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Brasília

Jovens, mulheres e negros foram os que mais sofreram com o desemprego nos últimos 30 anos

Segundo mostra uma pesquisa inédita da IPEDF, haviam mais negros e mulheres sem emprego no DF em 2021 do que em 1992

Redação Jornal de Brasília

14/12/2022 17h08

Foto: Banco de imagens

Gabriel de Sousa
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A desigualdade de gênero e raça nos postos de trabalho é uma das barreiras que devem ser enfrentadas futuramente pela gestão pública do Distrito Federal. Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF) apontou que, nos últimos 30 anos, foram as mulheres e as pessoas não-brancas (pretos e pardos) que mais sofreram com o desemprego na capital do país.

No ano de 1992, quando o DF tinha apenas 32 anos de história e vivia no primeiro governo do ex-governador falecido Joaquim Roriz, a taxa total de mulheres desempregadas na capital era de 18%, enquanto que a de negros estava contabilizada em 18,1%. No final do ano passado, os números do IPEDF indicaram que 19,9% da população feminina e 19,7% de não-brancos estavam sem emprego.

Entre os jovens de 15 a 21 anos, a média de desemprego nestes 30 anos foi de 27,8%. O período entre 2015 e 2021, quando o país viveu em uma profunda crise econômica, foi o mais desfavorável para o público, com até 32,8% dos jovens economicamente ativos estando sem emprego.

Ao longo destes últimos 30 anos, a proporção de negros e mulheres na população economicamente ativa (PEA) do DF aumentou. O destaque está para a participação dos negros que, em 1994 representavam 40%, e agora correspondem a 64% do mercado de trabalho. Já as mulheres passaram de 44,4% para 48,5%.

Setor público perde espaço

Outro fenômeno constatado na nova pesquisa do IPEDF foi a diminuição do espaço do setor público no mercado de trabalho do DF. Em 1992, o seu percentual de participação era de 30%, caindo para 22% em 2021. Em contrapartida, houve um crescimento do setor privado, que há trinta anos representava 34% da população ocupada e, no ano passado, subiu para 47,5%.

O percentual de autônomos também cresceu no DF, porém, em uma menor expansão. Em 1991, correspondia a 14,9% da população ativa e, em 2021, foi calculado em 16,9%, um aumento de dois pontos percentuais. Já o trabalho doméstico, teve sua representatividade reduzida pela metade em relação ao total de ocupações entre 1992 (11,7%) e 2021 (5,2%).

Como consequência da grande explosão demográfica vivenciada pelo Distrito Federal, a População em Idade Ativa (PIA), que enquadra as pessoas com 14 anos ou mais, teve um grande crescimento de 125%. Em números absolutos, passou de 1,1 milhão para 2,5 milhões de pessoas, isto é, uma taxa anual de crescimento de 2,73%.

O IPEDF atestou que o agrupamento teve um envelhecimento significativo. Em 1992, 47% dessas pessoas estavam na faixa de jovens entre 15 e 29 anos, percentual que foi reduzido para 28,1% em 2021. Por outro lado, as faixas de 30 a 59 anos e acima de 60 anos, tiveram sua presença ampliada, subindo de 43,6% para 52,5% e de 6,2% para 17,8%, respectivamente.

Uma desigualdade que persiste

Segundo o economista César Bergo, conselheiro do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon/DF), a pesquisa divulgada pelo IPEDF é importante para o conhecimento de uma desigualdade que não existe apenas no Distrito Federal, sendo uma realidade existente em toda a sociedade brasileira.

“Os trabalhos que exigem uma menor qualificação são os preenchidos por essas pessoas, que são as primeiras a serem dispensadas. A gente tem observado, no mercado de trabalho, uma mudança radical na questão da forma em que o trabalho é efetuado. Então, é de se esperar que, nestes últimos 30 anos, essa questão apareça e com muita força”, explica o economista.

Um ponto destacado pelo conselheiro do Corecon/DF é a diminuição do espaço dos empregos da iniciativa pública que, em seus processos seletivos, abrem espaços para o ingresso de pessoas não-brancas no mercado de trabalho. “O setor público sempre tem concurso e tem o respeito às cotas. Já a iniciativa privada não observa tanto isso, embora haja uma pressão das instituições que cuidam do trabalho para que haja essa observância”, comenta Bergo.

Para solucionar esta desigualdade no mercado de trabalho local, o economista acredita na importância da educação para uma diminuição gradativa nos números de desemprego dos jovens, mulheres e não-brancos. “É muito importante investir na educação e na conscientização da população sobre a importância da inserção destes segmentos no mercado de trabalho. Não havendo nenhuma discriminação e nenhum preconceito”, afirma o especialista.

Uma busca mais difícil

Uma oportunidade de trabalho é o que busca Gladyson Silva, de 25 anos, que está desempregado há oito meses. Negro e morador da Cidade Ocidental, ele diz que a sua cor e o local onde mora impede que os contratantes os escolham para preencher uma vaga. “Por morar no Entorno, muitos não querem pagar as passagens que estão cada vez mais caras. […] Claro que é diferente para nós [pessoas não-brancas], a gente não vê tantos brancos sem ter o que trabalhar e comer”, observa.

Gladyson relata que, durante muito tempo, trabalhava em lojas na região do Entorno, mas não ficava por muito tempo devido aos baixos salários. Em busca de melhores oportunidades, ele vai constantemente ao Plano Piloto para distribuir currículos, mas se sente desmotivado ao ver que não recebe uma oportunidade de entrevista de emprego.

“É sempre mais difícil. Ou a gente trabalha em algum lugar por aqui, que não paga muito e não dá oportunidade para a gente fazer planejamentos, ou a gente busca alguma coisa em Brasília, onde os salários são melhores. Só você não vê muita gente preta por lá. Então, o que você faz?”, indaga o desempregado.

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