Cláudio Py
[email protected]
Cerca de 289 alunos da assistência estudantil da Universidade de Brasília (UnB) solicitaram auxílio financeiro à instituição de ensino para retornarem às suas cidades de origem durante o período de isolamento social. O pedido foi enviado à UnB que, junto com a Diretoria de Desenvolvimento Social do Decanato de Assuntos Comunitários (DDS/DAC), avalia a disponibilidade orçamentária e financeira para a concessão do apoio a esses estudantes.
O estudante de ciência política Samuel Moreira, de 22 anos, é um dos estudantes que manifestou interesse no auxílio financeiro da UnB para custear a passagem de volta para a sua cidade natal, Ituiutaba – MG. “Estou tentando fazer o exame [que detecta a covid-19] para estar preparado caso eles contemplem os alunos com o retorno para as cidades de origem. Confesso que tenho receio de ter contraído o vírus e ser assintomático. Portanto, preciso ter certeza que estou bem para garantir que não irei contaminar a minha mãe ou qualquer outra pessoa da minha família durante o percurso”, desabafou.
Samuel conta que passar pelo isolamento social distante da família afetou bastante o seu psicológico. “O início da quarentena foi péssimo. Fiquei desesperado porque comecei a ficar o dia inteiro em casa sem fazer nada. Mesmo tentando me distrair com filmes e livros, realmente fiquei abalado. Já é tão difícil lidar com o sentimento de solidão durante o semestre regular, mas parece que tudo foi intensificado na quarentena. Depois de algum tempo, o trabalho voluntário e alguns projetos que faço parte voltaram, o que me deixou ativo novamente. Se não fosse isso, provavelmente teria tido um surto mental, que é algo que só consegui estabilizar nos últimos anos”, complementou, emocionado, o jovem.
O estudante de Relações Internacionais Alex Shisller, de 20 anos, não solicitou o auxílio financeiro da UnB para retornar à São Carlos – SP, sua cidade natal. No entanto, o jovem afirma que a medida é muito importante para amparar os estudantes de baixa renda em momentos caóticos como o atual. “As passagens de ônibus e avião são caras, portanto, muitos alunos não têm condições financeiras de custear tudo sem o apoio do governo e da UnB. Tenho amigos, por exemplo, que não voltaram para casa e estão dividindo o apartamento com outras pessoas para não ficarem sozinhos o tempo todo. Isso tudo é muito complicado”, pontuou.
Alex Shisller está desde ontem com seus familiares em São Carlos, graças a uma “poupança” que ele fez utilizando parte do seu salário. “Minha mãe ficou bastante preocupada com a situação da covid-19 e, por conta disso, pediu para que eu retornasse. Confesso que estava me sentindo muito sozinho [isolado em Brasília], então tomei a decisão de voltar. Ademais, os próximos semestres da UnB provavelmente vão emendar e, além disso, não vou conseguir tirar recesso do estágio no fim do ano, o que poderia acarretar em um longo período sem ver a minha família. A viagem foi bastante desconfortável, senti medo o tempo inteiro de contrair o novo coronavírus no ônibus. Mas, de qualquer forma, estou mais tranquilo agora com a minha família”, finalizou.
A coordenadora-geral da gestão atual do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UnB, Cintia Isla, acredita que a medida apresentada pela instituição é importante. “Somos completamente favoráveis à disponibilização de recursos financeiros para que os estudantes de baixa renda possam passar o período do isolamento social junto às suas famílias em suas respectivas cidades”, afirmou.
Em nota ao Jornal de Brasília, a UnB informou que a expectativa deles é viabilizar os recursos orçamentários e financeiros o mais rápido possível para amparar os estudantes de baixa renda que desejam voltar às suas cidades de origem. A instituição também garantiu que “nenhum dos auxílios concedidos aos estudantes que participam dos programas da assistência estudantil foi interrompido. Pelo contrário, a UnB tem se empenhado em buscar outras formas de atendê-los, a despeito das dificuldades decorrentes do isolamento social. Um exemplo foi o remanejamento orçamentário para a concessão de 3.326 auxílios emergenciais a quem dependia do Restaurante Universitário (RU) para fazer refeições (o RU foi fechado para evitar aglomerações)”.
