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Brasília

A história de Rhuan: ele só queria ser amado

A maior diversão do menino de 9 anos era brincar na moto da tia. Com um leve grau de autismo, precisava de tratamento. Em vez disso, tornou-se vítima

Lindauro Gomes

03/06/2019 5h20

Olavo David Neto
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Ainda abalado, Maycon Douglas concedeu entrevista por telefone ao Jornal de Brasília. Em meio ao luto, o homem ainda procura formas de viabilizar o enterro de Rhuan Maycon da Silva Costa, de apenas nove anos, que foi morto e esquartejado pela mãe, Rosana Auri da Silva Candido, 27, na sexta-feira (31). Douglas conta que brigou pela guarda de Rhuan antes de Rosana fugir do Acre com a companheira, Kacyla Priscyla Santiago Damasceno, 28, levando o filho do casal – assim como a filha de Kacyla com o servidor Rodrigo Oliveira.

O pai de Rhuan revela que o menino foi diagnosticado com autismo e, por isso, necessitava de acompanhamento especial para frequentar o colégio. Quando finalmente conseguiu o encaminhamento médico para solicitar atendimento especial ao filho, Rosana sumiu do mapa com ele. Rhuan iniciaria os estudos em 2015, mas, um ano antes, a mãe o levou e não mais permitiu que pai e filho se vissem.

Após a prisão, Rosana declarou que a morte do menino era “necessária” para esquecer de uma época de abusos e agressões vindos do pai do garoto. “Antes de ela ir embora daqui, ela tinha me denunciado por agressão, mas ela nunca foi a nenhuma audiência”, rebate. A posição da avó materna do garoto ficou clara no embate judicial pela guarda da criança. “A mãe dela me ajudou, sabe quem eu sou, nunca fiz nada de mal pra ela”, completa o homem.

A separação do casal trouxe uma situação inusitada. Sem ter para onde ir, Rosana permaneceu com Rhuan na casa dos avós paternos do menino. Enquanto isso, Douglas teve de sair da casa dos pais, voltando apenas como visita. “Eu vinha todos os dias ver ele, passear com ele”, comenta Douglas, que voltou a morar com os pais. Ela jurou que o homem jamais veria o filho novamente.

Aparente normalidade

Apesar do histórico de confusões com a mãe de Rhuan, Douglas admite que Rosana se comportava como “uma pessoa normal”. Pelo menos até entrar na igreja evangélica, onde conheceu Kacyla. Após se juntar à companheira, cúmplice no assassinato do filho, “se transformou; enlouqueceu completamente”. Ele relembra que até as vestimentas do menino foram alvo do fanatismo religioso de Rosana. “Ela ateou fogo nas roupas do Rhuan, porque tinha uns desenhos, coisa de criança, que ela considerava ‘do demônio’”, conta Douglas, com a voz em fiapos.

Mas o ímpeto de Rosana não se limitou à relação com o filho – morto, queimado e esquartejado por ela. Quando a própria mãe de Rosana tomou o partido de Douglas na disputa pela guarda do menino, “ela ameaçou tocar fogo na casa da mãe dela também; muito sinistro”, relembra Maicon.

Apesar de reconhecer o desequilíbrio da mãe do garoto, ele questiona a atitude de Kacyla após a prisão. “Ela foi sempre a mentora e a Rosana acatava. A Kacyla tenta tirar o dela da reta, (em) todas as entrevistas ela joga a culpa só para a Rosana”, critica. “Não tinha nenhum indício (desse comportamento). Não procedia essa loucura, só foi estourar quando ela conheceu a Kacyla.”

Além do esquartejamento pós-morte, as investigações apontam que o casal teria cortado o pênis do garoto há alguns meses. Questionado se acredita nas hipóteses levantadas pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), Douglas sequer hesita. “Com certeza, a maldade que elas tinham na cabeça me leva a crer. Não era uma crença, era uma seita, algo muito maluco.”

“Ele gostava de brincar na minha moto”

Tia paterna de Rhuan, Eliana Veras comentou a relação de Rosana com a família, em entrevista exclusiva ao Jornal de Brasília. Segundo ela, Rosana cresceu na mesma vizinhança que Douglas e sempre foi amável e bem quista na família. “Meu pai fazia tudo por ela. Meu irmão separou-se da Rosana e ela morava na casa do meu pai com o bebê”, conta. Sobre o menino, ela revela que o autismo que o acometia não era severo. Mas, de acordo com a tia, apenas os familiares próximos conseguiam entendê-lo. Apesar disso, gostava de “brincar como toda criança”. Rhuan era levado a consultas frequentes no fonoaudiólogo, dada a limitação na fala quando bebê. Eliana revela que o menino adorava brincar na moto da tia.

Eliana também corrobora a versão dada por Douglas. De acordo com ela, o irmão foi vítima de “calúnias e mentiras” nos processos de Rosana contra o pai do garoto. Outro ponto reforçado foi o comportamento da mãe de Rhuan. Após o início do namoro com Kacyla, ou “até aparecer essa maldita mulher”, nas palavras de Eliana, “Rosana mudou da água para o vinho”.

Além de Rhuan, a filha de Kacyla também vivia com o casal. Ela também apresentou sinais de possíveis maus tratos, como calcanhares ressecados e diversos cortes na cabeça. De acordo com os investigadores, a menina era a próxima vítima do casal. O pai da criança, Rodrigo Oliveira, que também não tinha notícias do paradeiro da filha, soube por meio da repercussão da morte de Rhuan onde encontrar a garota.

Saiba mais

Kacyla, chegou a Brasília no sábado, dia 1º, por volta das 8h30. Ele se encontrou com o delegado responsável pela investigação, Guilherme Sousa Melo, da 26ª DP, em Samambaia.

O delegado já tem viagem marcada a Rio Branco para averiguar todos os antecedentes do crime.

Rosana e Kacyla foram levadas ao Presídio Feminino do Distrito Federal, no Gama, conhecido popularmente como Colmeia.

De acordo com o advogado criminalista João Henrique Lippelt Moreno, a pena pode variar de 12 a 30 anos por homicídio qualificado e de 1 a 3 anos por ocultação de cadáver.

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