Começa neste sábado (13) mais um curso do programa Família Acolhedora, serviço de abrigo temporário que atende crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Gerido pela Organização da Sociedade Civil Aconchego, o programa está com 35 vagas ainda disponíveis.
O serviço é uma política pública continuada que funciona em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social do Distrito Federal (Sedes-DF). A iniciativa busca garantir um acolhimento mais personalizado e afetuoso para os pequenos que precisaram ser afastados de seus lares originais.
Nesta quarta-feira (10), uma conversa online com a psicóloga e vice-presidente do Instituto Aconchego, Julia Salvagni levou informações aos voluntários sobre a política pública de acolhimento do programa. O bate-papo é realizado toda primeira quarta-feira do mês e é aberto para que a comunidade entenda melhor como funciona o serviço. O programa abre vagas todos os meses e, para quem deseja se inscrever, basta preencher o formulário por meio deste link. Ao fazer isso, uma técnica entra em contato a cada vez que se inicia uma nova turma, para inserir o participante no curso.
Como funciona
“É inquestionável a importância do programa Família Acolhedora. Mais do que a garantia de lar temporário para crianças com direitos violados, é uma medida que visa garantir, acima de tudo, humanidade, afeto e proteção aos pequenos. Entendemos que cada acolhimento não apenas transforma a vida daqueles que são acolhidos, mas também enriquece e fortalece a comunidade como um todo”, declara a secretária de Desenvolvimento Social, Ana Paula Marra.
Os pré-requisitos para se candidatar no programa são: não ter antecedentes criminais, residir no DF, não estar cadastrado no sistema nacional de adoção e não ter condições de saúde que limitem o ato de cuidar. Além disso, é importante ter disponibilidade de tempo e todos os membros da família tem que concordar em fazer parte do acolhimento.
Ao se inscrever, os participantes recebem um curso gratuito para famílias acolhedoras, que ocorre de forma mensal e tem uma carga horária de 18 horas/aulas, com encontros individuais junto a uma dupla psicossocial. São dois meses de treinamento com aulas que perpassam aspectos práticos, jurídicos e psicológicos, passando também pelo processo de desacolhimento.
O curso começa no sábado logo após o primeiro bate-papo e tem cinco encontros (dois on-line por semana) que abordam tópicos correlatos ao acolhimento, como política de assistência social, desenvolvimento infantil, diferentes configurações familiares, narrativas de vida, desafios cotidianos do acolhimento, além de luto e despedida.
É preciso que os participantes estejam preparados não só para dar suporte, mas também trabalhar os potenciais daquela criança para que ela esteja preparada para voltar ao seu lar de origem ou para um processo de adoção.
Durante o curso, é marcada uma entrevista com a família e a equipe técnica, para traçar um perfil de acolhimento, com os desejos e motivação da família – seguida por uma segunda entrevista com visita domiciliar. Após essa fase, a equipe faz a devolutiva se aquela família será ou não uma potencial candidata para o acolhimento.
“É um processo de reflexão para as pessoas que participam. Nem todos que fazem o curso acolhem porque muitas pessoas desistem por ir na intenção de adotar. Outras não têm a disponibilidade que se precisa, então refletem melhor. Além disso, o programa traz a importância da sociedade se corresponsabilizar pelas crianças. Às vezes, a gente se coloca no papel de crítico, questionando como alguém consegue abandonar uma criança, mas não se coloca no papel de acolher – que é um lugar transformador da sociedade”, destaca a vice-presidente da Aconchego.
Experiência acolhedora
O servidor público Roberto Pojo e a esposa dele, Camila Pojo, foram da primeira turma formada, sendo uma das famílias acolhedoras pioneiras do programa. O casal cuidou de três recém-nascidos, um bebê de 2 anos e uma adolescente de 17.
Das crianças acolhidas, duas foram para adoção. O casal mantém contato com os pais adotivos, algo que fica à escolha da família adotiva. Eles até passaram o Natal juntos. Já outra criança voltou para a família original, aos cuidados de uma tia, da qual o casal recebe notícias esporádicas. Ao comentar o assunto, Roberto lembra que é necessário estar preparado para isso e frisa que uma das funções é justamente se apegar.
“Essa transferência de carinho é fundamental para a criança. Sempre foi claro que o nosso papel é transitório. Na verdade, fica um sentimento de dever cumprido. Oferecer para as crianças uma recuperação no desenvolvimento delas antes do encaminhamento para a adoção é um processo gratificante”, detalha.
Roberto conta que a primeira bebê acolhida pelo casal foi, também, a primeira que saiu do abrigo familiar para a adoção e recorda o comentário feito por uma funcionária da Vara da Infância e da Juventude, de que nunca tinha visto uma criança tão ativa. “Às vezes, a instituição tem que compartilhar muito a atenção, pela quantidade de crianças. Ela frisou bastante que a bebê foi para lá mais saudável, amorosa e carinhosa. Faz parte você saber que esse papel temporário que você tem vai fazer uma diferença enorme para as crianças”, acrescenta o servidor.
Atendimentos
A Sedes-DF tem dois termos de colaboração assinados com o Grupo Aconchego. O primeiro, válido até outubro de 2024, prevê o atendimento de até 20 crianças com idade até 6 anos. Já o segundo, em vigor até 2028, oferece 45 vagas para a faixa que vai até 18 anos.
Agência Brasília