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Brasília

Dia Mundial Sem Tabaco alerta para riscos de novas formas de fumar

O novo cenário do tabagismo, com dispositivos eletrônicos cada vez mais presentes, tem impactado os atendimentos diários da SES

Redação Jornal de Brasília

31/05/2023 16h46

Paciente do Programa de Controle do Tabagismo, Andreana de Jesus está há dois anos sem fumar | Fotos: Sandro Araújo/Agência Saúde

Andreana de Jesus tinha 29 anos quando segurou o cigarro de uma amiga e tragou algumas vezes por diversão. “Eu fazia triatlo e tive que parar tudo por causa do cigarro. Fumei por mais de 20 anos e tive muitos problemas”, conta. Neste 31 de maio, Dia Mundial Sem Tabaco, ela comemora os dois anos livre do vício e deixa o alerta: “Pare de fumar! Esse hábito traz muitas doenças e problemas na vida da gente. Destrói não só você, mas a sua família também”.

Para a médica pneumologista Nancilene Melo, histórias como a de Andreana têm se repetido diariamente, porém, com uma mudança: novas formas de fumar. “Infelizmente, um número significativo de pessoas acha que utilizar dispositivos eletrônicos não corresponde a fumar. Ledo engano. Mesmo naqueles dispositivos que se dizem sem nicotina há uma série de substâncias capazes de fazer mal ao organismo”, reforça.

Dados do Ibope Inteligência apontam que o uso do cigarro eletrônico dobrou em apenas um ano, passando de 0,3% para 0,6% da população no Brasil. Dentro desse cenário, especialistas estimam que cerca de 600 mil pessoas fazem uso do dispositivo. “O uso cigarro eletrônico/vapes não é liberado no Brasil e, portanto, não há vigilância quanto ao conteúdo exato das substâncias químicas utilizadas no produto. Considerando a presença de nicotina e de outras substâncias químicas nocivas como o formaldeído, estima-se que deva haver uma associação entre o vape e o câncer de pulmão”, explica a especialista do Centro de Câncer de Brasília (Cettro), Janice Farias.

Quem usa o narguilé acaba exposto a substâncias como benzeno, arsênico e chumbo contidos no tabaco, além de substâncias existentes no carvão utilizado. O volume de vapor, na verdade aerossóis, de uma rodada de narguilé de cerca de uma hora é equivalente ao de 100 cigarros tradicionais.

O novo cenário do tabagismo já tem impactado os atendimentos diários da Secretaria de Saúde (SES). “Tanto mães como os próprios adolescentes têm trazido os pacientes aqui para pararem de fumar, porque sabemos que hoje há essa onda dos pods, dos vapers, e a meninada assume essa tecnologia com a maior naturalidade”, revela o médico Francisco Leal, da policlínica de Taguatinga.

Há a preocupação também pelo uso combinado. De acordo com a médica pneumologista Nancilene Melo, tem se tornado comum o relato de jovens que iniciam o uso com narguilé ou dispositivos eletrônicos. Iniciada a dependência de nicotina, contudo, eles passam a utilizar o cigarro tradicional, por ser mais barato. “O indivíduo termina por manter os dois usos. É assustador”, revela.

Tratamento multidisciplinar

Não há medicações 100% eficazes contra o tabagismo. Ansiolíticos, antidepressivos e adesivos são considerados auxiliares, mas o processo exige uma abordagem multidisciplinar. “O tratamento do tabagismo feito na SES é voltado, principalmente, para o cognitivo comportamental. É uma questão de hábitos. Não adianta tratar somente a parte química, pois se a pessoa continuar com aquele hábito, ela vai retornar à dependência, ao vício”, explica o assistente social Saulo de Oliveira, da Gerência de Vigilância Epidemiológica de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde da SES.

Os pacientes concordam. “Já faz 90 dias que estou sem fumar. São quatro anos tentando. Não é um vício fácil”, opina Tânia Paula Garfez, 53 anos, fumante desde os 16 e atualmente em acompanhamento na policlínica de Taguatinga. A decisão de parar, porém, quase sempre vem em um momento de choque. “Eu só parei quando fui internado e me falaram que estava com enfisema pulmonar”, conta o paciente José Pereira Barbosa, 68.

“Eu só parei quando fui internado e me falaram que estava com enfisema pulmonar”, conta José Pereira Barbosa, de 68 anos

Riscos de câncer

De acordo com a oncologista do Cettro, Janice Farias, fumantes tem até 22 vezes mais chances de desenvolver câncer de pulmão ao longo da vida em comparação com não fumantes e que maioria dos pacientes com esse tumor apresenta sintomas relacionados ao próprio aparelho respiratório. “Os principais sintomas relacionados ao câncer de pulmão são tosse persistente por mais de 3 semanas, dor torácica que piora com a respiração, perda de apetite e dificuldade para respirar. Na fase inicial, geralmente, não observamos sintomas. Alguns pacientes podem ter raios de sangue durante a tosse, mas esse não é um sintoma específico de câncer. Uma parcela dos pacientes abrirá o quadro com dor óssea decorrente de metástase”, diz.

A médica afirma ainda que assim como em outras neoplasias malignas, o diagnóstico precoce aumenta muito a chance de cura do paciente. Tumores pequenos e sem comprometimento dos linfonodos ao redor podem precisar apenas de cirurgia, sem necessidade de quimioterapia.

Com agências

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