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Brasília

Dia Mundial da Luta Contra a Aids: entidade em Brasília cuida do acolhimento e da luta contra a doença do preconceito

Ela explica que as crianças e jovens costumam chegar ao instituto após vivenciarem situações de abandono e preconceito

Redação Jornal de Brasília

01/12/2022 15h59

Foto: Marcello Casal/Agência Brasil

Gabriel Botelho e Beatriz Lacerda
(Jornal de Brasília/Agência de Notícias CEUB)

O combate à Aids tem significado especial no Instituto Vida Positiva. A entidade, que tem sede na Asa Sul, em Brasília, acolhe crianças e adolescentes que possuem o vírus do HIV. A fundadora e coordenadora da entidade, Vicky Tavares, de 72 anos, explica que um dos papés principais do instituto, é combater o preconceito e a falta de informação sobre a doença.

Ela explica que as crianças e jovens costumam chegar ao instituto após vivenciarem situações de abandono e preconceito, já que ainda existe um estigma relacionado à doença.

O trabalho da “vovó Vicky”, como ela é chamada na casa, e dos voluntários é justamente amparar, acolher e informar para que a falta de informação não se torne mais prejudicial que o próprio HIV.

A jovem Carla*, 17 anos, que será chamada dessa forma justamente pela preferência de não se identificar, convive com pessoas que têm HIV desde que nasceu e sabe da importância do combate à desinformação.

A mãe da jovem está em situação de rua e é portadora da doença, em meio às dificuldades de criar duas filhas, ela chegou ao antigo instituto onde Vicky Tavares atua com crianças com HIV. A mãe e suas duas filhas foram amparadas pela vovó.

“Ela pediu ajuda para minha avó [Vicky Tavares] e foi acolhida. Minha irmã e eu ficamos morando aqui por um tempo e depois a Vicky adotou nós duas”, conta a estudante. Pouco tempo depois, a mãe da jovem faleceu por conta da Aids. “Ela não se cuidava, não tomava remédio, tentou no começo mas não levou o tratamento adiante e acabou voltando para as ruas”, relata.

Hoje, a filha da dona Vicky atua no instituto e ajuda as crianças a lidarem com a pergunta frequente das crianças “por que minha mãe não está comigo?”. “Eu entendo que é muito difícil para elas lidarem com essa pergunta, porque foi difícil para mim e para minha irmã aguentarmos também”, diz.

Carla afirma que sua irmã Lola, 18 anos, ainda questiona o porquê de ter contraído a doença e o porquê da mãe ter passado pelo que passou. “Ela nasceu com o vírus e hoje em dia está indetectável, nós sempre convivemos normalmente”, relata a jovem.

Ambiente acolhedor
Apesar das dificuldades que a doença carrega, os dias são de alegria e festa no Vida Positiva. “Venho de manhã cedo para brincar com as crianças e ajudá-las no dever de casa. Faço até minhas atividades com elas. Nós brincamos bastante e quando tem festa aqui todo mundo se diverte, traz música, todo dia é uma festa aqui”.

Ainda de acordo com ela, a parte difícil é lidar com o preconceito contra o HIV e contra serem duas jovens negras. “Na escola, quando descobriram que ela era portadora do HIV, ela sofreu bastante. Nós nos reunimos e fomos ajudar uma outra e deu tudo certo”.

Ainda que Lola e outras crianças e jovens lidam com o preconceito que ser portador do HIV carrega, o dia 1° de dezembro é um dia especial no instituto e é marcado pela luta vivida por eles.

“A data faz uma diferença enorme, querendo ou não, nós aqui da Vida Positiva fazemos uma festa com balões vermelhos. A gente gosta bastante”, se anima.

Carla conta que na escola as pessoas descobriram a data através de um vídeo divulgado pelo Instituto Vida Positiva. “Algumas pessoas apoiaram a gente e eles usaram o selinho vermelho da data, é muito bacana”, conta.

Data

Ela conta que embora ainda haja muito preconceito, no dia 1º de dezembro, que marca a luta mundial do combate ao HIV, há muito apoio: “O dia faz uma diferença enorme. Querendo ou não, nós aqui da Vida Positiva fazemos uma festa nesse dia com balões vermelhos, a gente gosta bastante”.

Mesmo com essas pequenas vitórias, Carla afirma que a luta ainda não acabou. “Ainda falta muita informação nas escolas, em tudo. Existem informações por aí mas ainda não é o suficiente para que as pessoas deixem de ver a doença como algo ruim, a informação nunca é demais. Falta muito para que as pessoas saibam como é a doença e que não tenham preconceito”, reforça.

Família

Por fornecer um serviço de auxílio e fortalecimento a diversos desamparados por conta do HIV , o Instituto Vida Positiva e a “Vovó Vicky” estão constantemente lidando com algumas histórias de muita dificuldade, assim como de superação.

Este é o caso da jovem Joana, de apenas 20 anos, que também será chamada dessa maneira pela preferência por não se identificar.

Vítima de abuso, Joana contraiu a doença por conta da violência que sofreu, resultante do nascimento de sua terceira filha, que chegou quando tinha apenas 17 anos de idade.

Mãe pela primeira vez aos quinze, e pela segunda aos 16 anos, ela conta que o preconceito que sofre, ainda hoje, por ser uma mãe tão nova e por ter se contaminado com o HIV, é desgastante.

“É um pouco difícil, né? Eu nova, mãe de três filhos, já sofro um julgamento por isso, e ainda com o preconceito sobre o HIV, acaba se tornando em uma forma muito grande para desmotivar”, lamenta.

Joana precisa ouvir da boca de outras pessoas que não há um motivo bom o suficiente que fizesse com que ela tivesse tantos filhos com tão pouca idade, porque ela “nem vai ver por tanto tempo”.

As maiores doenças

A ignorância e a falta de informação, segundo ela mesma, são os maiores problemas. Joana conta que um dos episódios em que passou mais aperto aconteceu na sua faculdade, onde cursa o primeiro semestre de enfermagem, em que, durante uma campanha do Outubro Rosa, ela precisou passar por um procedimento em que teve de registrar que era soropositivo, para que assim pudesse fazer um exame.

“Aí as pessoas já ficam olhando, né. ‘Cuidado!’, elas diziam quando chegava perto. Lá eu achei um absurdo. Foi o lugar onde mais me chamou a atenção (a faculdade)”.

Para ela, o mais triste de tudo foi o fato de ter sido tratada dessa forma em um ambiente da área da saúde, em que, teoricamente, deveria haver certo conhecimento sobre o assunto.

Joana conta que chegou ao Instituto em 2017, aos 15 anos, quando ganhou o seu primeiro filho. Através da médica do Instituto, profissional que é responsável por atender os pacientes e hóspedes do local, ela foi capaz de conhecer o trabalho de Vicky e um pouco da dinâmica do instituto. 5 anos depois, a estudante de enfermagem conta que o Vida Positiva, para ela, já virou casa.

“Fui muito bem acolhida. É um trabalho muito bonito. E, com todo o apoio e ajuda para me reestruturar que recebi aqui, pude dar entrada na realização do meu sonho: o de me tornar enfermeira”, sorri. Joana conta que, finalmente, graças ao Instituto, agora é capaz de tocar a sua vida, inclusive, no aspecto acadêmico.

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