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Brasília

A força das mulheres na mobilidade urbana do DF

De auxiliar de limpeza a motorista de ônibus, conheça a história de superação da condutora Simone da Cunha

Carolina Freitas

08/03/2024 11h08

Foto: Carolina Freitas / JBr

“Na mobilidade urbana, uma mulher se espelha na outra. Quando a gente está limpando o chão as pessoas não dão muito valor, mas quando a mulher passa a dirigir um ônibus é outra coisa. Somos vistas com outros olhos, até por outras mulheres”, destacou sorridente e emocionada a condutora Simone da Cunha, ao lembrar o caminho que trilhou para tornar-se motorista do transporte público do Distrito Federal.

Simone, junto com outras 11 mulheres, compõem o quadro de motoristas da Viação Marechal no DF. O número ainda é pequeno, mas a força feminina na mobilidade urbana também alcança outras áreas dentro da empresa. Das 360 funcionárias da companhia, 299 estão na operação como motoristas e cobradoras. Sendo uma representatividade feminina de 15% do quadro total de empregados. Além disso, dos cinco gerentes da Marechal, três são mulheres.

Foto: Carolina Freitas / JBr

Para Simone, ser motorista de ônibus é uma conquista, um sonho realizado. A condutora superou as dificuldades, preconceitos, piadinhas e dúvidas do seu potencial por parte de colegas de trabalho, passageiros e até familiares. Simone começou a trabalhar em 2002 em uma empresa de ônibus na área de serviços gerais, e depois de seis meses foi promovida para cobradora.

Mas, ela não parou por aí. Pois, afinal, desde pequena avistava os caminhões e ônibus passando pela cerca da casa da sua avó e já almejava um dia dirigir um veículo grande. Quando surgiu a oportunidade de trabalhar em uma empresa de ônibus, mesmo que fosse na limpeza, Simone viu nesta vaga de emprego a chance de tornar-se motorista.

Depois de algum tempo, Simone passou a ser manobrista e há 14 anos é motorista, sendo destes, 10 anos na Marechal. Em relação às situações de preconceito, a condutora destaca que já sofreu muitos, mas com o tempo estão diminuindo. “Tem pessoas que colocam o pé no degrau para subir no ônibus e não entram porque ver que a motorista é uma mulher. É raro, mas ainda acontece”, lamentou Simone.

“No início, eu tive muita dificuldade porque as pessoas não me viam como motorista, eles só me enxergavam como a mulher que limpava o chão e lavava o banheiro. Quando eles me viram dirigindo um ônibus na garagem eles não colocaram muita fé. Mas quando eu entrei como motorista para carregar passageiros, as outras meninas da empresa ficaram até animadas para serem motoristas também. A minha decisão animou outras mulheres, e hoje vemos cada vez mais mulheres motoristas”, completou.

Assim como Simone inspirou outras mulheres, o próprio incentivo veio de uma outra motorista: “Eu sempre tive muita vontade de dirigir, mas quando eu vi uma motorista mulher e um anão dirigindo eu percebi que eu também conseguia. Ver eles dirigindo me animou a tentar também. Essas duas pessoas foram as minhas inspirações para chegar onde estou hoje”.

A gerente de Gente e Gestão, da Marechal, Ludmila Costa, falou sobre a importância de se inserir cada vez mais mulheres na mobilidade urbana: “Além da questão de nós mulheres termos uma condução mais cuidadosa e prudente no trânsito, nós também temos aquelas sensibilidade e conseguimos trazer para o dia a dia uma doçura que nem sempre os homens conseguem. A mulher tem um sorriso que abraça, escuta e acolhe”.

Foto: Carolina Freitas / JBr

“Nós vivemos em um trânsito que, infelizmente, é caótico. Além disso, a cada dia aumenta a quantidade de veículos nas vias. Acredito que se a gente já tivesse conseguido inserir mais mulheres no trânsito, teríamos menos brigas e um trânsito mais tranquilo”, completou Ludmila.

Para a gerente, o percentual baixo de motoristas é uma realidade que vai além dos portões da Marechal: “Hoje nós temos 11 motoristas no nosso quadro, mas no Brasil nós temos mais de 77 milhões de Carteiras Nacionais de Habilitação emitidas, das quais somente 35% são de mulheres. Embora a gente já tenha grandes conquistas, nós mulheres temos que acreditar mais”.

No ponto de vista de Ludmila, as mulheres também precisam acreditar mais em si mesmas: “Nós gostaríamos que as mulheres acreditassem cada vez mais no seu potencial. A questão da limitação da mulher no transporte público coletivo é algo que vem da mente das pessoas, inclusive da nossa própria mente. Muitas outras lutas nós conseguimos vencer e essa é mais uma que conseguimos. Agora só precisamos dominar ainda mais o espaço que estamos inseridas”.

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