Menu
Brasília

Livro de três cientistas investiga experiências de quase morte, mediunidade e vidas passadas

O professor de Psiquiatria e um dos autores do livro “Ciência da Vida após a Morte”, Alexander Moreira-Almeida, traz os principais aspectos retratados nesta pesquisa que aborda a maior dúvida da humanidade.

Redação Jornal de Brasília

11/09/2023 19h56

Divulgação

Por Ana Beatriz Cabral Cavalcante
Agência de Notícias do CEUB/Jornal de Brasília

Dois psiquiatras e um filósofo lançaram, na versão em português, o livro “Ciência da Vida após a Morte”, que, segundo eles, marca uma nova etapa na divulgação das pesquisas em ciência e espiritualidade.

O estudo é assinado pelos psiquiatras Alexander Moreira-Almeida e Marianna Costa e pelo filósofo Humberto Schubert Coelho, pesquisadores do NUPES-UFJF. A pesquisa, de acordo com os autores, investiga evidências sobre as questões mais desafiadoras e difundidas ao longo dos séculos, culturas e religiões: a sobrevivência da consciência humana após a morte.

O livro é o fruto de aproximadamente 30 anos de pesquisa. Teve como objetivos apresentar um panorama conciso de mais de 150 anos de estudos acadêmicos científicos e torná-lo acessível a todos.

Como a intenção do grupo de autores é justamente atingir um duplo público, o acadêmico e o geral, os autores têm lançado a obra em diversas cidades do Brasil. O estudo foi apresentado nas universidades federais do Rio de Janeiro, de Juiz de Fora e do Paraná.

Agenda em Brasília

Nesta segunda-feira (11), os autores estarão em Brasília, na Livraria Travessa do Casa Park a partir das 18 horas com um bate-papo e sessão de autógrafos. O livro estará para adição na livraria no valor de R$55.

Na terça-feira (12), estarão às 9h em uma Aula Magna na Universidade Católica de Brasília, no programa de Pós-Graduação e Psicologia.

Por dentro da leitura

Um dos autores, Alexander Moreira-Almeida, professor titular de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), concedeu entrevista à Agência Ceub ao qual apresenta os principais pontos estudados e linhas de investigação.

Confira a entrevista a seguir.

Agência de Notícias Ceub – Qual foi a principal motivação por trás da pesquisa que culminou no livro?

Alexander Moreira-Almeida – Tem aproximadamente 30 anos que a gente faz pesquisa sobre a espiritualidade, a religiosidade humana e especialmente, o impacto dela sobre a saúde. E hoje em dia, esse é um tema que tem crescido muito e se desenvolvido. Sobre a importância da espiritualidade para as pessoas, o quanto isso impacta a vida das pessoas, etc.

A maioria das tradições espirituais e religiosas, elas falam de certa forma, numa certa sobrevivência da vida após a morte. No budismo, hinduísmo, islamismo, cristianismo, indígenas brasileiros, nativos na África. Todas as tradições têm uma ideia de sobrevivência da alma, do espírito, da mente, seja o que for. Só que esse tema sempre foi tratado basicamente ou pela religião ou pela filosofia.

De modo geral, a gente não pensa nisso como um tema científico. E o nosso objetivo foi tentar investigar o que tem de evidência científica de pesquisa sobre essa ideia ou sobre essa crença de que existe alguma forma continuidade no ser humano após a morte.

E quando nós começamos a investigar, chama muito atenção que na realidade tem mais de 150 anos de pesquisa acadêmica científica sobre o assunto e pesquisa que envolveu muitas das melhores mentes da humanidade na ciência e na filosofia.

O que chama a atenção, por outro lado, é que a maioria das pessoas no ambiente científico, religioso ou população geral, desconhecem essas pesquisas. Então, o livro teve esse objetivo. Dar um panorama conciso, um livro de apenas 100 páginas, para as pessoas sobre o que existe atualmente de pesquisa sobre este tema.

Agência de Notícias Ceub – Então não é um livro restrito aos estudiosos, mas aberto à população de um modo geral?

Alexander Moreira-Almeida – Ele foi escrito como tendo em mente esse duplo público, tanto um público acadêmico de pesquisadores quanto para o público em geral.

Procuramos escrever numa linguagem de uma forma que seja acessível para a população em geral e, claro, aqueles que querem aprofundar no tema tem 350 referências bibliográficas acadêmicas ao final.

Agência de Notícias Ceub – Como vocês lidaram com os argumentos históricos e epistemológicos que refutam a noção de sobrevivência após a morte?

Alexander Moreira-Almeida – A primeira pergunta que você tem que fazer o seguinte, é possível fazer alguma investigação científica sobre este tema? Será que é um tema religioso ou filosófico apenas? Nada contra que o tema seja religioso ou filosófico. Mas a pergunta é será que a ciência tem algo a dizer sobre isso ou não?

Para responder essa pergunta e para lidar com as evidências que existem, é preciso desfazer alguns preconceitos ideológicos ou filosóficos ou históricos sobre o tema. Por exemplo, por que esses preconceitos impedem a pessoa de analisar o fenômeno.

 Primeiro Ponto

Um dos preconceitos ou uma ideia equivocada sobre a realidade é achar que a ciência já teria comprovado que tudo o que existe no universo é matéria.

Tudo o que existe no universo é partículas e forças físicas. Qualquer coisa fora disso seria superstição, seria irreal, seria anticientífico. Essa é uma ideia equivocada. Afinal de contas, a ciência nunca comprovou isso.

Na realidade, a grande maioria dos fundadores da ciência, mesmo da ciência moderna, como GalileuKeplerNewtonFrancis Bacon, não defendiam essa ideia fisicalista de que só existe matéria e forças físicas no universo.

 Segundo ponto

Uma outra ideia também, seria a de que teria sido provado já que a mente, a consciência e a alma seriam um produto da atividade eletroquímica do cérebro, ou seja, a atividade elétrica dos neurônios geraria a consciência e quando o neurônio parar de funcionar, a consciência não existe mais.

Esta é uma hipótese de trabalho, mas também não foi comprovado isso. É falso também dizer que está provado que o cérebro é o produtor da mente, da consciência.

Por quê? Se a pessoa tiver o pressuposto de que só existem aspectos físicos e materiais do universo e que está provado que o cérebro é que gera a consciência. E quando o cérebro morre, morreu a consciência. Não tem como discutir cientificamente a ideia de sobrevivência da consciência após a morte. Então, a gente vai desmontando essas ideias.

 Terceiro ponto

Outra ideia equivocada também é de que a ideia de que possa existir uma mente além do cérebro. Seria uma coisa que nenhuma pessoa bem instruída, nenhum cientista, nenhum filósofo, nenhum intelectual bem gabaritado aceitaria essa hipótese, porque completamente falso.

Nós mostramos também, por exemplo, que os fundadores da psicologia científica, como William James e Wundt, os fundadores da neurociência, como Wilber Penfield ou Charles Carrington, eles não tinham uma visão fisicalista da consciência e não achavam que só o cérebro gerava a consciência.

Então, na realidade, isso é falso. Ao fazer isso, a gente limpa o terreno para a possibilidade. Essa discussão inicial não prova se existe ou não sobrevivência da consciência após a morte, mas apenas limpa o terreno para avaliar essa possibilidade.

 Quarto ponto

E para finalizar, um outro ponto também seria aceitar uma mente que vá além do cérebro não material. Seria superstição ou anticientífico ou antirracional, o que é falso. Porque muitos autores e nós defendemos essa ideia também.

Defendemos a ideia de que a natureza, o naturalismo, pode ser mais do que o que existe no universo da natureza, pode ser mais do que partículas e forças físicas. A mente, a consciência pode ser um elemento fundamental da natureza.

Por exemplo, a mente pode ser algo essencial na natureza. Fazer parte da natureza e ela ser o elemento fundamental, como por exemplo, a matéria. As forças físicas também são, então pode existir o naturalismo expandido.

Agência de Notícias Ceub – Pode compartilhar alguma das evidências científicas mais intrigantes que foram discutidas?

Alexander Moreira-Almeida – A pergunta: o que seria uma evidência científica de sobrevivência da consciência após a morte?

Primeiro, nós chamamos de consciência o que a gente pensa, o que sente. O que nos caracteriza? Tem vários estudos que discutem sobre isso e a continuidade do caráter da memória.

Cada um de nós tem um estilo, uma personalidade, um modo de ser. Ou seja, tem suas memórias e um modo de ser, suas habilidades. Esta continuidade do caráter e da memória é que caracterizam a nossa consciência, a nossa personalidade.

E o que faz da ciência, então? Se eu quero saber se existe continuidade da consciência após a morte, eu preciso saber se existe evidências de que há uma continuidade desta memória e deste caráter depois que o cérebro parou de funcionar. É isso, basicamente, que a gente precisa investigar cientificamente.

E quais são as principais linhas de investigação que foram feitas e que nós revisamos no nosso livro?

 Linha de investigação um

Uma delas são as experiências de quase morte e experiências fora do corpo. Experiências fora do corpo são experiências em que as pessoas alegam que se veem fora do seu próprio corpo, veem o corpo a distância. Ou seja, logo uma consciência seria algo além do corpo.

Isso é mais interessante quando acontece dentro de uma experiência de quase morte, em que a pessoa está com uma doença muito grave. Ou mais interessante ainda, no nosso caso, numa parada cardíaca. O cérebro na parada cardíaca para, o coração não bombeia mais sangue para o cérebro. O cérebro não recebe mais glicose e nem mais oxigênio.

Então o cérebro para de funcionar, basicamente, nos 30 segundos depois da parada cardíaca, o cérebro para de funcionar. Ele não tem mais atividade elétrica. O eletroencefalograma, ao invés de ficar aquelas ondinhas, fica isoelétrico, fica reto.

Pela hipótese de que o cérebro gera a consciência, quando o cérebro está sem funcionar, não pode existir consciência. Não posso estar alerta, não posso perceber coisas. E o que acontece na experiência de quase morte?

A pessoa refere que ela está acordada, refere que ela está lúcida, que ela consegue observar a situação, de modo geral, de fora do seu corpo. Descrevendo situações e quando ela volta, quando o corpo volta tudo ela volta. Ela disse que é verídico e o mais interessante, aquilo modifica a sua visão de mundo.

Ela muitas vezes passa a acreditar mais que existe vida após a morte, acredita mais e tem uma visão mais espiritual da vida, etc. E o que é mais interessante, existem vários casos de alegadas percepções verídicas. A pessoa descreve coisas que efetivamente aconteceram durante a parada cardíaca.

 Linha de investigação dois

Diz respeito aos chamados fenômenos mediúnicos, que são pessoas que alegadamente entram em contato, veem, ouvem ou sofrem influência de pessoas falecidas.

Então nós temos que investigar esses fenômenos. É claro que pode haver fraude, pode haver o inconsciente da pessoa fantasiar coisas. Pode acontecer várias dessas coisas, pode ser apenas uma alucinação cerebral.

Mas há uma série de estudos que a gente descreve também com detalhe no livro, estudos realizados em várias partes do mundo também.

Em que o médium, ele produz informações deste indivíduo, alegadamente, já falecido e informações que a gente não consegue rastrear por meios normais como o médium teria essa informação.

Então e não só isso, ele produz informações precisas e íntimas, às vezes da vida do familiar, da pessoa falecida de seus familiares, como também reproduz a habilidade deste indivíduo.

Por exemplo, no caso do Chico Xavier, quando ele tinha 22 anos de idade, mesmo morando no interior de Minas e com pouquíssima instrução, em 1932, ele publicou um livro com dezenas de poemas atribuídos a dezenas de poetas brasileiros falecidos, como Olavo BilacCastro Alves, etc.

E o que chama a atenção é o alto grau de precisão estilística de cada poema atribuído para cada poeta. Não só o estilo poético se manteve, como o repertório cultural do poeta também se mantém, ou seja, demonstrando de certa forma, uma é uma continuidade tanto da memória quanto de repertório cultural, quanto de estilo de personalidade.

Então mostra, por exemplo, continuidade da personalidade e da memória do ente, do personagem, da memória, do caráter. Então, eles são exemplos de investigação.

 Linha de investigação três

Por fim, outra linha de investigação também diz respeito às alegadas memórias de vidas passadas. Basicamente, há atualmente mais de 2500 casos documentados no mundo em todos os continentes com vários pesquisadores.

São crianças e assim que elas começam a falar com dois anos de idade, aproximadamente, elas começam a legar uma suposta vida passada. Em muitos casos não se consegue obter muitas informações, mas desses 2000 e tantos casos investigados, essas crianças começam a alegar uma vida passada e começam a descrever coisas.

É interessante, não são coisas assim, eu era rainha ou eu fui príncipe. Não, nada disso. De modo geral, são vidas difíceis, muitas vezes mortes traumáticas, e começa a dar detalhes.

Por exemplo, a gente cita um caso no livro de uma menina que nasceu no Siri Lanka. E ela começa a falar que quando ela viu na televisão um templo de uma outra cidade, o Siri Lanka, “eu morava ali atrás daquele templo. Eu morava naquele templo e eu fazia incenso. E mais, eu fazia incenso de marca, ‘ambica’ e ‘gettabila’.” Ela dizia a marca do incenso e era a marca do incenso que não tinha na área onde ela morava.

“E eu estava indo de bicicleta, vender incenso e um carro grande passou em cima de mim e me matou.” Foi se investigar o assunto e de fato, descobriram o fazedor de incenso que alguns anos atrás, que fazia incenso daquelas marcas tinha morrido de bicicleta indo vender incenso, atropelado por um caminhão. Ao todo, fez 20 afirmações, das quais 14 eram corretas e formas muito precisas como essas.

 Conclusão das linhas de investigação

Bom, em resumo, são alguns dos principais exemplos. E o que chama a atenção então? Então, peguei as principais linhas de investigação: experiências fora do corpo, experiências de quase morte, experiências mediúnicas, alegadas memórias das passadas.

E o que chama atenção que essas pesquisas têm sido feitas há muitas décadas, são pesquisadores das mais diversas correntes filosóficas e mesmo de áreas científicas.

Alguns antropólogos, psiquiatras, neurocientistas, psicólogos, pessoas de diversas áreas de formação que vão investigando esse fenômeno em diversas partes do mundo, chegando a resultados muito semelhantes.

Agência de Notícias Ceub – E então, como que o senhor enxerga o futuro da pesquisa em espiritualidade e ciência após o lançamento desse livro? E, especialmente, em relação às discussões sobre sobrevivência da consciência humana?

Alexander Moreira-Almeida – Primeiro é que o ambiente acadêmico conheça melhor esse tipo de evidência. Isso é interessante, porque a maioria dos cientistas, mesmo dos cientistas que estudam os religiosos, desconhecem essa longa tradição de pesquisa.

E o número robusto, centenas de artigos, na realidade, milhares de artigos científicos publicados sobre o tema.

Então, o que o livro faz é trazer para o debate, apresentar que esse é um tema legítimo, apresentar o que tem de pesquisa e de evidências e que haja o debate.

As pessoas podem chegar numa opinião e outra, mas deve ser opinião bem informada.

Então, o que a gente espera é que se aumente o conhecimento do que já existe de pesquisa, que se aumente o debate sobre isso e, mais importante, principalmente, a quantidade de pesquisas e a qualidade de pesquisas sobre o tema.

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado