Inédito no Brasil, o uso de energia renovável a partir de resíduos sólidos está cada vez mais próximo no Distrito Federal. Em projeto desenvolvido juntamente com a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), a Secretaria de Projetos Especiais do DF (Sepe) planeja instalar três Unidades de Tratamento Mecânico Biológico (UTMBs), chamados de Ecoparques, com o objetivo de promover uma recuperação energética e tratamento sustentável de recicláveis e orgânicos da capital.
A princípio, os primeiros Ecoparques serão instalados na Asa Sul, no Gama e no P Sul, em Ceilândia – todos eles feitos a partir de Parceria Público Privada (PPP). O processo de tratamento dos resíduos irá gerar um biogás, que será capaz de beneficiar a geração de energia renovável e adubo orgânico. Até o momento, o tratamento dos A meta é ampliar o tratamento de resíduos sólidos urbanos no DF de 30% para 94%, com geração de biogás associada, aumento da reciclagem e redução de material aterrado
Uma das ramificações do projeto também é a implementação de Instalações de Recuperação de Resíduos (IRRs), além de um centro de visitação e treinamento para educação ambiental da população. Assim, além do melhor aproveitamento dos resíduos sólidos, o processo de encaminhamento deles começará desde as residências dos brasilienses, facilitando e promovendo o descarte consciente.
De toda a coleta seletiva no DF, segundo o apurado pela Sepe, apenas 40% é aproveitado para a reciclagem – o que significa que 60% do que é descartado nas residências brasilienses vai para o aterro sanitário, sem aproveitamento nenhum nem para o ser humano, muito menos para a natureza. A partir dos Ecoparques, comuns em países da Europa como Espanha, Itália e Portugal, a expectativa é que 100% dos resíduos sólidos produzidos no DF sejam revertidos para novos usos.
“Estamos usando conceitos que são usados na Europa há mais de 30 anos. Tudo o que estamos fazendo é o que países mais desenvolvidos fazem. Os Ecoparques são super comuns no dia a dia da população de lá”, destacou o técnico da Sepe, responsável pelo projeto dos Ecoparques, Antônio Dourado.
“Imagine que se está gastando muito dinheiro para pegar o lixo e enterrá-lo. É algo que pode virar riqueza, mas está sendo pouco aproveitado. Ele tem o poder de trazer economia de matérias-primas e gerar um avanço na economia circular, além da geração de emprego e renda. No fim das contas, uma quantidade importante de investimentos privados no DF será usada para criar alguns milhares de postos de trabalho diretos, produzindo riqueza e lucro”, afirmou ainda o engenheiro naval, especialista em energia e resíduos sólidos.
Todo o projeto terá o investimento de R$ 600 milhões e depois de passar pela consulta pública, irá para uma avaliação pelo Tribunal de Contas do DF (TCDF) e, posteriormente, por uma licitação, para que as empresas interessadas possam participar e garantir o melhor contrato, que beneficie principalmente a sociedade civil da capital. Somente após esse processo é que o objetivo da energia será definido, seja para o uso como biometano – por ônibus ou empresas de transporte para garantir combustível – ou para energia elétrica.
A poluição no DF, então, tenderá a diminuir cada vez mais, melhorando até mesmo o ar local, de acordo com Dourado. “Aterros sanitários e todo o manuseio do lixo são contribuintes para o efeito estufa com a produção de metano – que é 10 vezes mais potente que o CO². Vamos reduzir 75% da emissão de metano do setor de resíduos do DF”, garantiu o especialista.
“Sentimos que a capital do país precisa dar exemplo, ainda também por conta de ter um dos IDHs [Índices de Desenvolvimento Humano] mais altos do Brasil. Não podemos ficar sem um desenvolvimento sustentável consciente. […] Precisamos aproveitar o máximo e enterrar o mínimo possível. [O projeto] visa também aumentar a vida útil dos aterros sanitários”, ressaltou Dourado.
Ele destaca ainda que a educação, um dos propósitos da PPP, será um dos pontos principais do projeto. Está definido que, independentemente da empresa que assumir a licitação, terá de colocar um setor específico para visitações educacionais. O contato com professores e treinamento dos docentes é uma das estratégias para que o conhecimento seja repassado nas escolas e uma nova cultura consciente e ecologicamente correta seja ensinada nas instituições de ensino da capital.