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Brasília

A mistura de Brasília com Egito

Semelhanças entre Brasília e Akhetaton, no Egito, foram retratadas por Rodrigo Alvarez, artista do DF, que misturou as duas cidades em uma só

Redação Jornal de Brasília

01/05/2023 6h41

Elisa Costa
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Ainda no mês de comemoração de 63 anos da capital da República, o artista e publicitário Rodrigo Alvarez, 33, chamou a atenção dos internautas com obras que unem a arquitetura de Brasília com a capital do Antigo Egito, Akhetaton. Os designs foram feitos junto a um programa de inteligência artificial chamado MidJouney, que misturou as semelhanças entre as duas cidades, como a presença do formato de asas, as avenidas largas, edifícios em formatos geométricos e jardins. “São muitas pirâmides espalhadas por Brasília e prédios que lembram uma mastaba onde o faraó e suas riquezas eram enterradas. Isso demonstra, no mínimo, uma forte influência da antiga arquitetura egípcia”, contou Alvarez ao JBr.

Em suas criações podemos ver a Catedral Metropolitana de Brasília transformada em um palácio egípcio e a capela da Ermida Dom Bosco, vista como se fosse um dos antigos túmulos piramidais. Em outra imagem, vemos uma junção do Supremo Tribunal Federal (STF) e da escultura localizada em frente a sede – chamada “A Justiça”, de Alfredo Ceschiatti – com um prédio achatado, acompanhado de uma escultura de um deus egípcio, que se apresenta estático e sem expressões faciais. Outro design em destaque mostra um busto de Juscelino Kubitschek vestido como faraó, posicionado no meio de duas esfinges.

Contudo, a criatividade não parou por aqui. O Palácio do Itamaraty, que conta com diversas pilastras, foi redesenhado como um templo egípcio sustentado por colunas, conhecidas como “hipóstilas”. Já os azulejos de Athos Bulcão, na Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, foram mesclados com esculturas e desenhos em pedras e paredes do Antigo Egito. As obras de Rodrigo ainda fazem releituras da Torre de TV, do Congresso Nacional, do Teatro Nacional Claudio Santoro, do Santuário São João Bosco, da Igreja Rainha da Paz e outros pontos turísticos de Brasília.

Sobre o processo de criação das imagens, Rodrigo explicou à reportagem: “Tudo começa pela seleção dos monumentos. Muitas vezes procuro um contexto, como a pirâmide da CEB (Companhia Energética de Brasília) que tinha o mesmo formato e as mesmas proporções da pirâmide de Saqqara, que ainda era capaz de armazenar a energia do universo. Ou a Catedral de Brasília que é protegida por quatro estátuas grandiosas, da mesma forma que os templos egípcios”. Após a curadoria, as imagens são editadas no Adobe Photoshop de forma que o MidJourney compreenda e reimagine elas, junto aos comandos desenvolvidos especificamente para o projeto.

Tudo isso é sobreposto em tons terrosos, com o céu aberto e a areia de paisagem desértica, algo que também remete às paisagens da capital federal, principalmente quando passa pelo período de estiagem. Para os egiptólogos, ainda existem semelhanças no formato de entrada e acesso a edifícios que, em Brasília e em Akhetaton, utilizam rampas e corredores com iluminação natural. Além disso, o formato da cidade africana era definido pelos habitantes como a deusa Ísis de asas abertas, que pode lembrar as asas Sul e Norte do avião desenhado para Brasília.

Ao JBr, Rodrigo Alvarez, criador das imagens, destacou que já atua no projeto há cinco anos e que existem diversos desafios pelo caminho: “Trabalhar com a inteligência artificial gera resultados inesperados, porque muitas vezes ela não compreende os comandos e gera imagens desconexas. Quando isso acontece, eu volto para o Photoshop e manipulo novamente a imagem de forma que ela se adeque melhor ao comando”. Para a divulgação das obras, o artista e morador de Águas Claras criou um perfil no Instagram que se chama BrasíliaEgito, onde o designer exibe as imagens gratuitamente em uma espécie de exposição virtual.

Apesar das dificuldades, Alvarez contou que a experiência com a Inteligência Artificial MidJourney tem sido “incrível”, pois o artista a considera uma ferramenta potente, que imagina e alcança resultados de maneira rápida – criando cerca de quatro imagens por segundo. Rodrigo admitiu ainda que a parte mais divertida de todo o processo é recriar os traços de Brasília, que surgiram das mãos de tantos artistas e arquitetos talentosos. Rodrigo nasceu em Vitória (ES), mas mora em Brasília desde pequeno e declara abertamente seu amor pela cidade: “Me sinto brasiliense de coração”.

Ainda criança fotografava paisagens e fazia ilustrações da capital federal, e depois da faculdade, começou a trabalhar como diretor de arte e diretor criativo em diversas empresas. “Considero toda a arquitetura de Brasília fascinante, amo descobrir as histórias de sua criação. Sempre que tenho um tempo livre procuro explorar a cidade com minha câmera e meu caderno de desenho, tentando descobrir ângulos e pontos de vista diferentes do comum”, disse à reportagem. Para promover entretenimento e cultura aos cidadãos da capital, agora o publicitário pretende levar as obras para fora da internet.

Mistério?

As semelhanças entre Brasília e Akhetaton não são apenas físicas, pois a capital do antigo Egito também foi construída estrategicamente para ser o centro político do país. Desta forma, pesquisadores e estudiosos da área acreditam que Brasília pode ter recebido uma grande influência de Akhetaton quando foi planejada e executada. O tema também já foi discutido pela egiptóloga Iara Kern e o professor Ernani Pimentel, que escreveram o livro Brasília Secreta; Enigma do Antigo Egito. Na obra, os autores destacam que ambas as capital foram construídas em quatro anos e ambas criaram lagos artificiais para amenizar o clima.

A cidade era dividida por setores, assim como Brasília, e as estruturas nobres ficavam em torno de um palácio cercado por uma muralha, onde residia o soberano, no Palácio da Margem Norte. No DF, há algo semelhante: a Esplanada dos Ministérios e prédios públicos também ficam próximos à residência do presidente da República – o Palácio da Alvorada. Akhetaton ficava na margem oriental do Rio Nilo e foi extinta após a morte do faraó de mesmo nome. O local agora se chama Tell-el- Amarna. Segundo a Fundação Oscar Niemeyer, mesmo com todas as semelhanças, não há comprovação que o arquiteto tenha se baseado na cidade africana, pois não há menções a isso no relatório de criação do Plano Piloto, criado em conjunto com Lúcio Costa.

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