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Brasília

Ideias de hoje que salvam o amanhã

Sociedade Brasileira de Química premia ideia de biofertilizante produzido por pesquisadores da UnB

Mayra Dias

08/11/2021 18h26

Foto: Arquivo pessoal

Um biofertilizante é biocompatível, atóxico e não agressivo ao meio ambiente. Esse foi o produto agraciado com o maior prêmio de inovação da Sociedade Brasileira de Química (SBQ). Desenvolvido pelo professor Brenno Amaro, da Universidade de Brasília (UnB), a ideia promete aumentar, em até 40%, a produtividade de plantações como milho e cana-de-açúcar. “Um biofertilizante nanotecnológico e único no mundo tem uma relevância fundamental para melhoria de produção, em especial para diminuir o problema da insegurança alimentar, e com sustentabilidade”, argumenta Brenno, pós-doutor em biotecnologia molecular. 

Como compartilha o professor, o produto era, inicialmente, voltado para pesquisa de fármacos. “Mas o contato com os pesquisadores da Embrapa nos mostrou que as propriedades que ele tinha poderiam ser aproveitadas pelas plantas e melhorar a produção de diferentes culturas”, comenta, citando plantações como milho, tomate, feijão, batata e algodão, apesar de haverem outras várias. 

Esta é a primeira vez que a UnB recebe tal honraria que, devido a importância, é disputada por pesquisadores de universidades de todo o país. “Este prêmio é um grande reconhecimento que a SBQ concede no quesito de inovação. Pessoalmente, fico muito feliz em ser agraciado com a premiação, mas em termos institucionais, é ainda mais importante”, salienta o doutor. “É uma declaração da qualidade do Instituto de Química da UnB em tecnologias inovadoras”, completou. A premiação acontece de dois em dois anos e, em 2021, acontecerá no dia 24 de novembro, a partir de transmissão pela internet.

Conforme explica Brenno, o biofertilizante utiliza nanotecnologia, partículas invisíveis a olho nu, aplicada à agricultura. O diferencial deste produto, é que, de acordo com o especialista, com ela, é possível melhorar a absorção e utilização do vegetal. “Desta forma, a planta fica mais saudável e melhor nutrida, permitindo que ela produza mais”, pontua. Importante dizer que a criação deste produto é fruto de um trabalho de equipe que envolveu professores da UnB, alunos de pós-graduação e pesquisadores da Embrapa.

A “arbolina”, nome dado a tecnologia, é um biofertilizante para ser usado nas lavouras. O produto existe há alguns anos, mas, somente este ano, foi licenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Ele já foi aplicado em quase 30 culturas diferentes e em várias regiões do país. “Até o momento os resultados são excelentes e colocam o Brasil como o protagonista no mundo em nanotecnologia aplicada na agricultura”, afirma o docente. 

Todo o processo de desenvolvimento da ideia teve início em 2011, quando um colega de Brenno, Prof. Marcelo Rodrigues, iniciou os trabalhos com nanomateriais de carbono. “Ele produzia estes materiais e eu fazia a modificação da superfície dos mesmos. Estes instrumentos eram usados em testes contra células de câncer de mama”, expõe o professor da UnB. Em 2015, quando os pesquisadores da Embrapa viram as propriedades dos materiais, sugeriram que os mesmos poderiam ter bons efeitos para diversas plantas. “Foi então que se iniciou os testes para melhora de saúde e produtividade em diferentes culturas”, acrescentou.

Criado para o futuro

Devido suas propriedades naturais, o biofertilizante criado pelos pesquisadores, não agride e nem traz danos ao ecossistema, visto que, por ser biodegradável, desaparece em 15 dias, após ser eliminado pela própria planta. Em suas propriedades, o produto conta com  carbono orgânico, nitrogênio, oxigênio e hidrogênio. É basicamente, de acordo com Brenno, o que a planta precisa. O biofertilizante ainda é feito de material produzido na natureza, sendo totalmente sustentável, não gerando resíduos sólidos e nem líquidos durante sua produção. 

Este artigo é apenas o primeiro que a Krilltech, empresa criada em consequência da parceria UnB-Embrapa, produziu. “É o mais obsoleto que temos. Há muitos novos produtos que já desenvolvemos, mas a falta de verba para Ciência, Tecnologia e Inovação atrasa muito o desenvolvimento e comercialização destes novos produtos”, comenta o doutor em biotecnologia molecular. Após o licenciamento da arbolina, os pesquisadores levantaram a empresa, que iniciou as vendas no ano passado, em meio a pandemia. Apesar de a fábrica estar sediada em Dias D’Ávila, na Bahia, o laboratório fica em Brasília.

 Por se tratar de um produto único, pioneiro na nanotecnologia associada, os preços, de acordo com que o próprio professor declara, são competitivos com os de fertilizantes comuns, contudo, com a vantagem de ser feito com matéria-prima 100% nacional. “Então, não ficamos reféns do mercado internacional para produção dele”, diz. O lucro obtido com a venda da Arbolina é todo revertido para a UnB, assim como para a Embrapa. A empresa, por sua vez, detém de políticas diferenciadas, estimulando pequenos produtores. Desta forma, o excedente da produção é doado, provendo alimentação para cerca de 30 famílias no DF.

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