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Brasília

Homens, por que vocês não vão ao médico?

Segundo a Secretaria de Saúde, apenas 34% dos atendimentos na atenção primária são do público masculino

Redação Jornal de Brasília

21/11/2023 9h58

Foto: Divulgação

Neste mês, é celebrado o Novembro Azul, que reforça a conscientização sobre o câncer de próstata e a importância do exame de toque retal.O toque no ânus é rápido e indolor e permite ao médico identificar alterações da glândula. Mas, é fato: o tema ainda desperta uma série de piadas ultrapassadas em todo o Brasil. Por medo, preconceito ou mera falta de informação, boa parte dos homens não procura atendimento médico e fica vulnerável a diversas doenças. Por esse motivo, a campanha incentiva também cuidados gerais com a saúde da população masculina.

O oncologista da Secretaria de Saúde (SES-DF) Gustavo Ribas alerta, por exemplo, para o risco de um outro tipo de câncer que não envolve toque retal para rastreamento e já afeta homens a partir dos 15 anos. É o câncer de testículo, que representa 5% dos casos de oncologia urológica. Sem consultar um médico nem fazer um autoexame (sim, isso existe, e pode salvar vidas), muitos acabam descobrindo a doença já em fase avançada e enfrentam vários dos seus medos, como a impotência sexual, o afastamento do trabalho ou mesmo a morte.

“Como homem e médico, entendo que a visão mais restrita da maioria dos homens refere-se ao aspecto cultural, como uma herança dos seus antepassados a respeito da masculinidade. O homem tem arraigado o fato de não priorizar sua saúde, receio de sentir dor, não demonstrar inquietude, ansiedade e até medo, além do próprio desconhecimento e por a [falsa] certeza de que nada de grave vai impactá-lo”, acrescenta o médico.

Minoria nos consultórios

Segundo dados da SES-DF, em 2023, os homens representam apenas 34% da população presente nas consultas de atenção primária, aquelas realizadas em unidades básicas de saúde (UBSs), porta de entrada para todos os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), desde a saúde bucal até o diagnóstico de doenças graves. Esse índice inclui idosos, bebês e pacientes com doenças crônicas. Entre os homens de 20 a 59 anos, o índice cai para 28%, de acordo com dados do Ministério da Saúde para todo o país.

Pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) sobre a percepção do homem acerca da sua própria saúde revela que apenas 32% daqueles com mais de 40 anos se consideram muito preocupados e que 46% deles só vão ao médico quando sentem algo. Esse número aumenta para 58% se o homem tiver acesso à saúde exclusivamente pelo SUS. E, apesar do descaso, metade tem medo ou ansiedade quando pensam em sua saúde.

A ideia de estar acima das doenças, a síndrome de super-herói, atrapalha até os que vão ao médico, muitas vezes por insistência de esposas, filhas ou outras mulheres da família. “A mulher geralmente é mais direta na hora da consulta. O homem costuma não falar diretamente das suas queixas, principalmente quando são de natureza íntima”, conta a coordenadora de atenção primária da SES-DF, Fabiana Fonseca.

Médica de família e comunidade, ela explica ser comum o que chama de “fenômeno da maçaneta”: o homem relata um problema simples, como dor de cabeça, mas, na hora de abrir a porta para ir embora, volta e revela sua verdadeira queixa.

A demora, no entanto, pode ser, literalmente, fatal. No caso do câncer de próstata, a doença se desenvolve sem sintomas aparentes e em 45% dos casos os tumores são detectados já em estágio avançado. Só em 2022, o Brasil registrou 16.292 óbitos pela doença, 44 por dia. No DF, foram 165 óbitos por neoplasia maligna de próstata em 2022 e 103 até agosto de 2023. A estimativa é de 460 casos novos ao ano entre 2023 e 2025.

O diagnóstico precoce permite chances de cura acima de 90%. “Dados de literatura médica amplamente divulgados no mundo apontam para a exitosa estratégia de rastreamento e diagnóstico precoce através da avaliação médica regular, eletiva, de forma antecipada aos sintomas”, pontua o oncologista Gustavo Ribas.

Acolhimento

A campanha Novembro Azul, muito acima de piadas ou promoção do medo, é uma iniciativa para o acolhimento masculino. Profissionais de saúde estão preparados para fazer o atendimento desde as queixas iniciais de todos os tipos de doenças até os exames mais detalhados, inclusive, se necessário, o de toque retal.

De acordo com a Referência Técnica Distrital (RTD) em urologia, Álvaro Canuto, os homens têm a garantia de respeito e privacidade em todos os atendimentos. “O consultório médico é um espaço reservado, com privacidade. O homem tem o direito de ter uma companhia, caso deseje.”

A visita a um médico durante o mês de novembro ou em qualquer outro período do ano não significará, obrigatoriamente, a realização de um exame de toque para detectar o câncer de próstata, e sim uma avaliação do estado geral de saúde do paciente. Somente se necessário, haverá o encaminhamento para especialistas ou exames diagnósticos para todos os tipos de enfermidades, seja diabetes, hérnia de disco, alcoolismo, miopia, câncer ou outras.

No DF, a porta de entrada para o atendimento é a rede de 175 UBSs, que funcionam todos os dias úteis do ano. No local, o homem também terá acesso aos serviços da atenção primária, da odontologia a ações de saúde mental e combate ao tabagismo, por exemplo, além de ser encaminhado às unidades especializadas, em caso de necessidade.

Não há nenhum pré-requisito para ser atendido nas unidades básicas, sendo necessário apenas levar documento oficial de identificação com foto, comprovante de residência e, se tiver, o cartão nacional do SUS. É importante saber qual é a UBS de referência, conforme o endereço de moradia. É possível fazer a busca por CEP no site do InfoSaúde.

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