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Brasília

Futebol de Mesa: entusiastas batem um bolão com a bolinha

Esse costuma ser o clima de um torneio de futebol de mesa no Distrito Federal, onde atletas de diversas equipes participam

Redação Jornal de Brasília

01/03/2023 21h21

Foto: Arquivo pessoal

Gabriel Romeiro e Rodrigo Fontão
(Jornal de Brasília/Agência de Notícias CEUB)

Considerado um esporte desde a década de 1970, o futebol de mesa no Distrito Federal se destaca pela forte integração de grupos de amigos com rotina de encontros para partidas, além de buscar maneiras de atingir a nova geração, mantendo sua essência e tradição.

Em um ambiente de diversão e resenha, dois jogadores estão prontos para se enfrentar, com suas palhetas na mão e times com suas formações preparadas, será decidido quem irá dar a saída do meio do campo.

Esse costuma ser o clima de um torneio de futebol de mesa no Distrito Federal, onde atletas de diversas equipes participam, se divertem além de sempre encontrarem amigos de longa data que disputarão o campeonato junto com eles. A amizade dentro e fora dos torneios, com encontros de grupos de amigos que se reúnem para jogarem juntos é comum entre os praticantes do esporte no DF.

“O futebol de mesa aqui no DF é algo tradicionalíssimo e na regra que eu jogo, que é a 3 toques, tem praticantes desde os anos 70. O meu pai jogou nesse período e a turma continua unida desde então”, afirma o funcionário público e campeão brasileiro de futebol de mesa na regra 3 toques, Adolpho Parente, 41 anos, sobre a importância do esporte na vida dele. “Além de ter uma história por trás de tudo, você tem todo um ciclo de amizades com uma turma divertida, animada e que gosta de viajar junto para os torneios”.

A turma de amigos a que ele se refere possui um significado ainda maior. O interesse dele pelo futebol de mesa começou na infância e possui influência do pai.

“A minha paixão pelo futebol de mesa vem do meu pai que jogou nos anos 70 e 80 e eu desde criança o acompanhava. Eu era ainda muito pequeno e não tenho tantas recordações desse período. Eu morava na 211 sul e quando fiquei mais crescido, vi que uma turma sempre jogava nos chamados “estrelões” na portaria dos prédios e aquilo foi despertando em mim uma paixão sem tamanho”.

Embora Adolpho Parente não se recorde muito do período da infância em que acompanhava o pai na rotina de botonista, o também praticante de futebol de mesa e um dos integrantes do grupo de amigos dele, Paulo Caruso, 58 anos, se lembra muito bem dessa época.

“Somos pioneiros no futebol de mesa de forma federada aqui em Brasília. Há 43 anos que esse esporte faz parte da minha vida e nós nos reuníamos para jogar com o pai do Adolpho, muitas vezes na casa dele, e o Adolpho era aquela criancinha que ficava debaixo da mesa enquanto a gente jogava. Temos o privilégio de ter uma turma muito coesa e unida que convivo há tanto tempo”, comenta.

Paulo também foi o responsável pela primeira vez que Adolpho disputou uma partida de campeonato e a dedicação dele foi um dos motivos. “Morei um tempo fora de Brasília, mas no período em que havia retornado, reencontrei o Adolpho e vi o quanto ele praticava o futebol de mesa de forma dedicada e um torneio estava se aproximando. Era um torneio entre equipes e o Adolpho foi inicialmente para assistir, mas chegou um momento que junto a equipe decidi colocar ele para jogar e fiquei muito contente”.

Além da bola 3 toques, modalidade praticada por Adolpho Parente, no DF outras duas regras são aderidas pelos botonistas, são elas: Dadinho e 12 toques. Muitos jogadores se encantam pela regra Dadinho pela beleza que envolve os jogos que fazem uso dessa modalidade. Erb Lopes, jogador e professor, afirma que essa regra é mais realista.

“Na minha visão como jogador posso afirmar que o Dadinho é a melhor, pois é muito mais realista e possui uma beleza que consiste em você ter que estudar a posição do dadinho e há uma gama maior de possibilidades quanto aos lances no jogo”.

Ele acrescenta que em sua opinião a modalidade 12 toques não é tão atrativa devido a necessidade de um cuidado maior quanto ao palhetar e a precisão”.

Campeão da divisão ouro da taça Vasco da Gama, que ocorreu na sede da FBFM (Federação Brasileira de Futebol de Mesa) neste ano, Erb explica que ainda não existem tipos de premiações que vão além dos troféus e medalhas.

