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Brasília

Morte de menino por suspeita de meningite causa temor de surto no DF

Arquivo Geral

29/08/2014 7h37

Daniel Pereira de Araújo, de 4 anos, era uma criança alegre, que tinha uma rotina normal para sua idade. Ia à escola e tinha momentos de lazer com os coleguinhas. Tudo parecia tranquilo, mas, de repente, vieram febre, manchas na pele, edema – causado pelo acúmulo de líquido -, uma parada respiratória e o óbito. O menino deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), de São Sebastião, na sexta-feira (22) e na última segunda-feira já havia falecido. A suspeita é de que o garoto tenha contraído meningite, infecção provocada por  vírus ou bactéria que consegue vencer as defesas do organismo e ataca as meninges, membranas que revestem o sistema nervoso. 

Em todo o ano passado, foram registrados 16 casos e três mortes provocadas pela doença no Distrito Federal. Neste ano, já são seis casos e mais quatro mortes. A recorrência da meningite tem assustado pais e responsáveis, que estão promovendo uma série de discussões nas redes sociais e uma corrida aos postos de saúde.  

A Secretaria de Saúde informou que o paciente foi atendido na UPA de São Sebastião por uma equipe médica composta, inclusive, por uma pediatra. “Após dar entrada no hospital, o garoto foi diagnosticado com exantema febril – mancha na pele –, tomou medicação e recebeu alta médica, conforme o quadro clínico apresentado. Ainda de acordo com a pasta, no domingo (24), ele apresentou evolução para edema – inchaço provocado por líquido acumulado –, o que piorou rapidamente seu estado de saúde.

A secretaria acrescentou que, na manhã de segunda-feira (25), o paciente deu entrada na unidade de saúde, por volta das 9h, apresentando parada cardiorrespiratória. A equipe de plantão tentou reanimá-lo, porém não obteve sucesso e o paciente veio a óbito”, explica.

Diante desse caso, por precaução, todas as pessoas envolvidas com a criança (equipe médica e família) estão sendo medicadas com antibióticos para evitar a proliferação da meningite, que ainda não está confirmada, segundo o órgão. Apesar dos casos recentes confirmados, a pasta destaca que não há surto da doença no DF.

Para o tio de Daniel, o cabeleireiro Francisco Araújo, 42 anos, o garoto foi mais uma vítima de negligência médica. “O Daniel entrou no pronto socorro andando, apenas com febre e ânsia de vômito”, lembra.

Familiares do garoto anseiam por respostas

Na versão do tio Francisco Araújo, o menino deu entrada na UPA e foi atendido por uma médica que solicitou exames de sangue. “Só que mudou o plantão e ela acabou indo embora sem checar os resultados”, conta. Ainda segundo ele, o médico que entrou com a mudança de turno também não verificou os exames. “Ele prescreveu alguns medicamentos e liberou o Daniel, mesmo com a evolução do quadro clínico”, lamenta.

O menino, acrescentou Araújo, voltou para casa e passou a usar a medicação receitada pelo médico, mas sem sinal de melhora e com manchas pelo corpo, voltou à UPA na última terça-feira, às 9h. “Quando chegamos ao hospital ele já estava muito mal. Mesmo assim, nos informaram que teríamos de esperar, pois não havia médicos disponíveis no momento. Desesperados, corremos até um batalhão do Corpo de Bombeiros próximo e pedimos ajuda.  Foi quando um dos sargentos, vendo a situação dele, nos acompanhou até o hospital novamente”, afirma.

De acordo com o tio, na presença do militar o atendimento no hospital mudou. “Em cinco minutos apareceram três médicos. A situação já era tão crítica, que assim que o examinaram o colocaram na maca e entraram com ele. Mas já era tarde, horas depois ele teve um edema, uma parada respiratória e faleceu”, disse.

A família, porém,  não tem certeza da causa da morte. “A Secretaria de Saúde diz acreditar em meningite, mas achamos que pode ser um quadro alérgico que se descontrolou. Isso porque as manchas na pele do Daniel pareciam mais com manchas alérgicas. Além disso, na última vez que ele deu entrada no hospital já apresentava edema de glote (reação alérgica grave, que causa a obstrução das vias respiratórias)”, alega.  

O laudo com a causa da morte sai em 30 dias. Apesar disso, durante o enterro de Diego, nesta quarta-feira (27), o caixão permaneceu fechado – recomendação característica em casos de meningite. 

Inconformados com a situação, os pais do garoto clamam por justiça. A 30ª DP (São Sebastião) apura o caso.

Outra suspeita preocupa

A possibilidade de um outro caso de meningite, dessa vez em Águas Claras, causou pânico nas famílias da região. A exemplo do que aconteceu com Daniel, uma menina, também de quatro anos, teria dado entrada no hospital particular Anchieta, em Taguatinga, na última terça-feira, apresentando febre e dores pelo corpo. E seu destino não foi diferente. Poucas horas após ter sido internada a garota veio a óbito. 

A causa da morte ainda é desconhecida e a família aguarda o resultado de exames. Meningite e dengue teriam sido algumas das hipóteses levantadas pela equipe médica. Procurada, a família da criança, que preferiu não se identificar, também atribui a morte da menina a uma falha médica, já que ela estaria aparentemente saudável quando chegou ao hospital. 

Mobilização

O caso deixou as mulheres do grupo Mães Amigas de Águas Claras preocupadas. Por meio da página no Facebook, elas têm trocado mensagens sobre o tema, como locais para vacinação contra meningite, valores das vacinas e tipos de contágio. A empresária Fabiana Tom, 42, postou mensagem na quarta-feira alertando as amigas sobre a necessidade de vacinar os filhos contra a meningite viral. “Vacinei meu filho hoje em uma clínica no Edifício Pacini, na Asa Sul. Dei logo a vacina Meningite Quadrilavente – Novartis que cobre todas as Meningites ACWY – conjugada. Minha filha tomou tranquila e até agora não apresentou nem febre, nem carocinho na perna”, contou.

Mobilização na internet

Mais de 120 pessoas curtiram a postagem de Fabiana. E, abaixo dela, uma série de mães preocupadas lançavam questionamentos. “Qual o valor?”, “Será que o plano de saúde cobre?” ou “A partir de qual idade pode vacinar?”. Ela diz que resolveu abordar o assunto porque ficou extremamente preocupada com os casos dos quais tomou conhecimento recentemente. 

“Não sei se é verdade, mas fiquei sabendo de dois casos em Taguatinga. Acredito que era mesmo meningite porque disseram que os caixões estavam fechados durante os enterros”, aponta.

Mas o que a chocou mesmo foi a morte da menina de Águas Claras, filha de uma colega do grupo Mães Amigas. “Já estava assustada, depois disso eu fiquei alarmada. Tenho dois filhos, um de 19 e outro de 10 anos. Então corri até a pediatra e tratei de me informar sobre qual vacina o mais novo deveria tomar”, disse. 

A designer Viviane Amorim, 38, é uma das moderadoras do grupo Mães Amigas de Águas Claras. Para ela, é natural que os casos recentes assustem os pais, mas é preciso evitar o pânico. “Todos ficaram chocados. Muitas mães do grupo conheciam e até conviviam com a família da garota a ponto de seus filhos brincarem juntos. Além disso, foi muito de repente. De manhã a menina parecia saudável, estava brincando e no fim do dia faleceu”, afirmou.

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