“Eu tinha que ir um pouco além da linha de frente”, afirmou Gabriel Ravazzi, 31 anos, primeiro vacinado contra a covid-19 da capital federal. “Minha própria função, o dom que eu tenho de ajudar a curar ou aliviar a dor me fez me doar um pouco mais além de apenas tratar as consequências dessa doença”, continuou.
O procedimento completo foi finalizado por volta das 13h30 e o médico gastroenterologista precisou esperar por cerca de uma hora até sair do Ambulatório II do Hospital Universitário de Brasília (HUB). Ele chegou na unidade por volta das 9h e passou por avaliação médica, exames para atestar se tinha ou teve a covid-19 – coletas SWAB e PCR – para então ser vacinado.
“É uma grande realização e é muito gratificante poder contribuir nesse primeiro passo com a ciência na busca de uma solução para essa doença que vem impactando a vida de todos nós âmbitos social, pessoal, econômico, nos serviços, culturalmente e nas nossas relações”, disse. “Sei que é um procedimento novo, mas eu estou bem tranquilo”, ponderou.
O que o motivou a participar da primeira bateria de testes foi o próprio dia a dia, convivendo com pacientes no tratamento contra a doença. No plantão realizado na última terça-feira (4), o médico acompanhou a perda de três pacientes em decorrência de complicações do novo coronavírus. “Pra gente e muito angustiante estamos na ponta sem saber como podemos combater isso”, desabafou.
Grande expectativa
Mariana Rodrigues, 29 anos, enfermeira, foi a segunda voluntária a participar do teste para a eficácia da vacina. Após um plantão de 12h, a profissional de saúde chegou cansada, mas disposta a dar um passo adiante mas pesquisas que estão sendo desenvolvidas.
“Gera uma expectativa muito grande para nós que trabalhamos todos dos dias com quem está infectado. Quero que o estudo ande o mais rápido possível para uma liberação da vacina logo. Provavelmente será primeiramente distribuída para grupos focais primeiro e depois abrindo para outros”, afirmou.
Conforme aquilo que vê no hospital todos os dias, a esperança é que o número de pacientes diminua conforme o tempo passa, ainda mais depois dos bons resultados que a vacina tem tido. Por enquanto, ela espera “que as pessoas se conscientizem mais com o isolamento”.
“De fato todos vão pegar o vírus em algum momento, mas que seja quando a vacina já estiver aprovada para que o sistema de saúde possa atender melhor os pacientes”, sugere a enfermeira. “Todos conhecem alguém que foi perdido nessa pandemia. Não cheguei a perder familiares, mas amigos sim.”
Acompanhamento
Os voluntários agora precisam fazer relatórios em um diário de bordo para darem esclarecimento sobre possíveis efeitos colaterais ou mesmo a falta de sintomas. Como estão na linha de frente contra a covid-19 no HUB, a própria probabilidade de contágio precisa ser examinada durante o processo.
Duas semanas após a dose, todos terão de voltar ao hospital para realizar uma segunda aplicação da vacina, passando pelos mesmos processos de análise.