiliar em direcionamento de câmera. E os músicos e cerimonialistas estavam bem distantes, então não teve nenhum contato próximo, já que teve só a gente produzindo”, relata.

Na opinião do padre da Paróquia São Miguel Arcanjo, Fernando Gonçalves Silva, de 32 anos, o diálogo direto fica impossibilitado, mas a interação virtual tem sido uma oportunidade para manter a fé. “É evidente que o trato interpessoal é importantíssimo, visto que não servimos pessoas virtuais, mas pessoas de carne e osso. A transmissão da Eucaristia neste contexto de isolamento social por motivos da pandemia, configura-se como um remédio para as almas. Faz com que se perceba a fé celebrada numa comunidade cujo amor é capaz de romper todas as barreiras, inclusive a distância. Os fiéis fazem questão de manifestar sua proximidade, por comentários em tempo real, além de publicarem fotos de seus altares em casa, que agora contam com a tv ou o celular”, analisa o sacerdote.

A igreja transmitiu duas missas on-line. Às 19h30 de sábado, e às 10h no Domingo de Ramos. “A mensagem que devemos transmitir aos fiéis será sempre a mesma: o Evangelho. Nosso Senhor é capaz de responder ao homem de ontem e de hoje, nas alegrias e nas adversidades. A celebração do Domingo de Ramos marca o início da via dolorosa de Jesus, recebido com fulgor na Jerusalém. Mas logo em seguida, perseguido e condenado injustamente. Na vida de Cristo está escondida a vida de cada um de nós. Em seu mistério está o mistério da existência humana”, diz o padre Fernando.

Gildo José Rodrigues (foto), de 58 anos, é outro fiel da igreja. Ele lamenta não poder ir pessoalmente à missa, mas reconhece ser uma forma de interação diante do isolamento social. “Não é a mesma coisa que uma missa presencial, que a gente tem a tradição de muitos anos de estar à frente do padre e participar da missa diretamente com ele e receber a comunhão. Isso faz falta. Mas, diante da pandemia que está hoje, é melhor participar pela live nas redes sociais. Ainda bem que temos essa tecnologia. Seria pior se não tivéssemos e não poder ter contato nenhum com a Igreja”, opina o morador do Riacho Fundo I.

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