“No atual momento são somente medalhas e troféus. O que acontece é que os participantes do torneio se juntam e pagam uma taxa de inscrição para que possamos ter troféus e medalhas para todos eles, para que preferencialmente todos eles sejam premiados”.

Atual campeão brasileiro de futebol de mesa na modalidade 3 toques, Adolpho Parente acrescenta que nos torneios de futebol de mesa o atleta vencedor costuma ser presenteado com um time de botão novo. Para ele, jogadores que não estão ambientados no mundo do esporte não são capazes de sentir o prestígio que é vencer um torneio e entender o significado deste feito, apenas um simples troféu basta.

“Para alguém que não é ligado ao futebol de mesa como nós apenas o troféu basta, mas para nós que somos do movimento o prêmio é muito mais que o troféu, pois tem também a consciência de ter participado do torneio e vencido por mérito próprio”, afirma Adolpho. Segundo ele, ainda que o futebol de botão como esporte possui um caráter inclusivo para as diferentes classes sociais: o atleta necessita somente de um time e de uma palheta para se igualar aos adversários.

Além do prazer de jogar, uma simples partida de botão pode fazer uma diferença significativa na rotina de um jogador. O empresário no ramo construtivo Marcio Mourato, praticante do esporte, diz que a prática é extremamente necessária. “O futebol de mesa profissional não é um simples hobby, nós levamos muito a sério não basta você chegar e querer se sair bem de cara. É necessário que haja um treinamento da parte da pessoa em casa, pois não é fácil acertar o gol e a pessoa precisa ter dedicação”. Marcio tem o costume de praticar quase todos os sábados por meio período, e no meio da semana também com treinos coletivos junto a seus colegas federados em média de duas a três horas.

Segundo Marcio, a vida de um botonista com a rotina de treinos e partidas de torneios de futebol de mesa pode ajudar a aliviar o stress do dia a dia.

“O sentimento de participar de um torneio é sempre o melhor possível e o ambiente é muito bacana, descontraído e você relaxa. às vezes a pessoa chega de um dia ruim do trabalho encerrando a semana desse jeito, mas no final de semana ela tem a possibilidade de ir à federação e aos torneios que ajudam a aliviar o stress o que é muito prazeroso”. A dedicação durante o ano de 2022 lhe rendeu bons frutos, como o troféu fair play que recebeu por ter sido um jogador exemplar durante todos os campeonatos que participou no ano.

“Esse troféu eu ganhei devido a minha dedicação, e quando o organizador do torneio mostrou para nós, disse que iria presentear os atletas que mais somaram esse ano, ou seja, aqueles em que na maioria dos jogos jogaram com respeito às regras e os adversários, que tiveram foco e não causaram nenhum tipo de intriga. Eu ganhei um e outro atleta na sede do Gama ganhou o outro. Para mim foi gratificante ter ganho esse prêmio”, diz Márcio, citando o também esportista Simplício Santos.

Organizador do torneio, Simplício é um dos atletas mais experientes da Federação Brasiliense de Futebol de Mesa. Além de botonista, é assistente de orçamento e fiscalização financeira. Segundo ele, o esporte hoje encontra dificuldade em conquistar os jovens. “Talvez hoje seja o maior desafio do futebol de mesa: atrair os jovens. A criança até possui uma conexão com o esporte, mas fazer com que ela ame e aprecie o futebol de mesa e que essa paixão dure toda a vida, é bem complicado”.

Paulo Caruso acrescenta que a curiosidade dos jovens ao verem uma brincadeira do tempo dos pais, pode ser um diferencial na integração deles. “Gostaria muito que o futebol de mesa tivesse a facilidade de atingir os jovens dessa geração em que há a preferência pelos jogos online que permite que os jogadores comprem um mundo inteiro praticamente. Por outro lado, quando as pessoas têm a oportunidade de ver uma mesa oficial de futebol de botão elas ficam encantadas. Meu filho começou a disputar campeonatos com a gente e está adorando”.

Apesar das dificuldades, Simplício destaca avanços para o esporte. “Hoje, o futebol de mesa (antigo futebol de botão) teve uma evolução na maneira em que é organizado. A federação existe desde 1979 e hoje já temos uma sede, um site além de rede social e mais uma modalidade que é a 12 toques, a maior do Brasil em termos de adeptos. Então há um crescimento apesar dos dois anos de pandemia”.

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