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Brasília

Avião que caiu no distrito de São Gabriel (GO) se envolveu em outro acidente

Arquivo Geral

09/08/2018 7h00

Atualizada 08/08/2018 21h30

Divulgação/CBMGO

Ana Lúcia Ferreira
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O avião monomotor que caiu no último dia 1º no distrito de São Gabriel (GO), próximo a Formosa (GO), e deixou quatro feridos, já havia se envolvido em outro acidente em 2015. Na época, a aeronave matrícula PT-RKA, modelo EMB-711ST, sofreu queda de pressão do óleo do motor, seguida uma queda da rotação (RPM). Ou seja, o motor perdeu a força e houve uma desaceleração, conforme apontou o relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

Na época do primeiro acidente, apenas o piloto estava a bordo. No documento do Cenipa é detalhado que a aeronave decolou do aeródromo de Formosa (GO), com destino a Cabeceira Grande (MG). Durante o voo, a 4 mil metros de altitude, houve a falha do motor, que obrigou o piloto a fazer o pouso forçado em uma estrada de terra na fazenda Santa Matilde, em Minas Gerais. Após o pouso, a aeronave colidiu contra a mata e parou de forma brusca, causando diversos danos ao monomotor. Parte da fuselagem, asas, hélices e trem de pouso tiveram avarias. O piloto nada sofreu.

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Piloto tentou pouso forçado antes de bater em árvore e cair

Inconsistências

O relatório final foi emitido após um ano, um mês e 15 dias do acidente, ocorrido em 1º de maio. No documento é descrito que, em dezembro de 2014, a hélice do monomotor deu entrada na empresa GYN Prop Shop Ltda para uma revisão geral, sob a Ordem de Serviço (OS) nº 1243/14.

Foi observada diferença entre as horas totais da hélice assinaladas na OS em questão (129,5 horas) e as registradas na caderneta do motor e no mapa de controle de componentes da aeronave (99,8 horas). O fato indicaria falha no controle de componentes e na supervisão dos serviços realizados na avaliação do Cenipa.

O parecer destacou que “falhas de supervisão caracterizam perigosas lacunas nos processos organizacionais, pois limitam a possibilidade de identificação e correção de disfunções existentes, nesse caso tanto no nível de operação quanto no de manutenção”.

Também no período de investigações sobre o que poderia ter levado ao acidente, o Cenipa registrou que durante a abertura do motor foram constatadas a ruptura do eixo de manivelas e a quebra do pistão nº 3. Segundo o documento, as peças danificadas foram enviadas para análise no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), que concluiu que o eixo de manivelas falhou pelo mecanismo de fadiga, provavelmente devido a desbalanceamento; e a fratura do pistão ocorreu por sobrecarga em decorrência da falha do eixo de manivelas.

Por fim, as recomendações do Cenipa para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) no caso foram “realizar gestões junto à empresa GYN Prop Shop, com o intuito de verificar se as datas e o cômputo das horas dos componentes em revisão estavam sendo registrados em conformidade com as exigências previstas nos regulamentos”.

Inconsistência é comum, alega piloto

A aeronave está registrada na Anac desde outubro de 2014, em nome de Paulo Fernandes Gomes Pereira, com Certificado de Aeronavegabilidade (CA) válido até janeiro de 2021. O Jornal de Brasília procurou o proprietário para comentar a divergência em relação às horas de trabalho da hélice enviada para manutenção. Por telefone, Vinícios Martins Pereira, 30 anos, piloto e filho de Paulo, afirmou que são comuns as inconsistências nas anotações.

“Não acontece só na minha aeronave. Essas diferenças não impactam no controle de revisão. Às vezes você pode usar o motor da aeronave e a hélice não estar acoplada. Para um avião que tem 2.800 horas de voo, essa diferença é pouca”, argumentou.

Em relação à observação apontada no relatório do Cenipa sobre “os perigos das falhas de supervisão”, o piloto não se pronunciou.

Sobre o acidente mais recente, Pereira afirmou que aguarda o resultado das novas investigações do Cenipa para depois verificar o que será feito.

Manutenção

A GYN Prop Shop Ltda também se pronunciou sobre o ocorrido. Em nota, a empresa afirmou que não tomou conhecimento dos eventos acidentários envolvendo a aeronave, e que jamais foi comunicada oficialmente ou informalmente pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) sobre os acidentes mencionados.

Em relação às anotações, a empresa afirmou que “instruções normativas e legislações que regulamentam as anotações de cadernetas das aeronaves fazem distinção entre a caderneta da hélice e a caderneta do motor, razão pela qual as anotações da Caderneta de Hélice podem divergir das anotações da Caderneta de Motor, o que, por sua vez, não significa irregularidade na documentação e operação da aeronave”.

No caso da hélice do monomotor PT-RKA, a GYN Prop Shop disse que seguiu os padrões especificados nos manuais do fabricante e que o número de horas totais da hélice é anotado na OS de acordo com os dados repassados pelo proprietário da aeronave, sendo, portanto, de responsabilidade do dono.

A Anac também foi procurada. Questionada se a inspeção recomendada pelo Cenipa após o primeiro acidente foi realizada, a autarquia não se pronunciou, mas informou que a empresa de manutenção GYN Prop Shop Ltda está inserida no programa de vigilância continuada podendo prestar serviços de manutenção.

Ainda segundo a nota da Anac, inspeções ou diligências podem ser realizadas a qualquer tempo.

Investigação da FAB em curso

A respeito do acidente mais recente, a Força Aérea Brasileira (FAB) informou que investigadores do Sexto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa VI), órgão regional do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), realizaram a ação inicial da ocorrência envolvendo a aeronave em Goiás.

A ação inicial é o começo do processo de investigação e possui o objetivo de coletar dados: fotografar cenas, retirar partes da aeronave para análise, reunir documentos e ouvir relatos de pessoas que possam ter observado a sequência de eventos.

Prevenção

O objetivo da investigação realizada pelo centro é prevenir que novos acidentes com características semelhantes ocorram. Ainda segundo a FAB, a “necessidade de descobrir todos os fatores contribuintes garante a liberdade de tempo para a investigação. A conclusão de qualquer investigação conduzida pelo Cenipa terá o menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade do acidente”.

Saiba Mais

Das quatro vitimas, três foram internadas no Hospital de Base e uma em Planaltina de Goiás. O avião levava integrantes da empresa agrícola Sementes Produtiva.

O diretor comercial, José Valdemar Moretti, 53 anos, fraturou a perna e o braço, mas passou por cirurgia e teve alta. O piloto Luciano Fagner de Oliveira Bittar, 34, saiu do coma induzido e conversa com dificuldade, mas passa bem. O consultor Evandro José Biesek, 36, também saiu do coma induzido. Ele fraturou três vértebras. Médicos afirmaram que não haverá sequelas. O coordenador de compras Jalles José Barbosa, 32, segue em coma induzido, mas sem risco de morte.

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