Menu
Brasília

Na Feira de Ceilândia, nordestinos relembram motivações para mudar para a “capital dos sonhos”

Mais de 28 mil homens deixaram o agreste para trabalhar na construção de Brasília, e, em alguns casos, eram acompanhados por suas esposas

Redação Jornal de Brasília

01/04/2023 10h08

Foto: Agência de Notícias CEUB

Luana Adnet e Gabriel Botelho
(Jornal de Brasília/Agência de Notícias CEUB)

Desde que os pilares de Brasília eram erguidos, milhares de nordestinos migravam à cidade em busca de uma vida melhor. Antes mesmo de ser inaugurada, os nordestinos representavam 44% da população de Brasília, segundo o IBGE.

Na Feira Central de Ceilândia, uma das mais populares da Região Administrativa, há uma grande concentração de nordestinos, que não são apenas comerciantes, mas pessoas com histórias de superação diferentes, mas sempre com o mesmo objetivo, “melhorar a condição de vida”.

Mais de 28 mil homens deixaram o agreste para trabalhar na construção civil da capital do Brasil, e, em alguns casos, eram acompanhados por suas esposas.

Desde a marmita

Esse é o caso dos pais de Francinaldo Pinho de Souza, ‘Naldo’, dono do restaurante Kome in Pé, localizado na Feira Central de Ceilândia desde 1987.

O restaurante foi herdado de sua mãe, que começou cozinhando para os trabalhadores da obra de seu marido antes de ter um ponto fixo.

“Meu pai chegava lá no alojamento com a marmita dele e o pessoal gostava do cheiro. Aí conseguiram um espacinho na cantina na obra para ela cozinhar. Depois de quinze anos cozinhando nessa situação surgiu a oportunidade de ter um box aqui na feira da Ceilândia”, conta Francinaldo.

Seus pais vieram do Ceará em 1968. Seu pai trabalhava como carpinteiro em obras. “Era a cidade dos sonhos pra quem quisesse ter oportunidade de crescer na vida, ter alguma coisa. Lá meu pai era roceiro, não tinha nada”, explica o empresário. O restaurante de comida nordestina tem como carro chefe o Mocotó, receita ensinada por sua mãe, que foi quem o introduziu à culinária.

Longo caminho

Além de terem anos de instalação na feira, há vendedores que chegaram a viajar mais de 2,4 mil km. Francisca Francineide de Araújo Dantas, conhecida como ‘Preta’ Danta, vendedora de pastel, saiu do Rio Grande do Norte e desembarcou em Brasília, com 15 anos.

“Os meus pais trabalhavam na roça, e, pouco antes de eu vir para cá, faleceram. Trabalhei numa banca de queijo, que era da pessoa que me trouxe do nordeste”, diz a vendedora.

A vinda à Brasília por uma ideia de vida menos complicada foi perturbada pela pandemia. Mais de 1,7 milhões de comerciantes, assim como Francisca, foram afetados negativamente pela pandemia. A empresária só inaugurou a sua pastelaria perto do início da pandemia. Seu negócio ficou parado, causando prejuízos, mas graças a um recurso que havia ganhado da sua antiga empresa, conseguiu pagar o aluguel.

“Aqui a sensação é de que é tudo muito preso, existe menos liberdade”, é o que explica Antônio Alves de Souza. O cearense que trabalha vendendo roupas fala sobre as diferenças de realidade na vida urbana e rural. “Se você só tem aquilo para comer, tá ótimo, é aquilo mesmo. Não tem muita frescura”. Antônio se mudou para Brasília sozinho com 21 anos, durante a pandemia, o que complicou, de primeira, o seu desenvolvimento profissional. Mas segundo ele, mesmo sem ter conseguido auxílio a vida em Brasília era, simplesmente, mais oportuna do que de onde veio.

Antônio está desde então sem ver seus pais. Fala sobre a sensação que tinha de conexão com a natureza que se tem por morar na área rural e falta dessa sensação. Por outro lado, afirma que tem certeza de que a oportunidade que teve aqui, mesmo tendo formação, não teria algo assim de onde veio.

Segundo dados da Codeplan de 2018, há 639.242 pessoas de origem nordestina morando no Distrito Federal. Esse número representa 50% das pessoas que vieram de fora da Unidade Federativa.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado