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Brasília

Leishmaniose visceral: DF tem um caso registrado em 2023

Especialistas da área da saúde acreditam que o vírus pode ser perigoso e que acomete áreas rurais e urbanas

Redação Jornal de Brasília

27/03/2023 19h07

Agosto Verde: este mês é marcado pelo combate e controle da Leishmaniose

Elisa Costa
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Conforme os dados mais recentes da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), a capital federal registrou apenas um caso de leishmaniose visceral em 2023, até o momento.

A leishmaniose é considerada uma zoonose que pode acometer o homem quando ele entra em contato com o vírus Leishmania. É transmitido pela picada do “mosquito palha”, o Lutzomyia longipalpis, e a maior parte das infecções ocorre quando esse inseto pica algum animal, como cães e gatos, e o animal pica o ser humano, transmitindo o protozoário. E mesmo com a pouca baixa incidência de casos, os especialistas da área da saúde ainda acreditam que a transmissão do vírus é uma ameaça.

Durante o ano de 2022, o DF registrou 10 casos confirmados de leishmaniose visceral (Calazar) e nenhum óbito em decorrência da doença. Foram nove casos a menos que no ano de 2021, quando o DF acumulou 19 casos de janeiro a dezembro. Apesar disso, em todo o ano de 2020 foram detectados apenas cinco casos. De lá para cá houve um pequeno aumento. Segundo o médico infectologista Dalcy Albuquerque, o vírus coloca em riscos especialmente as áreas rurais porque o mosquito predomina em bosques, jardins e áreas sombreadas. “Eles não se reproduzem na água, mas na matéria orgânica, em decomposição e úmida, como folhas secas e restos de gravetos”, contou ao Jornal de Brasília.

Segundo Dalcy, as áreas urbanas também não estão livres do vírus, porque muitos condomínios, casas e chácaras contém áreas verdes e sombreadas. “O DF tem ambientes que formam bosques e eles podem ter a presença do mosquito palha. Se tiver um animal ali para ser o reservatório, pode haver a transmissão em área urbana. É sempre um grande risco, porque os médicos não suspeitam da leishmaniose pelo quadro de evolução muito longo, pode durar meses”, contou à reportagem. Para o médico, os debates acerca da vacina contra a leishmaniose são “polêmicos”, porque muitos especialistas e pesquisadores acreditam no poder de um imunobiológico, enquanto outros acreditam no tratamento com medicamentos.

Em 2023, Brasília ainda registrou cinco casos de leishmaniose tegumentar, uma variante que provoca úlcera na pele e mucosas, geralmente em partes descobertas do corpo. Os sintomas englobam o entupimento e sangramento do nariz, com coriza, crostas e feridas, além de dor na garganta ao engolir, rouquidão e tosse. Na capital da República, trabalham integradas no controle das leishmanioses a Diretoria de Vigilância Ambiental (Dival), que realiza a vigilância de vetores e reservatórios; a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Divep), que realiza a vigilância em casos humanos e a Diretoria do Laboratório Central de Saúde Pública do Distrito Federal (Lacen-DF), que faz os diagnósticos laboratoriais.

Em decorrência do aumento de casos de ambas as leishmanioses, do ano de 2020 a 2022, o infectologista Dalcy Albuquerque recomenda que a vigilância sanitária faça uma avaliação local para identificar os fatores que podem ter conduzido a essa situação, já que os números no período de 12 meses ultrapassaram a média. “O aumento de casos pode acontecer com a presença de animais contaminados e o próprio mosquito. Em todo caso, a prevenção da leishmaniose está na área ambiental e animal, que precisa avaliar as condições de proliferação e se existem animais, silvestres e domésticos, que estejam infectados”, concluiu o médico.

Entenda

A doença pode ser fatal se não for diagnosticada e tratada o mais cedo possível, mas tem cura através de um tratamento específico para o estado do paciente. As fontes de infecção são, em maioria, os animais silvestres e insetos flebotomíneos – que abrigam o parasita em seu tubo digestivo, mas podem infectar também os animais domésticos. “A leishmaniose visceral, dada a sua incidência e alta letalidade, principalmente em indivíduos não tratados e crianças desnutridas, é também considerada emergente em indivíduos portadores da infecção pelo HIV”, explica a Secretaria de Saúde do DF.

A recomendação do Ministério da Saúde (MS) é que a população se previna do mosquito transmissor, principalmente, diante cenários que permitam a sua reprodução, como áreas de mata, florestas e beiras de rio, especialmente à noite. “A leishmaniose visceral no Brasil, inicialmente, tinha um caráter eminentemente rural e, mais recentemente, vem se expandindo para as áreas urbanas de médio e grande porte”, alerta a SES-DF. Por isso, nesses ambientes é importante proteger o corpo com blusas de manga comprida, calça comprida, sempre de cores claras, além de aplicar repelente nas partes expostas.

Nos humanos, os sintomas incluem febre duradoura (de 10 a 15 dias), anemia, perda de peso e fraqueza. Se o quadro avança, o indivíduo pode sofrer com a expansão do fígado e do baço, quando o sistema imunológico do infectado já está fragilizado. Os medicamentos disponíveis na rede pública do Distrito Federal para tratamento da doença são distribuídos na Farmácia Escola, localizada no Hospital Universitário de Brasília (HUB), por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). “Se os casos não foram detectados, diagnosticados e tratados oportunamente, eles podem apresentar sequelas, e até, evoluir ao óbito”, declarou a SES, em um boletim epidemiológico de dezembro de 2022.

Saúde animal

Para os animais de estimação, que são os vetores, também existem medidas protetivas: os tutores devem manter o ambiente dos seus pets devidamente limpos e ventilados. É necessário ainda fazer a limpeza periódica de quintais e a retirada de matéria orgânica em decomposição, a destinação correta do lixo orgânico e o uso de inseticida, quando a área possui elevado número de casos. O mosquito palha, segundo as informações do Ministério da Saúde, é pequeno e de coloração amarelada, que em posição de repouso, fica com as asas eretas e semiabertas.

Ayara Magalhães, médica veterinária atuante no DF, destacou ao Jornal de Brasília que a infecção também provoca sintomas nos animais, como anemia, lesões cutâneas, febre, indisposição, falta de apetite e perda de peso. “É importante descartar a doença porque ela leva à morte. Se o seu animal apresentar qualquer tipo desses sinais clínicos e ele não foi vacinado, ou mesmo sendo vacinado, é importante levar a um médico veterinário e falar sobre todos esses sinais clínicos, para que vocês possam descartar a doença”, aconselhou a profissional.

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