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Brasília

Em cenário diferente do nacional, Lula ganhou em apenas uma zona eleitoral do DF

Por outro lado, o PT registrou uma recuperação da ampla derrota no segundo turno da eleição passada, com um crescimento de 11%

Redação Jornal de Brasília

31/10/2022 17h22

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Gabriel de Sousa
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Diferentemente dos números nacionais, o presidente Jair Bolsonaro (PL) saiu vencedor na capital federal, vencendo o então mandatário eleito Luís Inácio Lula da Silva (PT) por 58,81% a 41,19% das preferências. No total, Bolsonaro recebeu 1.041.331 votos, enquanto que Lula teve 729.229 seleções nas urnas eletrônicas.

Das 14 unidades da federação em que Jair Bolsonaro foi vitorioso, o Distrito Federal foi a oitava com maior margem ante ao petista. A capital federal teve um percentual maior do que o estado de Goiás, Amapá, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Houve também 29.663 votos brancos (1,61%) e 38.203 nulos (2,08%). 369.136 eleitores não foram às urnas neste domingo (30), fazendo com que a taxa de abstenção no Distrito Federal fosse de 16,72%. Um fato de destaque é que o DF teve o maior comparecimento de todo o Brasil, além de ter o terceiro maior percentual de votos brancos.

O Distrito Federal é dividido em 21 zonas eleitorais, e em 20 o mais votado foi Jair Bolsonaro. Já Lula venceu apenas na 14º Zona, que abriga os eleitores da Asa Norte. O presidente eleito ainda teve uma disputa apertada por lá, vencendo por apenas 1.722 votos, terminando o pleito vencendo por 51% inteiros, enquanto que o atual mandatário terminou com 49%.

Samambaia e Taguatinga tiveram maior margem

As zonas eleitorais que tiveram uma vitória mais expressiva de Bolsonaro foram as 13º e 19º. A primeira abriga os eleitores de Samambaia, e por lá, o candidato que não conseguiu se reeleger teve 70.727 votos, enquanto que o presidente eleito teve 40.121, 30,6 mil a menos. Os percentuais finais foram de 63,81% a 36,19%, uma diferença de 5 pontos em comparação ao DF como um todo.

Já a 19º Zona, que abriga os eleitores de Taguatinga, foi a que Bolsonaro teve o seu melhor desempenho no primeiro turno. Porém, no último domingo (30), foi a segunda com maior margem. O atual mandatário da nação teve 55.268 votos, enquanto que Lula teve 32.107 preferências. Os percentuais foram de 63,25% para o candidato do PL e 36,75% para o petista.

A menor margem a favor de Bolsonaro foi na 1º Zona Eleitoral, onde votaram os eleitores da Asa Sul. O presidente teve 32.150 votos (52,95%), enquanto que Lula terminou com 28.563 escolhas (47,05%). A maior zona eleitoral do DF é a de 15º Zona Eleitoral, sediada na região administrativa de Águas Claras, por lá, Bolsonaro foi escolhido por 78.347 pessoas (59,67%) e Lula por 52.963 (40,33%).

Bolsonaro perde eleitorado, PT cresce no DF

Apesar da ampla vitória de Bolsonaro na capital federal, o presidente teve uma margem menor do que a contabilizada no segundo turno da última eleição presidencial em 2018. Naquele pleito, o então candidato do extinto Partido Social Liberal (PSL) teve 1.080.411 votos, conquistando um percentual de 69,99%. Já Fernando Haddad (PT), derrotado naquele ano, teve 463.340 preferências, ficando com 30,01% do eleitorado.

Já neste domingo (30), Bolsonaro teve 39 mil votos a menos do que na eleição em que foi eleito. O percentual do presidente também foi menor, sendo 11% a menos do que o de quatro anos atrás. Já o PT teve 11% a mais do que no pleito de 2018, contabilizando 265.955 votos a mais do que Haddad em 2018.

O desempenho de Lula no DF também foi maior do que o registrado pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2014, nas eleições onde ganhou do tucano Aécio Neves em outra eleição polarizada que teve margens eleitorais acirradas. Naquele ano, Dilma teve 580.581 votos, sendo escolhida por 38,10% do eleitorado distrital.

Em comparação ao primeiro turno realizado no dia 2 de outubro, o DF foi a unidade federativa onde Lula mais cresceu. Na primeira volta, o petista teve 649.536 votos, já neste último domingo (30), o presidente eleito teve 729.295, evidenciando um crescimento de 12,28% da preferência do eleitorado. Nenhum outro estado teve um crescimento maior.

Um povo engajado

Em uma entrevista exclusiva com a equipe de reportagem do Jornal de Brasília, o cientista político André César classifica a baixa abstenção no Distrito Federal como um “fenômeno”, tendo em vista que, mesmo não tendo segundo turno para o cargo de governador, os brasilienses foram em massa para as urnas.

De acordo com o especialista, os brasilienses podem ser considerados como um “povo mais politizado” pelo fato de conviverem diariamente com as esferas do poder nacional, o que pode explicar a alta adesão às urnas. Na capital do país, a política faz parte do dia a dia da população, que podem escolher, a cada quatro anos, qual será o seu vizinho que viverá no Palácio da Alvorada.

“Você tem essa ligação e essa conexão natural. É interessante porque você tem, em tese, dois feriados, sexta foi o Dia do Servidor e nesta quarta é o Dia de Finados, então para você desmobilizar ‘vamos para o hotel fazenda, para o Rio, para Minas’, mas isso não aconteceu, pelo contrário. Além disso, isso ocorreu em um lugar que já tinha definido o governador em primeiro turno”, explica.

André observa que a isolada vitória de Lula na Asa Norte pode ser explicada, dentre outros fatores, pela presença do principal campus da Universidade de Brasília (UnB), além da presença de jovens universitários engajados com as ideias políticas de esquerda que vivem na região.

Paulistano, o cientista político compara a região do DF com o bairro de Barão Geraldo, em Campinas, onde fica a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Mesmo sendo uma cidade de amplo domínio de candidatos políticos de direita, por lá, a esquerda costuma ter bons resultados, contrastando com o restante da cidade: “É uma influência regional e geográfica”.

O “efeito Lula”

Para o cientista político, os números do segundo turno não significam propriamente que o Partido dos Trabalhadores teve um crescimento elevado no DF, e sim a existência de um “efeito Lula”, que foi sentido também em diversos locais do país. Eleito para um inédito terceiro mandato, Luís Inácio Lula da Silva traz memórias positivas de grande parte do eleitorado, que se recordam do período onde o seu governo teve uma grande taxa de aprovação.

“É um ícone supremo que está saindo de cena, então não dá para comparar. Já em 2018, você teve um outro elemento, que era a questão da pós lava jato e da corrupção, que era a pauta principal da opinião pública. As pesquisas mostravam que não era a economia o que os eleitores mais pensavam, hoje mudou, hoje a economia foi a prioridade”, explica o especialista.

André César lembra que Lula não deve concorrer a uma reeleição em 2026, já que o próprio petista já recusou a oportunidade de um quarto mandato durante a sua campanha. Segundo o especialista em política, a esquerda e o PT necessitam de uma renovação, tanto no DF quanto no Brasil, para que as vitórias eleitorais continuem acontecendo sem a presença da imagem do presidente eleito. “Você tem que ampliar o surgimento de novas lideranças. Talvez, a gente possa dizer que é um certo cansaço do outro lado, e não mérito da esquerda. A esquerda e o PT têm que se reencontrar, e eu não vejo, hoje, essa capacidade de se reencontrar”, conclui o cientista político.

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