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Brasília

Suicídio, um perigo silencioso

No mês de conscientização, especialista conta que a causa nem sempre é depressão

Marcus Eduardo Pereira

03/09/2019 5h53

Lucas Neiva
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Até o final do mês de agosto deste ano, 86 casos de suicídio foram registrados na Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Os dados da organização não-governamental Centro de Valorização da Vida (CVV) apontam cerca de 3 milhões de ligações pedindo suporte emocional no ano de 2018, e alerta também que um brasileiro se mata a cada 45 minutos.

A última pesquisa do Ministério da Saúde relativa a taxas de suicídio, realizada em 2016, relatou um total de 11.433 mortes por essa causa, o que representa cerca de 5,8 suicídios para cada 100 mil habitantes. Para fomentar o debate acerca do assunto e difundir a importância do combate ao suicídio, o CVV promove esse mês, no Brasil e no mundo, a campanha Setembro Amarelo.

Para compreender melhor o fenômeno do suicídio, o Jornal de Brasília contatou o doutor em psicologia, psicólogo clínico e professor universitário Carlos Augusto de Medeiros para explicar suas causas e esclarecer mitos na prevenção e combate ao suicídio.

Para Carlos Augusto, uma das grandes dificuldades está na forma como o assunto é tratado inclusive entre psicólogos no reconhecimento dos sinais. “O suicídio é um fenômeno muito complexo. Muitas vezes até mesmo psicólogos o vêem de forma muito superficial como se fosse relacionado apenas à depressão, que é a doença mais frequentemente associada a essa prática. O suicídio está relacionado a diversos transtornos comportamentais ou psicopatologias, não apenas à depressão.”

A identificação dos sinais de que uma pessoa possa estar planejando tirar a própria vida exige um acompanhamento a longo prazo, e é preciso escutar o que ela tem a dizer. “Alguns sinais exigem mais atenção: isolamento, muito tempo sem querer interagir com ninguém, deixar de fazer algo de que gostava. O tipo de conteúdo que ela publica nas redes sociais, o que curte, o que compartilha, também são fatores que podem ser acompanhados.”

A principal causa do suicídio, de acordo com Carlos Augusto, é a perda do sentido para a vida. “Em geral, o suicídio acontece quando a pessoa chega em um ponto em que não há mais motivo para se viver. Isso é particularmente problemático porque, na nossa cultura, os objetivos da nossa existência não nos são impostos. As pessoas não têm muitas oportunidades para desenvolver os próprios sentidos para existir, e acabam adotando o critério dos outros. Quando esses critérios não são alcançados, a própria vida perde sentido.”

Quadros graves de ansiedade também estão relacionados aos casos de suicídio. “A pessoa muito ansiosa com a sensação de que aquele quadro muito desconfortável não vai passar acaba muitas vezes enxergando o suicídio como válvula de escape”. Pessoas com uma existência muito passível de sofrimento também estão entre as mais vulneráveis. “Pessoas que sofrem vários abusos, não somente sexuais mas também morais em diversos contextos como na família, trabalho ou entre os amigos também têm seus quadros relacionados ao suicídio”.

Ajuda profissional

Medeiros afirma que os esforços para impedir uma pessoa de cometer suicídio não podem ser simplesmente individuais. “Suicídio não é assunto para amadores. Precisa ser tratado por uma rede de profissionais que entendam do assunto, atuando em conjunto, além de exigir o apoio de toda a rede social dessa pessoa. É um problema de família, uma questão de saúde pública que exige a cooperação de todos no tratamento. Não se pode tentar sozinho impedir um suicídio, pois a possibilidade de dar certo é muito baixa”.

Para quem reconhece em si mesmo o desejo de tirar a própria vida, a busca profissional deve ser imediata, e Carlos alerta para a ignorância comum em relação a como muitas pessoas enxergam o papel do psicólogo nesse aspecto: “A psicologia, assim como muitas áreas como arquitetura ou jornalismo, é uma profissão amaldiçoada: todo mundo acha que consegue fazer o trabalho do psicólogo, todo mundo acha que consegue fazer o trabalho do arquiteto. Tentam fazer sozinhos aquilo que profissionais treinaram muito para fazer. Então é comum ver blogueiros, youtubers, pastores e diversas outras pessoas sem qualificação oferecendo ajuda mas sem ter recebido treinamento para isso, o que é especialmente grave no caso do suicídio. O certo é procurar ajuda especializada”.

O CVV também é um órgão importante na prevenção ao suicídio. “Existem dois principais padrões de tentativa de suicídio: temos os casos pensados, em que a pessoa pensa, planeja e organiza como que vai realizar o suicídio; e casos em que a pessoa passa por um desespero momentâneo, uma explosão de ansiedade que a faz tentar tirar a própria vida. Nesse segundo caso, é de extrema importância que a pessoa ligue para o CVV, quando receberá uma escuta naquele momento capaz de lhe dar uma resposta emocional.

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