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Brasília

Cresce uso abusivo do medicamento ritalina

Arquivo Geral

24/02/2013 13h00

Daniel Cardozo

Especial para o Jornal de Brasília


Aumentou o consumo de metilfenidato, medicamento tarja preta para o tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Entre 2009 e 2011, o uso de remédios com o componente mais que duplicou no Brasil, e no DF só tem aumentado. Apesar de ser indicado para crianças e adolescentes, o fármaco é utilizado por adultos, em busca de maior concentração. 

 

Na internet, é fácil encontrar endereços com oferta desse tipo de produto, sem a exigência de receita médica. Ritalina é a denominação mais comum do medicamento. 

 

O levantamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aponta que foram vendidos 156,6 milhões de miligramas (mg) do medicamento em 2009. Já em 2011, 413,3 milhões foram comercializados, um número 164% maior do que no ano anterior. A proporção de caixas do medicamento vendidas no DF é a maior do Brasil. Foram comercializadas 114 caixas para cada mil crianças da capital federal, em 2011, representando um aumento de 30% nas vendas em relação a 2009.

 

A pesquisa foi embasada em dados do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), sistema da Anvisa que contabiliza as vendas de medicamentos controlados. O estudo não traz estimativas de venda ilegal, devido à dificuldade na fiscalização.

 

Consumo sem indicação


De acordo com a coordenadora do SNGPC, Márcia Gonçalves, o crescimento pode trazer à tona a seguinte discussão: “Como contabilizamos apenas os dados de vendas legais, a pergunta que propomos é: quem está tomando metilfenidato é quem realmente precisa ou o aumento se deve ao consumo sem indicação? A Anvisa, com esse estudo, está contribuindo para o debate e pretende oferecer esses dados para uma discussão mais profunda”, destaca.

 

Sobre a venda em grandes proporções do medicamento no DF, a coordenadora do SNGPC afirma que, provavelmente, a situação econômica atual é a causa do aumento. “A concentração pode ser alta por conta da condição financeira do habitante do DF. Afinal, o medicamento não é barato e existem famílias que não têm condições de arcar com os custos”, explicou. Uma caixa com 30 cápsulas de 30 mg chega a custar R$ 200.

 

Desde os sete anos, Ágatha Souto toma o metilfenidato para combater o TDAH. Hoje, aos 11, possui melhor desempenho na escola e não tem mais dificuldade para dormir. “É uma diferença gritante. Antes, a Ágatha não conseguia se concentrar e ia mal na escola. Desde que passou a tomar o remédio, ficou uma pessoa mais tranquila, já consegue estudar sozinha e não acorda durante a noite”, comemorou a mãe, Ive Lima, bancária. 

 

Efeitos da abstinência do remédio


Atualmente, a estudante Raíssa Rocha, de 21 anos, não consome mais metilfenidato, apesar de ter sido diagnosticada com TDAH aos 13 anos. Durante os dois anos em que consumiu as pílulas, a universitária conta que foi criando dependência do medicamento. “Se passassem alguns minutos ou poucas horas do horário habitual eu já sentia os efeitos colaterais. Com doses baixas não sentia muito, mas quando precisei tomar doses mais altas e mais de uma vez ao dia, comecei a sentir muito nervosismo, tremor e insônia”, relembrou.

 

Até decidir parar com as doses do remédio, Raíssa, então com 15 anos, via os efeitos aumentarem. “Era visível como já tava ficando dependente. Me lembro bem de um dia que fiquei sem o remédio e minhas mãos ficaram tremendo muito. Fora os nervosismos, às vezes chorava de raiva, e sem motivo mudava de humor”, contou.

 

O estudante Felipe Azevedo consome metilfenidato desde o ano passado, pois foi diagnosticado com TDAH e conta que teve de mudar de remédio por conta dos efeitos colaterais. “No começo eu tomava Ritalina, mas comecei a ter depressão, e, por isso, tive que mudar para o Concerta. Hoje em dia, tomo o remédio todos os dias e não tenho problemas, até me ajuda a me concentrar”, informou.

 

Pense nisso:

 

Embora algumas pessoas considerem que o uso da ritalina  “milagroso”, há muito a ser considerado antes de fazer uso do medicamento. Além da estrita prescrição médica, no caso das crianças, é fundamental que os pais acompanhem o filho de perto. O tratamento vai muito além do uso de uma substância. Requer muita atenção à criança.

 

Saiba mais:

 

A Ritalina vem fazendo cada vez mais adeptos em ambientes onde as pessoas passam por situações de estresse. Seja em faculdades ou cursinhos, pressionados por provas, exames e trabalhos, estudantes estão fazendo uso do medicamento. 

 

A Ritalina, nesses casos, teria o objetivo de melhorar a concentração e diminuir o cansaço. 

 

 Pesquisa do Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina da USP, no entanto, descobriu que o desempenho da memória e da atenção de jovens não é alterado após o consumo.

 

Veja a reportagem completa na Edição Digital

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