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Brasília

Morte de ciclistas em acidentes de trânsito

Segundo dados da Série Histórica de Vítimas Fatais em Sinistros de Trânsito, do Detran-DF, em 2022, foram registradas quatro mortes de ciclistas até março

Redação Jornal de Brasília

18/04/2022 21h04

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Por Amanda Karolyne
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As vias do Distrito Federal são perfeitas para os ciclistas pedalarem. A cidade fechou o ano de 2021 com 616 quilômetros de malha cicloviária, e existem planos de aumentar esse número. Ainda assim, nas pistas de Brasília, que está em segundo lugar no ranking brasileiro de maior estrutura para os ciclistas, ocorrem muitos acidentes de trânsito com vítimas fatais. No último domingo, 17 de abril, uma mulher foi autuada por homicídio culposo, ao colidir com um casal de ciclistas.

De acordo com Ana Júlia Pinheiros, coordenadora de comunicação da Ong Rodas da Paz, essa foi a segunda vez que uma motorista embriagada num domingo de manhã, matou uma pessoa. “Ela estava com 0,62 mg de álcool, acima do dobro do que a lei considera crime”, destaca. Ana questiona onde a fiscalização tem falhado para que tanta gente bêbada consiga dirigir. “Porque não fazem blitz inteligentes nos bares e festas? Cadê o planejamento? Ela dirigia em alta velocidade em uma rua residencial, de acordo com as testemunhas, as duas bicicletas ficaram retorcidas na pista. A motorista inclusive desacatou os policiais. Como um delegado recebe uma situação desta e enquadra como homicídio culposo? E o dolo eventual, que grita neste caso?” questiona. “A Stephania Midiã Silva de Araujo, estava bêbada o suficiente antes das 10h. De onde ela vinha? Porque ela não foi pega?”.

O crime ocorrido no dia 17 de abril, acabou com duas vítimas fatais: o ciclista Hilberto Oliveira da Silva, 47 anos, morreu no local. Já a ciclista Vera Lúcia da Cruz Sampaio, 42, foi encaminhada ao Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) com fraturas e sangramento na cabeça, mas sofreu duas paradas cardiorrespiratórias e não resistiu. “O que se espera do sistema de Justiça é que ele desestimule futuras condutas criminosas no trânsito, a partir da forma como irá tratar Stefânia Araújo”, completa.

Ela relembra da época da campanha Paz no Trânsito, em que havia blitz em locais estratégicos, mas que hoje considera que o número de apreensão seja baixo. Para ela, existe uma falta de segurança nas vias do DF. “Quatro crimes de trânsito recentes que tiveram ciclistas como vítimas, foram provocados por motoristas embriagados, sem habilitação e em alta velocidade. Logo, houve cumplicidade do Estado, do GDF, ao falhar em coibir excesso de velocidade, e embriaguez ao volante”, reforça. Para ela, prova de que existe uma falha das autoridades ao lidar com os crimes no trânsito, foi a anulação da condenação de Johann Homonnai, pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Johann foi o motorista que matou o ciclista Raul Aragão, em 2017, na L2 Norte.

Ana afirma que o objetivo do Rodas da Paz, é brigar por todas as condições que evitem crimes de trânsito. “O principal é a redução de velocidade. Não tem outra cidade no Brasil com uma via de 80 km/h em uma área urbana”. A coordenadora salienta que para a Organização Mundial de Saúde, para a área urbana, a velocidade máxima tem que ser 50 km/h. E ela acredita na luta por uma infraestrutura melhor, e no trabalho de pacificação de trânsito. “Existe um acordo econômico, para que não se enxergue o automóvel como uma arma. E ele é uma arma muito eficiente”, frisa. Ela explica, que se a sociedade entender que o carro é uma arma poderosa, os pais não vão mais dar carros de presente para os filhos assim que fizerem 18 anos.

