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Brasília

Brasília perde ícone da cultura

O jornalista TT Catalão morreu ontem, aos 71 anos, vítima de insuficiência renal e hepatite

Redação Jornal de Brasília

03/01/2020 5h00

Atualizada 02/01/2020 22h25

Jornalista, mas poeta. Carioca, mas brasiliense. Agora, eterno. Na madrugada de ontem, Vanderlei dos Santos Catalão – ou simplesmente “TT” – despediu-se da existência terrena. Homem de reportagens, filmes, versos e vida e um dos ícones da cultura candanga, TT morreu aos 71 anos, vítima de insuficiência renal e hepatite.

De escrita ora ácida ora afável, mas sempre instigante, TT deu ritmo à vida como deu aos trabalhos que realizou. Com percepção aguçada, foi o primeiro a conceber uma “Bras-ilha”, imortalizada no poema Há Guisos de Introito, em que critica a rotina parada de quem vive às margens do poder, sem sequer tocá-lo. É apenas um dos milhares de jogos feitos com as palavras presentes na obra do autor.

Atento à cena na capital, criou em 1989 o Conselho de Cultura do Distrito Federal, do qual foi o primeiro presidente. Ciente da carência de locais artísticos, fundou em 1993 o Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul, local que resiste ao tempo e, até hoje, é ponto de apoio à cultura no DF. Na política “oficial” ele entrou nos anos 2000, quando, no governo Lula, tornou-se homem forte do Ministério da Cultura (MinC). Na frente da pasta, elaborou a portaria Programa Cultura Viva, em 2004, que, enquanto secretário de Programas e Políticas Culturais do MinC, tornou política de Estado.

Na gestão distrital, foi subsecretário de Políticas Culturais no biênio 2007/08 e atuou pela vinculação de 0,3% da Receita Corrente Líquida do Distrito Federal para o Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Do outro lado do balcão, agiu como “contracensor” ao estimular a realização da Mostra do Horror Nacional, em 1978, como resposta à censura sofrida pelo Festival de Brasília do Cinema Brasileiro no governo de Ernesto Geisel.

Visionário

Consagrado mundo afora, o cineasta cearense radicado em Brasília Pedro Jorge de Castro lamentou a morte do poeta. “TT era um jornalista de uma cultura muito grande; os fatos relatados a ele, ou que ele apurava, não se resumiam ao factual. Ele trata num contexto amplo, cultural, de forma sensível e poética fosse qual fosse o assunto”, declarou à reportagem.

O vice-governador Paco Britto (Avante) emitiu nota de pesar, na qual classifica a personalidade como “visionário, figura marcante na cultura de Brasília”. “Um belo samba diz que poeta que morre é semente. Brasília chora e lamenta a morte de TT Catalão, poeta, músico, visionário, figura marcante na cultura de Brasília, que nos deixa mais pobres, embora suas palavras – às vezes de revolta, às vezes de esperança – continuem vicejando”.

O ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB) se pronunciou via twitter. “TT Catalão chamava a atenção por sua sensibilidade, sua poesia, seu amor à cultura, a Brasília e ao Brasil. Era um desses seres iluminados, insubstituível. Perdi um amigo e uma pessoa a quem admirava muito”, comentou o ex-chefe do Buriti. De um lado a outro, provas de que os versos “Sigo em frente, não aceito, não ouço, sigo reto: meu caminho está absolutamente certo”, mesmo após sua morte, reproduzem fielmente a forma e os ideais pelos quais viveu.

Último adeus

O corpo de TT Catalão será velado hoje, a partir das 10h, no Espaço Cultural Renato Russo que o próprio jornalista deu vida. O sepultamento ocorrerá por volta das 16h, no cemitério Campo da Boa Esperança, no final da Asa Sul. A família do poeta pede que a quem for na despedida que vista branco, como forma de homenagem.

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