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Brasília

Mistério continua: chacina de família não teve motivação financeira

Com base no depoimento dos suspeitos, a PCDF trabalhava com a possibilidade de que os crimes teriam sido encomendados

Geovanna Bispo

23/01/2023 7h09

Foto: Reprodução

Mais uma reviravolta no caso da família assassinada no início do mês. Uma pessoa próxima de uma das vítimas negou que a motivação do crime tenha sido financeira. Segundo Suzana*, os supostos R$ 400 mil da venda de um imóvel nunca existiram.

Com base no depoimento dos suspeitos, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) trabalhava com a possibilidade de que os crimes teriam sido encomendados por Marcos Antônio e Thiago Gabriel, que teriam prometido R$ 100 mil para que eles matassem a família. Porém, após o corpo de Marcos ter sido encontrado, a teoria foi deixada de lado. Ainda assim, a corporação considerava que os assassinatos teriam sido motivados por dinheiro.

“Nada foi vendido, não tem dinheiro. […] Pelo menos na conta da Renata e da Gabriela nunca existiu R$ 400 mil, nunca existiu casa”, contou a parente ao Jornal de Brasília e ao programa Pão na Chapa.

Ainda de acordo com ela, o último imóvel vendido por Renata Juliene Belchior foi em setembro de 2021, no Condomínio Porto Rico, em Santa Maria, região em que as vítimas moravam. “Há um ano e meio atrás ela vendeu um imóvel no valor de R$ 68 mil, mas foi só”, continuou.

Na verdade, para Suzana, o que motivou o crime foi a suposta inveja dos assassinos por Marcos Antônio. Dois dos acusados pelo crime trabalhavam para Marcos e moravam na mesma chácara que a família.

Caso

No último dia 13, a cabeleireira Elizamar e seus três filhos desapareceram após deixarem a casa do sogro, onde ela teria ido para buscar o marido, Thiago Gabriel Belchior. Dois dias depois, o carro da cabeleireira foi encontrado queimado com quatro corpos carbonizados na GO-436, em Luziânia (GO).

No mesmo dia, Thiago, os sogros de Elizamar, Marcos Antônio de Oliveira e Renata Juliene Belchior, e a cunhada, Gabriela Belchior, também desapareceram. Na madrugada de segunda-feira (17), o carro de Marcos foi encontrado também queimados com os possíveis corpos da esposa e da filha dele, na BR-251, próximo a Unaí (MG).

Ainda no dia 17, a ex-esposa de Marcos, Cláudia Regina Marques de Oliveira, e a filha dela, Ana Beatriz Marques de Oliveira, também tiveram o desaparecimento registrado. Mesmo assim, familiares delas afirmam que elas teriam sumido ainda no dia 13.

Três homens foram presos acusados de participação no crime. Dos 10 desaparecidos, até o momento, sete corpos foram encontrados, mas apenas cinco foram identificados pelo Instituto Médico Legal (IML). “Ainda temos esperança que ele [Thiago] apareça vivo”, disse a familiar.

Na última quarta-feira (18), a PCDF e o Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) encontraram o corpo de Marcos enterrado na casa onde Renata e Gabriela teriam sido mantidas em cativeiro, em Planaltina.

O cadáver, enterrado em uma cova com 30 a 50cm, estava decapitado e sem os braços. Segundo o tenente Abreu do CBMDF, o estado de decomposição indica que Marcos foi morto entre 4 e 10 dias atrás.

4º suspeito

A PCDF está procurando o quarto suspeito de participar do sequestro e assassinato da família. Carlomam dos Santos Nogueira, de 26 anos, teria relação com Horácio Carlos e Gideon Batista, outros suspeitos já presos por participação nos crimes. Além deles, Fabrício Silva Canhedo, de 34 anos, também foi preso acusado ter sido contratado para vigiar Renata e Gabriela no cativeiro.

Vaquinha

Familiares das vítimas criaram uma vaquinha para ajudar no transporte e sepultamento dos corpos. Os corpos de duas vítimas estão em Belo Horizonte e precisam ser trazidos para o Distrito Federal para serem velados.

Segundo Suzana*, parente próxima de uma das vítimas, os corpos da Elizamar da Silva e de seus três filhos já foram liberados para serem enterrados, mas os de Gabriela e Renata ainda não foram liberados pelo Instituto Médico Legal (IML). “Nós não sabemos como, nem quando e nem como vamos trazê-las para o sepultamento”, explicou.