Cooperação da população e dos órgãos de trânsito

Segundo dados da Série Histórica de Vítimas Fatais em Sinistros de Trânsito, do Departamento de Trânsito do Distrito Federal, em 2022, foram registradas quatro mortes de ciclistas até março. No ano anterior, foram 12 mortes ao todo. A série documenta dados acerca de acidentes de trânsito desde os anos 2000. Desde então, o maior número de mortes de ciclistas foi registrado em 2003.

O diretor de educação do Detran DF, Marcelo Granja, acredita que a referência que se tem hoje de conhecimento de trânsito está muito maior e que o Detran está mais presente e mais efetivo. Ele aponta, que se você perguntar para alguém a importância de usar o cinto e de não beber, até os infratores vão saber responder. “Mas aí ,entra a questão da percepção individual, de estabelecer o certo e errado, porque a partir do momento que a pessoa bebe – porque a gente aborda as pessoas, principalmente nos bares e as pessoas respondem que sabem se controlar ou que bebem socialmente. Mas essa referência de ‘eu sei parar’, já é de quem bebe e não sabe, porque ninguém sabe parar de beber, o álcool em qualquer dosagem cria uma mudança comportamental”, afirma. Então, se a pessoa bebe ela perde a noção de distância e velocidade, e acaba acionando o pedal e não percebe que está em alta velocidade, perdendo assim, a visibilidade da via. “A velocidade somada com álcool tem perda total da reação”, frisa.

Ele informa que a equipe do Detran mapeia os principais pontos de risco, mas que nem sempre vai dar para os órgãos de trânsito estarem em todos os lugares. “Hoje em termos de notificação tem um número bastante significativo, porque o departamento mapeia os horários onde ocorrem festas, os locais como bares e restaurantes”. Logo, ele acredita que o problema tem de ser assumido como parte da população, com a cooperação da sociedade e das autoridades. Marcelo salienta que o melhor controle para quem bebe, é não pegar o carro. “Hoje temos tantos meios de se deslocar, como aplicativos para fazer deslocamento de forma mais segura. Mas, claro que o departamento vai tentar mapear a maior parte dos pontos, mas tem lugares que não vão passar pelo mapeamento, como nesse caso onde era um horário que não tem muito fluxo”, comenta.

Ele explica que se a pessoa é pega sob efeito de álcool, tem a penalidade de suspensão da carteira e o fator multiplicador da multa. “Só esse fator já inibiria pela situação financeira, entretanto, às vezes não inibe, e o que inibiria seria a consciência do risco, mas mesmo assim na hora que bebe isso tudo é perdido”. Então, Marcelo opina que o objetivo do Detran é mostrar continuamente para a população, que existe o risco da atitude de beber e dirigir. E com a bebida e o volante, vem a consequência. “E aí tem a medida da pena de uma detenção, ou serviço à comunidade. E também entra a questão da justiça brasileira, o que às vezes é mais complexo, a aplicação das leis, mesmo que nós tenhamos leis boas”, completa. Mas ele costuma dizer que, uma multa você paga, agora a vida, essa você não traz de volta. “Então, todos nós temos que fazer nossa parte, o tema esse ano que estamos trabalhando é juntos salvamos vidas. Porque tem que se trabalhar a percepção da consequência”.

O diretor de educação afirma que o departamento tem feito palestras, e retomado o trabalho nas empresas para alertar condutores da condição de risco e visibilidade. E ainda, um trabalho com a Secretaria de Educação nas escolas com teatro e coisas mais lúdicas. “Mas, temos trabalhado que os órgãos não fazem nada sozinho, a gente precisa do apoio de toda a população, desde o trabalho em casa, e na escola, aí onde nós entramos com nosso material lúdico”, conta. Para ele, o Detran tem que mostrar que no trânsito, deve ocorrer o compartilhamento da via, e um estar atento ao outro, independente de ser ciclista, pedestre, ou condutor de moto ou veículo, tem que ter noção dos direitos e deveres.

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