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Brasília

Dia do Estudante é celebrado com salas vazias

Especialista em tecnologia da educação e aprendizagem on-line defende que não há mais volta para os modelos tradicionais de ensino

Vítor Mendonça

11/08/2020 8h23

De forma inédita, o Dia Nacional do Estudante é comemorado fora do ambiente escolar tradicional nesta terça-feira (11). Salas de aula foram substituídas por quartos, salas e escritórios; materiais foram trocados por tecnologias e o professor ensina por meio de uma transmissão ao vivo. Nas últimas semanas, os alunos da rede pública e privada de ensino no Distrito Federal fazem da paciência uma aliada no processo de volta às aulas presenciais e nas discussões envolvidas no processo, inconclusivas.

Mesmo durante, e após a superação da pandemia, o modelo educacional mais cotado para o futuro, segundo o professor Lúcio Teles, da faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), tende a ser o híbrido. O especialista em tecnologia da educação e aprendizagem on-line defende que, de forma geral e abrangente, não há mais volta para os modelos tradicionais de ensino. 

No entanto, ele afirma que a aula on-line “dificilmente substituirá a presencial”. De acordo com Teles, existe um fator afetivo que se materializa no aprendizado in loco, necessário na formação do aluno em certa medida.

“Mas o sistema educacional em geral vai ter que de adaptar. O que terá de acontecer depois da pandemia é o modelo híbrido de aprendizagem, que combina a tecnologia à distância com os encontros presenciais. Mas haverá sem dúvida um crescimento de utilização de aplicativos na Educação. Isso certamente será muito mais disseminado do que antes da pandemia”, declarou o professor.

É o que pensa a estudante do terceiro ano do Ensino Médio no Instituto Federal de Brasília (IFB) do Riacho Fundo I, Milena Samara, 17, que pretende cursar medicina na UnB. “Acho que se depender de muitos alunos com quem converso, vai sim ser uma tendência no futuro. Conheço várias pessoas que dizem que preferem aprender de casa”, disse. 

O curso que quer concorrer na graduação é um dos mais concorridos, mas, segundo ela, manter o foco tem sido a maior dificuldade durante a transição para as aulas na plataforma on-line fornecida pelo Governo do Distrito Federal (GDF), uma vez que “qualquer coisa em casa já é uma distração”. Entretanto, ela não considera que sejam impedimentos para a dedicação necessária. 

“Assisto vídeo-aulas e me esforço ao máximo. Vejo “lives”, as aulas transmitidas por outros professores – tô dando meu jeito. Sinto que perdi muito conteúdo, mas estou correndo atrás”, completa. “No começo é sempre muito difícil a adaptação tanto dos professores quanto nossa. São vivências que nunca tivemos, então sofremos um pouco nesse processo. Mas, na medida do possível, cada um vai fazendo a sua parte conseguiremos superar isso.”

Beatriz Veras de Camargo, 18, também estudante do terceiro ano do Ensino Médio do IFB explica que o processo para se adaptar às novas realidades virtuais foi “complicado”, principalmente depois de um período de aproximadamente três meses sem aulas oferecidas pela rede pública. “Veio o desânimo porque é mais difícil manter uma disciplina [sozinha] em casa. Agora que as aulas on-line voltaram, tento me organizar melhor e até que estou indo bem”, disse.

Ela conta que seu maior receio são as provas de fim de ano de exames de acesso à UnB e outras universidades brasileiras – o Programa de Avaliação Seriada (PAS) e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Estou bastante preocupada. Estou mais focada no PAS – comprei as apostilas que vendem para auxílio – e também no Enem”, relatou.

“Acredito que fomos bastante prejudicados nisso. Onde estudo, todo o apoio que teríamos para estudar obras e simulados não foi dado, então ficamos sem auxílio. Agora com a ajuda dos professores [por meio da plataforma on-line] está dando super certo”, pondera. De acordo com a estudante, a nova data estipulada para o Enem, em 17 de janeiro de 2021, não é inviável. “Dá para a gente se organizar [até lá].”