Os sete dias de investigação da chacina que chocou o país

Domingo, 15 de janeiro

A PCDF começa a investigar o desaparecimento de Elizamar da Silva e os seus três filhos pequenos. Uma testemunha informou para a equipe policial que a cabeleireira disse, no dia 12 de janeiro, que estava indo para o condomínio dos seus sogros no Itapoã.

Um boletim de ocorrência registrado na 33º DP de Santa Maria denunciava o desaparecimento de mais quatro integrantes da família: Thiago, companheiro de Elizamar, Renata e Marcos Antônio, sogros da cabeleireira, e Gabriela, tia das três crianças.

Segunda-feira, 16 de janeiro

Na madrugada, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) encontrou um Fiat Siena carbonizado com dois corpos dentro na BR-251, próximo ao município mineiro de Unaí. O veículo era de propriedade de Marcos Antônio, sogro de Elizamar. Na sexta-feira, 13 de janeiro, a PCGO já havia encontrado o carro da cabeleireira incinerado junto com outros quatro corpos no km 69 da GO-436, próximo a cidade de Cristalina.

Para o Jornal de Brasília, Maria Josineide, também cabeleireira na 307 Norte e amiga de Elizamar há 10 anos, disse não entender o motivo do desaparecimento e destacou o amor dela pelos seus filhos: “Na quinta-feira, as crianças estavam brincando aqui. Ela era muito legal, amiga da gente, brincalhona”.

Terça-feira, 17 de janeiro

A PCDF prendeu dois suspeitos pela chacina: Gideon Batista de Menezes, de 55 anos, e Horácio Carlos Ferreira Barbosa, de 49 anos. Os dois trabalhavam em uma fazenda de Marcos Antônio, sogro de Elizamar. Gideon foi detido com os braços e os pescoços queimados, o que chamou a atenção dos policiais.

A equipe da 6º Delegacia de Polícia do Paranoá, que investiga o caso, afirmou, em uma coletiva de imprensa, que os desdobramentos indicavam a suspeita de que Thiago e Marcos Antônio teriam encomendado o assassinado de Elizamar e as três crianças. Para os policiais, os detidos disseram que irão receber R$ 100 mil dos dois após matar as vítimas.

A PCDF encontrou o cativeiro onde Renata Belchior e Gabriela Belchior, mãe e irmã de Thiago Belchior haviam sido mantidas como reféns. A residência fica no Vale do Sol, na região administrativa do Arapoangas. Fabrício Silva Canhedo, 34 anos, também foi preso por suspeitas de fazer a vigilância do cárcere.

Quarta-feira, 18 de janeiro

O Instituto Médico Legal (IML) de Belo Horizonte confirmou que os corpos encontrados no carro carbonizado em Unaí eram femininos. Em seu depoimento, Fabrício Canhedo disse que Renata e Gabriela Belchior foram mortas no veículo.

Na residência onde as duas foram mantidas reféns, cachorros do Corpo de Bombeiros Militares do Distrito Federal (CBMDF) alertaram a presença de algo estranho no chão da garagem. Os bombeiros cavaram o local e encontraram um corpo masculino decapitado e desmembrado em uma cova rasa. A descoberta fez com que a hipótese de que Marcos Antônio e Thiago premeditaram a chacina “perdesse força” no seguimento das investigações.

Quinta-feira, 19 de janeiro

A perícia da PCDF confirma que o corpo encontrado no cativeiro é de Marcos Antônio, sogro de Elisamar. A PCGO confirma que os quatro corpos encontrados no carro carbonizado em Cristalina são de Elizamar e os seus três filhos pequenos. A cabeleireira e as suas crianças vão ser enterradas nesta segunda-feira (23), no cemitério municipal de Planaltina de Goiás.

As investigações agora trabalham com a hipótese de que toda a família está morta e que os suspeitos premeditaram a chacina. Equipes de busca procuram por novos corpos no condomínio de Marcos Antônio e Renata no Itapoã, e em um lixão no Vale do Amanhecer, em Planaltina. Nada foi encontrado.

Sexta-feira, 20 de janeiro

Um “cheiro forte” no cativeiro onde o corpo de Marcos Antônio foi encontrado motiva os investigadores a fazer uma nova busca por outros restos mortais. Os policiais não encontraram novas vítimas, mas verificaram vestígios de sangue em uma sacola plástica e em respingos espalhados pela residência.

Domingo, 22 de janeiro

A PCDF revelou a identidade de um quarto suspeito de participar da chacina. Carlomam dos Santos Nogueira, 26 anos, mora em Santa Maria, região administrativa onde Elizamar vivia com seus três filhos, e é integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC). Os investigadores descobriram impressões digitais dele no cativeiro do Vale do Sol.

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