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Brasília

Brasiliense promove apoio a pessoas em luto, após perder marido e 4 filhos em acidente

Otimista e muito ligada à fé espírita, ela se emociona ao falar da família e transforma os fragmentos das memórias em um belo mosaico

Redação Jornal de Brasília

09/10/2023 17h12

Imagem: Vânia Borges/ Arquivo Pessoal

Lorena Rodrigues

Jornal de Brasília/ Agencia Ceub

Dia 22 de dezembro de 2010, esta é a data em que as sombras da dor do luto se ergueram sobre a vida da professora Vânia Borges de Carvalho, 54. A BR-020 em Correntina, no oeste da BA, testemunhou a colisão que tragicamente interrompeu a vida de seus quatro filhos e seu marido, que deixou cicatrizes que não se apagariam facilmente. 

O veículo, que representava a união familiar, o aconchego e a alegria, foi brutalmente atingido por um Voyage há 150km por hora e consumido pelas chamas em um piscar de olhos. 

Pedro tinha apenas 9 anos quando faleceu, vítima do acidente automobilístico. Os três irmãos, Rayran, 16, Anna Beatriz, 12, e Júlia, 5, também  perderam a vida na tragédia, além do pai das crianças e parceiro de Vânia, Jarismar, 43. 

A UTI do Hospital Regional da Asa Norte, foi onde Vânia lutou pela vida durante 90 dias. Por fora, as marcas de queimaduras que atingiram 70% de seu corpo, por dentro, as últimas lembranças fumegantes da tragédia. O luto é avassalador. 

Com a explosão instantânea do veículo e a voracidade das chamas, Anna Beatriz, 12 anos, e Júlia, 5, foram carbonizadas. Vânia já sabia que não veria suas meninas novamente. Ainda assim, a professora mantinha esperanças de que seu marido e seus filhos, Pedro e Rayran, sobrevivessem ao acidente, já que ambos foram socorridos com vida. 

O que Vânia não sabia, era que seu companheiro e seus dois filhos também não haviam resistido ao impacto da colisão. Somente após obter alta do hospital, 90 dias depois, Vânia recebera a notícia de que era a única sobrevivente da tragédia. 

O último contato foi com o seu filho mais velho, Rayran. Ambos chegaram a conversar após a batida e seguiram juntos na mesma ambulância com destino a Brasília. O filho mais velho da professora lutou durante 15 dias na UTI, mas também não resistiu aos ferimentos graves. 

A saudade dos planos e sonhos ecoa nas lembranças que sempre voltam à tona. Vânia precisou reaprender a andar, a movimentar as mãos, e  principalmente, a curar-se das profundas cicatrizes da alma.

O renascimento 

Helana Ribeiro é psicóloga e especialista em Tanatologia – sobre morte e morrer. “O luto é um processo que consiste em uma reação à perda e envolve a adaptação a uma nova realidade. “A perda se torna significativa, pois há um vínculo. O vínculo envolve afeto e amor”, explica.

Afeto, amor, coragem e fé foram as ferramentas que permitiram com que Vânia desse uma segunda chance à vida. Em meio à escuridão, timidamente uma chama de esperança brilhava. Mesmo carregando as marcas físicas e emocionais, ela encontrou forças para enfrentar a dor que parecia insuperável. Das trágicas lembranças do momento que cessou a vida de sua família, Vânia coleciona recordações vivas de seus filhos, que carinhosamente apelidou de “pérolas”.

 Otimista e muito ligada à fé espírita, ela se emociona ao falar da família e transforma os fragmentos das memórias, em um belo mosaico de recordações e nostalgias. “É um processo individual, doloroso, solitário, e paradoxalmente acompanhado. De quais companhias? As fotos trazendo todo o passado sempre presente, com doces e inesquecíveis lembranças; As músicas que me levam a anos dançantes de inefáveis alegrias; Os ambientes trazem espantosamente o cheiro, os risos de cada uma das minhas pérolas!”.

“O luto é um processo interminável, algo que fica e se integra à nossa vida”, ressalta a psicóloga Helana. Segundo a especialista, é um processo de adaptação. É aprender a viver com a ausência física, mas a presença simbólica que permanece em nós. 

Assim fez Vânia, que pouco a pouco, ergueu-se das cinzas, tal qual fênix renascida. A escrita tornou-se sua aliada, as palavras, um bálsamo para sua dor. A professora deu início a sua trajetória como escritora, transcrevendo suas vivências em histórias que ecoam em corações feridos, trazendo conforto e empatia a outras famílias e pessoas que também trilharam caminhos tortuosos. Em 2014, Vânia lançou seu primeiro livro “Pérolas no Asfalto”, onde colocou no papel toda a sua história de vida. Os capítulos difíceis, assim como algumas mensagens psicografadas que costuma receber com frequência, também entraram na história.

Ao refazer o itinerário de sua vida, enfatiza que a superação não é sobre esquecer, mas sim honrar a memória daqueles que se foram. Com suas meigas palavras, ressalta que seus filhos e marido vivem para sempre em seu peito e o amor que os une se torna o combustível para sua caminhada. Vânia aprendera a caminhar ao lado das lembranças e cultivá-las eternamente. “Esquecê-los ou pretender removê-los das lembranças é como uma morte. Não quero matá-los novamente!”

Entre o luto, a saudade e a superação, Vânia é mais do que uma sobrevivente. Ela é a prova viva de que a alma humana é capaz de se reerguer mesmo diante das maiores adversidades. É um farol a iluminar os caminhos de outras almas que atravessam mares turbulentos. Ela se tornou a inspiração para a busca da força interior, a certeza de que, mesmo na escuridão mais profunda, há uma centelha de luz que pode guiar de volta à vida. 

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