A Cebraspe, banca responsável pela aplicação do PAS ainda não estabeleceu nova data para a aplicação das provas e segue sendo em dezembro. O Enem, por outro lado, foi adiado para o ano que vem e estabeleceu o uso obrigatório de máscaras nas salas de aplicação das provas.

Acessibilidade

Previsto para 28 de janeiro de 2021, o ano letivo do Distrito Federal termina durante a semana da segunda fase de aplicação de provas impressas do Enem. Procurada pelo Jornal de Brasília, a Secretaria de Estado da Educação do DF (SEE/DF) explicou que “está elaborando um cursinho social para os estudantes do 3º ano do Ensino Médio, […] para que os estudantes possam complementar os estudos e se preparar para vestibulares deste e do próximo ano”. “As aulas de reforço devem ser presenciais e no contraturno dos estudantes, sempre respeitando a situação pandêmica no Distrito Federal”, continuou a pasta.

A rede pública de ensino do Distrito Federal abrange, atualmente, 460.475 estudantes e, pelo programa Escola em Casa DF, criado pela SEE/DF, que oferece as aulas on-line por meio da plataforma Google Sala de Aula, os professores tentam acompanhá-los. Aqueles que não têm condições de acesso ao modelo de aprendizagem, porém, recebem material impresso de suas escolas para a realização de atividades. A pasta informou que ainda não há uma estatística confirmada sobre aqueles sem o acesso.

“Mais de 470 mil estudantes e 72 mil profissionais da educação estão cadastrados na plataforma. De 13 de julho a 9 de agosto, foram 3.489.971 acessos de estudantes e 626.040 de professores”, disse a Secretaria em nota.

O órgão tenta ainda garantir o fornecimento de internet para dar melhores condições de acesso à plataforma, há quase um mês em funcionamento. Sobre a questão, a SEE/DF informou que “já publicou o edital de chamamento público para as operadoras de internet móvel se cadastrem” e que “precisa aguardar que as operadoras se cadastrem para que o serviço seja ofertado”.

Irreversível

Gérson Neto, 48, é professor de matemática no Colégio Objetivo em Águas Claras e já tinha feito aulas on-line para cursinhos preparatórios, mas, nas salas de aula tradicionais dos estudantes do 2º e 3º anos do Ensino Médio, para os quais leciona, é novidade. A instituição de ensino privada em que trabalha entende que a forma híbrida de retorno às aulas é a saída.

“Antes [em cursinhos] havia todo um outro aparato tecnológico e de gestão, mas agora é diferente. Está tudo igual, da mesma forma, só os alunos que não estão aqui”, entende. Durante as aulas, ele afirma que os alunos estão se comunicando bem e se soltando para interagir com o docente. Segundo o educador, a plataforma on-line possibilita vantagens aos alunos. 

“Acredito que um leque de oportunidades se abre. Na aula virtual o aluno pode rever tudo novamente; estão com mais subsídios para dúvidas; todas aquelas dificuldades de locomoção para uma monitoria acabam porque ele permanece em casa; entre outras coisas. Para mim está irreversível esse modelo. Acho que as gravações deveriam continuar on-line mesmo que 100% dos alunos já tenham voltado. Vamos precisar abraçar esse processo cada vez mais”, finalizou.

O professor Teles, da Universidade de Brasília, destaca a importância às plataformas de videoconferências neste período, mas também ressalta o implemento das novas tecnologias de realidade aumentada, que podem indicar um impacto ainda maior na educação, sendo essas utilizadas e aplicadas de modo amplo e generalizado na rede de ensino.

“As reverberações [do uso das tecnologias na pandemia] serão muito mais integrados a aplicativos de realidade aumentada, que podem substituir de maneira razoável laboratórios presenciais de eletrônica, medicina, entre outras disciplinas do campo das exatas”, explica o especialista.

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