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Brasília

Amigos de Adriana se apresentam como álibi da ré do Crime da 113 Sul

Francisco Leitão e Graziela Ayres abriram o sexto dia do julgamento do caso

Marcus Eduardo Pereira

28/09/2019 14h07

Olavo David Neto
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No mesmo dia do crime que acometeu a morte de José Guilherme Villela, Maria Villela e Francisca da Silva, duas testemunhas afirmaram, em depoimento dado no julgamento de Adriana Villela na manhã deste sábado (28), que a ré do caso 113 Sul não estava na cena do crime, como apontam outros depoimentos que envolvem o apartamento no momento da tripla execução. Neste momento, a sessão foi interrompida pelo juiz para almoço. Após a pausa, Livino Silva, ex-marido da acusada, será ouvido no plenário.

Francisco Leitão e Graziela Ayres, amigos de longa data de Adriana Villela, afirmam que a acusada compareceu a dois compromissos no dia 28 de agosto de 2009, data do crime. No embate entre as duas partes, o ponto de convergência para atestar ambas as teses, de inocência e culpabilidade, está nos horários de encontro e desencontros com Adriana na data do fato.

De acordo com o advogado de defesa, Marcelo Turbay, os depoimentos deste sábado podem comprovar que Adriana não teria envolvimento com a morte dos pais no dia do fato. “Hoje é um dos dias mais importantes para a defesa, porque é o dia em que vamos apresentar os álibis de que Adriana não estava no apartamento dos pais no dia do crime, deixar clara essa farsa”, afirmou o advogado de defesa Marcelo Turbay.

A primeira testemunha do dia, Francisco Leitão, o “Chico”, afirmou que esteve com Adriana um seminário de Urbanismo no Instituto Cervantes no dia 28 de agosto, sexta, de 2009. “O evento começava por volta das 14h, mas eu cheguei umas 14h15. Acho que foram umas sete palestras e, em um intervalo por volta das 16h, encontrei com Adriana e ficamos conversando”, afirmou o amigo e também colega de faculdade.

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay, advogado de defesa da ré, guiou os primeiros questionamentos das partes. As perguntas giravam em torno da índole de Adriana, confirmações sobre o que fizeram na data citada como de encontro pela testemunha, costumes e sobre a abordagem feita pela Coordenação de Crimes de Contra a Vida (Corvida).

“Quando a Corvida me chamou para prestar depoimento, eles chegara a mim pela professora que organizava o evento. […] Eles me perguntavam quanto ao horário que eu saí de lá, se eu tinha visto ela enquanto eu deixava a palestra. Acho que buscavam que eu lhe fornecesse elementos que sugerissem que Adriana havia saído do seminário em algum momento enquanto estava lá, alguma lacuna”, levantou.

Quanto aos questionamentos da acusação, feitas pelo procurador do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), Maurício Miranda, as perguntas enfatizaram o momento de saída de Francisco do evento em questão. “Saí por volta das 18h15, 18h30, fui para um happy-hour. Mas já era noite. Lá, com outros amigos, até conversamos que poderíamos tê-la chamado para sair com a gente, mas não chamamos”.

Temperamento

Em resposta a uma das indagações de Kakay, Francisco respondeu que Adriana não se apresentava como uma pessoa apegada a bens materiais. “No período que estudamos juntos, sempre que surgia alguma moda nova, ela nunca participava, chegava até a fazer algumas roupas próprias”, comentou a testemunha.

Sobre possíveis atitudes agressivas, ele acredita que a ré é uma mulher de fortes opiniões. “Ela era bem contundente nas opiniões dela […]. Tinha uma postura até confrontadora com os professores na época das aulas; comprava a briga, assumia a interlocução da turma com os professores”, comentou.

Graziela Ayres depôs na manhã deste sábado no julgamento de Adriana Villela – acusada de encomendar o assassinato dos pais, José Guilherme e Maria Villela, mortos em 2009 – a convite da defesa. Em cerca de três horas de depoimento, ela deu relatos das inquirições às quais teve de responder, tanto em Brasília quanto em Natal (RN), às delegacias incumbidas nas investigações. Além disso, a amiga de infância de Adriana confirmou o álibi da ré para a noite do crime.

Ao contrário da narrativa construída pela acusação de que Adriana estaria no apartamento no momento do crime. A depoente declarou que recebeu a amiga em 28 de agosto de 2009, quando a hoje acusada comprou lanches e levou à casa da amiga. Após a saída da ré, Graziela assistiu à novela Caminho das Índias, da TV Globo, que começava após o Jornal Nacional. Segundo a emissora, a edição de 29 de agosto de 2009 do noticiário se encerrou às 20h57, e, pela perícia, os homicídios foram consumados entre 19h30 e 21h daquela noite.

Numa das nove vezes em que depôs, ela foi ouvida pela Corvida em Parnamirim, região metropolitana de Natal (RN), e relatou, no testemunho de hoje, abusos e excessos cometidos pela delegacia especializada da Polícia Civil do DF (PCDF), como uma gravação dos autores dos homicídios dando detalhes da atuação. “Eram vídeos de algum dos dois [executores], numa parte que eles descreviam o crime; eu fiquei apavorada e não quis ver”. Os policiais se recusaram a tirar o vídeo, alegando que ela estava mentindo, conforme Graziela.

Ela negou que tenha confessado aos policiais reclamações de Adriana a respeito do irmão, Augusto, e da filha, Carolina. Pelo depoimento colhido pela Corvida, a depoente disse que a acusada se queixou de desconfianças dos parentes em relação à ré, que também teria o desejo de ser inventariante do patrimônio dos pais. “O que me foi perguntado em Natal foram horários; eles repetiam que já sabiam de tudo. Não me perguntaram de outro fato”, declarou a testemunha.

Carta marcada

Assunto constante durante os seis dias de julgamento, as cartas de Maria Villela à filha, datadas de 2006 e encontradas em diligências feitas pela Corvida no escritório do casal, voltaram à tona. Graziela negou que houvesse um rompimento familiar à época dos manuscritos, que continham palavras duras da mãe para a filha. “E se tivesse, acredito que minha mãe saberia. A tia Maria confiava muito na minha mãe”, ressaltou a depoente.

Graziela também negou que Adriana fosse “gananciosa”, ou tivesse pensamentos voltados a dinheiro, joias, carros ou ascensão social. “Muito pelo contrário, sempre teve aversão a isso”, cravou a depoente. Na referida carta de Maria Villela, a advogada fazia referência a questionamentos da filha acerca de como os pais cuidavam das finanças.

A defesa de Adriana Villela também questionou Graziela acerca da duração dos depoimentos. De acordo com relatos da Corvida e da própria delegada Mabel de Faria ao Júri, foram duas horas de oitiva. A amiga de Adriana refutou a hipótese e assegurou que a inquirição feita na capital potiguar se prolongou por sete horas, mas só ao fim da fala uma filmadora foi iniciada.

À posteridade

Neste sábado (28) o Júri reunido para sentenciar ou não Adriana Villela completa seis dias e caminha para ser o julgamento mais longo da história do Distrito Federal. A partir das 16h de hoje, o Tribunal do Júri supera o massacre da Estrutural, em 2018, 20 anos após o crime, que durou de segunda a sábado. Já são 54 horas de sessões ao longo da semana, e a previsão é que se estenda até a primeira metade da semana que vem.

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