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Brasília

Homem tira foto do Aedes Aegypti ao vê-lo picando, saiba mais sobre inseto

Era ele, só podia ser ele. Convicto da captura do animal, Leonardo já ficou assustado. A certeza ninguém poderia te tirar

Redação Jornal de Brasília

12/04/2024 17h22

Créditos: Leonardo Augusto Bittes /cedida à Agência Ceub

Por Paloma Castro
Agência de Notícias Ceub/Jornal de Brasília

Biólogo explica como as mudanças climáticas têm sido o principal responsável pela aceleração da espécie. E quais horários ele pica mais, e outras características do mosquito.

Em um domingo de manhã por volta das 8h no Hospital de Campanha da FAB, no Centro da Ceilândia (DF), um homem estava surpreendendo a todos em sua volta com uma foto que ele mostrava. 

“Nossa” “É ele mesmo” “Caramba,você conseguiu tirar” 

O motivo de tanto espanto era porque Leonardo Augusto Bittes havia tirado uma foto do mosquito Aedes Aegypti logo após o momento que o inseto o picou, agora já morto pelo homem.

Suas características foram inconfundíveis, listras brancas nas pernas, no tronco e na cabeça.

Era ele, só podia ser ele. Convicto da captura do animal, Leonardo já ficou assustado. A certeza ninguém poderia te tirar, o bicho tinha o picado, e ele viu. 

Depois de passado três dias, os primeiros sintomas foram surgindo, dor no corpo, dor de cabeça e febre.

Ele não teve dúvidas, estava com dengue. E foi confirmado após o exame sorológico. Sua surpresa maior foi que mais quatro pessoas de sua família também receberam positivo no diagnóstico.

Eles estavam juntos em uma chácara no Paranoá (DF) quando Leonardo matou o mosquito, ele diz acreditar que foi naquele dia que o Aedes picou ele e mais sua família, todos em um só dia pelo mesmo bicho.

Mas essa suposição não é garantida, porque somente Leonardo viu o mosquito o picando, e a probabilidade de ter mais mosquitos e criadouros na região não é descartada. 

Estamos perto de alcançar a marca de 3 milhões de casos de dengue no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, com o Distrito Federal (DF) liderando a fila dos estados com o maior número de registros.

Até o momento esta marca supera o total de casos que teve no ano de 2023, se tornando um alarme no sistema público de saúde do país.

Mais de mil pessoas já morreram da doença.

Mudanças climáticas como principal fator 

A dengue está presente o ano inteiro. O vírus da doença, o DENV, circula os 365 dias, e o Aedes Aegypti também, e essa espécie tem sido cada vez mais favorecida pelas condições climáticas. A explosão dos casos de dengue no país, isto é, a explosão da reprodução de Aedes Aegypti portando o vírus é mais frequente no verão por conta da combinação: aumento de chuvas + altas temperaturas. 

O biólogo e professor do Centro Universitário de Brasília (CEUB), Gil Amaro, afirma que as mudanças climáticas se tornaram o principal fator para uma acelerada reprodução do Aedes e para a diminuição dos predadores naturais dele, como o beija-flor e o sapo. “O que está acontecendo é que as mudanças climáticas estão matando os predadores do Aedes”. Logo, sem eles e com muito sangue à disposição para se alimentarem, a quantidade de mosquito cresce descontroladamente. 

Os outros fatores que ajudam na reprodução do mosquito são: a falta de saneamento básico e a arquitetura da cidade, respectivamente. “O saneamento inadequado deixa resíduos de lixo e plástico que acumulam água e formam criadouros para os mosquitos se reproduzirem. Quanto mais criadouros, mais mosquitos.”, explica o biólogo. 

Ele continua: “Também há estudos que mostram o acúmulo de água dentro do cano de suporte das placas de trânsito e em calhas de casa e telhados retos de lajes. A urbanização sem uma visão integrada com a biologia pode gerar milhares de criadouros do mosquito.” 

