Menu
Brasília

Rosana: o relato da barbárie

Jornal de Brasília obtém, com exclusividade, trechos do depoimento dado pela mãe de Rhuan apenas duas horas depois de assassiná-lo

Marcus Eduardo Pereira

21/06/2019 6h35

Vanessa Lippelt
[email protected]

Por três vezes, após matar seu único filho esfaqueado, arrancar-lhe os olhos, retirar a pele do rosto e esquartejá-lo, Rosana Auri da Silva Cândido olha, impassível, para a câmera do delegado que foi atender à ocorrência e diz ter se arrependido. Sem dor. Sem lágrimas. Sem emoção.

Em vídeo e áudio obtidos com exclusividade pelo Jornal de Brasília do primeiro interrogatório realizado pela polícia duas horas após o crime, ainda na casa de Rosana e Kacyla, impressiona a frieza da assassina de Rhuan. Ouça:

“Eu esfaqueei ele, o Rhuan, meu filho”, confessa, indiferente. “Eu fiz isso porque eu não aguentava mais”, diz, sem explicar o que não suportava e olhando para o alto, como quem busca imagens construídas, imaginadas. Atrás de Rosana, pequenos papéis com mensagens religiosas colados na parede contrastam com o ambiente do crime macabro que acabara de ocorrer. Ela tenta justificar o ato declarando que, quando teve o filho, Maycon (pai do menino) e o sogro, Francisco, a humilhavam e espancavam. “Isso foi criando um trauma na minha cabeça.”

Rosana Auri da Silva Cândido. Foto cedida com exclusividade ao Jornal de Brasília

Ao longo desse primeiro depoimento, a mulher, então, descreve o filho, um pequeno menino de 8 anos e de espectro autista, como violento, que já tentara, inclusive, matá-la com uma faca anteriormente. “Hoje ele tentou novamente, ele tem o mesmo gênio do pai”, acusa Rosana.

Diferentemente do depoimento prestado na delegacia, a mãe de Rhuan disse que aconteceu uma confusão na sala – já na polícia, confessaram que o menino dormia quando foi esfaqueado – e que esse teria sido o motivo do ataque à criança. Rosana parece não discernir o que é real do imaginado, a verdade do que ela quer fazer crer a polícia. “Eu me estressei, ele estava me desobedecendo, ele dava muitos gritos, […] eu perdi a cabeça e esfaqueei ele.” Foram 12 facadas.

Sem esboçar nenhuma emoção, ela confessa que “cortou” o filho no colchão onde o menino dormia. Ouça:

“Cortei primeiro a cabeça, os braços e depois as pernas.”

Nesse primeiro contato com a polícia, Rosana não revela que Kacyla é sua companheira, nem e que as duas mantêm uma relacionamento amoroso desde que viviam em Rio Branco, no Acre. Ela se refere como irmã de consideração, “mas não de sangue.“

Quanto à participação da companheira, Rosana confirma que ela segurou o menino para ser esfaqueado, mas que foi ela sozinha quem o esquartejou.

Seguindo para o cômodo de paredes vermelhas onde seria o quarto do menino, vê-se duas mochilas num canto. De uma delas, o sangue escorre pelo chão e forma uma pequena poça.

O policial pergunta o que tem dentro de cada uma. “Uma tem os braços e a outra, as pernas.” Curiosamente, o colchão onde o menino foi esfaqueado 12 vezes não tem sangue. “Esse é mais um dos mistérios desse caso”, comenta o delegado responsável pelo caso, Guilherme de Sousa Melo, da 26ª Delegacia de Polícia de Samambaia Norte.

Ao final dos mais de nove minutos desse primeiro interrogatório, pela terceira vez, Rosana alega arrependimento. “Eu tenho certeza que eu tenho problema na cabeça por tudo o que eu passei durante nove anos”, tenta argumentar, sem explicar exatamente o que passou durante esse tempo.

Faltou Rosana combinar com Kacyla de darem a mesma versão para o crime. À polícia, a companheira foi contundente ao dizer que o objetivo de Rosana era sumir com o filho – o que ela definitivamente fez.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado