Mayra Dias
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Fevereiro tem um registro histórico na capital. Informações divulgadas pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mostraram que, só no Plano Piloto, o volume de chuva já ultrapassou o dobro do esperado, sendo o maior número dos últimos 20 anos no Distrito Federal. “O que aconteceu é que nos últimos anos, tivemos chuva abaixo da média, e agora os sistemas que atuam durante o verão estão favorecendo esse comportamento”, explica a meteorologista do Instituto, Andrea Ramos.
Os dados do Inmet revelaram que o centro do DF já registrou, até esta última quarta-feira (17), 377,6 milímetros em precipitações, quando o esperado para a época era de 83 mm. “Uma certeza que temos é a de que estamos com chuvas bem acima da climatologia esperada, e o atual período tende a estar entre os três ou quatro mais chuvosos desde o início das medições, em 1962″, avalia a meteorologista do Inmet. No ano passado, de acordo com a entidade, choveu 194,2 mm.
Áreas de instabilidade
Como explica a profissional, no verão, as temperaturas são naturalmente elevadas, e tal fator, em conjunto com a umidade, gera áreas de instabilidade que proporcionam pancadas de chuvas e trovoadas isoladas, além de, por vezes, com rajadas de vento (superiores a 40 km/h). “É o que está acontecendo no DF. Estamos vivendo esse período de chuvas constantes. No início de fevereiro, tivemos a primeira formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS)”, destaca.
Dados do Inmet revelam que esse é o fevereiro com maior volume de água nos últimos 20 anos
A ZCAS, como esclarece Andrea, é uma faixa de nebulosidade de orientação noroeste/sudeste que se estende desde o sul da região Amazônica, passa pela região Centro-Oeste (CO) e Norte (N) até a região central do Atlântico Sul. “Nesta quinta, 18/02 se estabeleceu a segunda Zona de Convergência, favorecendo as chuvas durante todos esses dias”, completa a meteorologista. Dentre as datas mais chuvosas neste mês, estão os dias 5 (52,8 mm), 8 (50,8 mm) e 16 (72 mm). No ano de 2005, no dia 27 de fevereiro, o Inmet registrou 79,8 mm em precipitações, correspondendo ao maior volume da história do DF.
Além das razões naturais citadas pela especialista, essa elevação pode estar relacionada também a fatores antrópicos. Conforme elucida a professora Lôide Angelini, doutora em Engenharia Hidráulica e Saneamento, as ações do homem sobre o meio ambiente tem participação significativa nesse evento histórico. “Dentre os diversos fatores responsáveis pelo aumento das chuvas intensas, destaco as mudanças no uso do solo, como por exemplo, a retirada da vegetação natural em detrimento de uma área urbanizada”, afirma.
A engenheira informa que, tal comportamento, provoca o aquecimento da atmosfera local, aumentando o potencial de retenção de umidade, o que pode provocar chuvas mais intensas.
Chuvas vão persistir
Devido a essa segunda ZCAS formada, a especialista do Inmet chama atenção à previsão dos próximos dias na capital. “As chuvas vão persistir. Algumas mais fortes, em forma de pancadas com trovoadas isoladas e rajadas de vento”, observa. De acordo com o Instituto, as temperaturas ficarão entre 18ºC de mínima e máxima de 26°C. A previsão mostra que as precipitações devem se manter na capital pelo menos até segunda-feira (22).
Nesses últimos eventos, as chuvas intensas têm deixado rastros nada agradáveis pela capital, que registra, diariamente, ruas alagadas, acidentes de trânsito e queda de árvores. “Os meses de fevereiro são normalmente períodos de grande índice pluviométrico. Os estragos são esperados. Mas, esse ano, está muito acima das nossas expectativas”, relata o Tenente-Coronel Lopes, do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF).
O oficial compartilha que, dentre as ocorrências mais frequentes, estão as de árvores que caíram e casas alagadas.
Nesta quarta-feira (17), a água tomou conta de pistas no Plano Piloto, em Taguatinga, Ceilândia e Samambaia.
Algumas das infelicidades trazidas pela última chuva aconteceram na Asa Sul e Norte.