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Brasília

Delegado da PCDF mantém convicção na tese de latrocínio no caso da 113 sul

Pedro Cardoso, diretor-geral da PCDF, mostrou-se irritado quando os executores negaram a existência de autoria intelectual no crime

Marcus Eduardo Pereira

28/09/2019 21h14

O delegado aposentado André Victor do Espírito Santo foi a quarta testemunha deste sábado (28) no julgamento de Adriana Villela, acusada de encomendar o assassinato dos pais, José Guilherme e Maria Villela. André enfatizou a inquirição feita com Leonardo Alves, autor confesso do crime, que negou qualquer participação da ré no caso, e confirmou à defesa que o depoimento de Leonardo atesta o crime de latrocínio, e não homicídio. 

Chefe do Departamento de Polícia Circunscricional da Polícia Civil (PCDF) à época do assassinato do casal Villela e de Francisca da Silva, empregada doméstica da família, André mantém, 10 anos depois, a tese de roubo seguido de morte. “Eu estive na cena do crime. Desde o primeiro momento me veio como latrocínio, e ainda permanece esse entendimento”, declarou o depoente.  

Pedro Cardoso, diretor-geral da PCDF, mostrou-se irritado quando os executores negaram a existência de autoria intelectual no crime. “O Diretor-Geral queria aquele desfecho”, declarou o delegado aposentado. Para isso, a inclusão de Adriana como mandante, sem executores, do assassinato dos pais e de Francisca dependeria da supressão dos relatos de autores confessos do triplo homicídio.  

O próprio Leonardo, quando ouvido por policiais, declarou não haver mandantes no crime da 113 sul. O executor confesso inclusive recusou qualquer benevolência na sentença para incluir Adriana na dinâmica do crime. “A Adriana não está envolvida nisso. Se me disserem que a pena cai 10, 20 anos se eu falar que sim, eu vou continuar dizendo que ela não estava, porque ela não estava”, disse Leonardo ao depoente, segundo o relato. 

Ele também apontou falhas na investigação e na entrada de Adriana no rol de suspeitos. Para ele, as explicações dadas pela ré foram suficientemente fortes para desacreditar a participação dela no crime. “O álibi dela era forte, isso mesmo antes da prisão dos executores. Eu falei que a investigação estava errada, que seria uma injustiça devassar a vida de alguém honesto”, relatou a testemunha. 

O delegado aposentado relatou que disse a interlocutores, por ocasião da prisão de Adriana em 2010, que “se isso fosse feito ia ser muito difícil de arrumar depois”.  Questionado por que disse a frase, ele determinou que a operação era equivocada. “Reconhecer o erro é um ato de nobreza, nunca é tarde para isso. Aquele foi o último momento. ‘Erramos, todo mundo erra, e agora nós temos a solução’”, declarou André. 

Alvo

Encarregado de “fazer o meio-campo” entre os investigadores e a família, André foi indiciado por quebra de sigilo funcional. Tudo se deu, segundo ele, quando a investigação saiu da 1ªDelegacia de Polícia (Asa Sul) e foi para a Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida). Neste momento, ele encaminhou e-mail a Adriana “Dizendo que o delegado julião era muito competente e daria bom encaminhamento às investigações”, relatou. 

Conchavo 

Um reportagem do Correio Braziliense de 19 de novembro de 2010 foi apresentada pela defesa para sustentar um conluio entre a força-tarefa de investigação contra Adriana Villela. Segundo a matéria, o procurador do Ministério do Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) Maurício Miranda e a delegada Mabel se reuniram na Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida) por cerca de 20 minutos. O membro da acusação afirmou em plenário que o jornal mentiu no material jornalístico. 

Na saída da reunião, Maurício chegou a dar entrevista ao veículo. “As investigações estão bem do jeito que têm que ser e não adianta achar a verdade por meio da ilegalidade. Isso rompe com o direito democrático”, declarou o procurador à época. O motivo da reunião foi a confissão de Leonardo, que Mabel acreditava ser a mando de alguém. Para a então delegada, não havia indícios – sequer impressões digitais – de que o autor do crime esteve no apartamento.

Sequência 

Após o depoimento de André o juiz encerrou a sessão deste sábado. Os trabalhos do Tribunal do Júri voltam às 9h do domingo (29), com as oitivas de Pedro Gordilho, advogado, e Samil El Jundhi. Depois disso haverá a leitura dos autos e, na sequência, o depoimento da acusada. O julgamento de Adriana Villela já é o mais duradouro da história do Distrito Federal. Já são mais de 60 horas de depoimentos no caso da 113 sul. 

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