Amaro ainda explica que o investimento em políticas públicas não é o suficiente, porque o principal foco está dentro das casas. “Mais de 75% dos criadouros estão dentro das residências, a ação de cada família no combate ao mosquito é o que pode mudar o cenário.” E avisa que não existe diferenciação entre a residência estar no meio rural ou urbano. 

“O mosquito está presente tanto nas áreas rurais quanto urbanas porque o que determina a sobrevivência do mosquito é a presença de criadouros. Uma calha que não é limpa ou uma tampa de garrafa jogada no chão pode ser o criadouro perfeito para o mosquito.”

Ciclo reprodutivo e de vida do Aedes 

O especialista comenta que o criadouro perfeito é aquele que tem água, principalmente se ele for sombreado porque evita a evaporação da água e dificulta a entrada de predadores naturais que poderiam se alimentar dos ovos e larvas do mosquito. 

“A fêmea deposita ovos em diferentes locais como estratégia de sobrevivência. Depois de 15 horas, o ovo fica resistente ao ressecamento e pode sobreviver por mais 450 dias. No primeiro dia, depois de 30 minutos na água parada, já inicia a saída da larva, essa larva cresce se alimentando de tudo que encontrar e em menos de 5 dias forma a pupa. Essa pupa contém alimento necessário para formar o mosquito adulto. Em um a dois dias, o mosquito adulto sai da pupa e vive de 4 a 6 semanas, podendo se reproduzir desde o primeiro dia como mosquito adulto.”, esclareceu o professor de biologia. 

A partir do ovo, nas condições ideais da água parada, em menos de 8 dias o mosquito adulto está pronto para buscar alimento e se reproduzir. Enquanto o macho do Aedes Aegypti se alimenta de plantas, a fêmea do Aedes se alimenta de nós, sangue humano. 

“A alimentação é um fator decisivo na reprodução e na proliferação da dengue, caso a fêmea já tenha ganhado o vírus de sua mãe”, confirmou Amaro. 

A fêmea só pode ter o vírus em duas situações: quando pica alguém que já tem o vírus da dengue, o DENV, ou pela transmissão vertical. ”Pelo menos 30% dos ovos receberão o vírus por transmissão vertical, os mosquitos que nascerem desses ovos, caso sejam fêmeas, irão se alimentar de sangue e podem contaminar outras pessoas.”, apontou. 

Vírus no sangue é mais uma ameaça 

A fase de viremia pode ser um fator perigoso, porque é quando o vírus da dengue está circulando pela corrente sanguínea de uma pessoa e se ela for picada mais uma vez por uma outra fêmea do Aedes Aegypti, que não é portadora de nenhum vírus, esta fêmea acaba contraindo o vírus da dengue por meio dessa pessoa e transmitindo ele para mais gente. 

“A fase de viremia exige que a pessoa se proteja com repelente para evitar aumento dos surtos”, avisa Amaro. 

O especialista complementa que é o próprio sistema imunológico que elimina o vírus dentro de 8 a 15 dias. O tempo depende das condições de saúde da pessoa, por exemplo, pessoas imunocomprometidas ou que possuem asma brônquica, diabetes mellitus, anemia falciforme, hipertensão, além de infecções prévias por outros sorotipos acabam demorando mais tempo para ter o vírus eliminado por completo de seu sangue. 

“Nesses casos, a viremia pode se estender por 15 dias ou até mais, causando a destruição contínua das plaquetas e levando a casos mais severos”, ressaltou. 

Sem água parada, sem mosquito. 

O ambiente propício para o Aedes se reproduzir é na água parada, porque ali as chances de haver predadores é menor. Gil Amaro alerta para alguns hábitos da espécie, como saídas entre 7h30 e 10h, e entre 16h e 19h para procurar seu alimento, sangue humano.

Mas esse comportamento, conforme ele explica, não impede que o mosquito saia para se alimentar em outros horários. “O mosquito está se adaptando à urbanização e pode atacar em qualquer horário”. 

“Se cada um separar 10 minutos por dia limpando calhas, evitando jogar lixo em qualquer lugar, tampando garrafas e fechando sacos de lixo, poderemos mudar esse “padrão” nos últimos anos”, conclui.

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