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Vinhos e Vivências
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Piemonte – A casa do Barolo e de vários outros

Região vitivinícola ao norte da Itália tem consórcio de produtores para garantir qualidade, segurança e aumentar exportação

Cynthia Malacarne

02/02/2024 18h13

Atualizada 03/02/2024 8h17

Foto: Região do Piemonte / Crédito: Divulgação Consórcio

Localizada ao norte da Itália, aos pés dos alpes, fica a segunda maior região do país: Piemonte. Lar da Casa de Savoy, casa real italiana, que liderou a unificação italiana em 1860 e governou o Reino da Itália até 1946 por meio do ramo Savoy-Carignano. Não é nenhuma surpresa que, por lá, tenha nascido o rei dos vinhos italianos.

Embora Barolo seja o rei supremo do Piemonte, é importante ressaltar que essa região se destaca pela sua diversidade de castas e alto nível de qualidade dos seus vinhos. Apesar de ser uma zona produtora predominantemente de vinhos tintos, a pequena produção de brancos também merece atenção.

A cidade capital do Piemonte é Turim, e as principais cidades produtoras de vinho são: Barbaresco, Alba, Barolo, Caluso, Canale, Canelli, Ghemme, Gattinara, La Morra, Nizza, Monferrato, Sarraunga d’Alba e Vignale Monferrato. As principais variedades de uvas tintas são: Nebbiolo, Barbera, Bracheto, Croatina, Dolcetto, Freisa, Grignolino, Malvasia di Casorzo, Malvasia di Schierano, Moscato Nero, Pelaverga, Ruché, Uva Rara e Vespolina. Já as variedades brancas são: Arneis, Cortese, Erbaluce, Moscato Bianco, Nscetta, Timorasso e Favorita (Vermentino).

Nesta semana, estive em Turim, para a feira de vinhos Grandi Langhe e pude conversar com o presidente do Consórcio de Proteção Barolo, Barbaresco, Alba, Langhe e Dogliani, Matteo Ascheri, sobre a atuação dessa entidade na promoção dos vinhos dessa região.

Segue a entrevista que fiz com o presidente do consórcio Matteo Ascheri:

JB: Quais as principais responsabilidades do consórcio com os produtores de vinho da região?
Ascheri: O consórcio é uma associação de empreendedores, da qual o governo não faz parte. Os membros dessa entidade são viticultores, em sua grande maioria pequenos e médios, que cultivam suas uvas e elaboram seus vinhos. São responsabilidades do consórcio:
1. Gestão das regras de produção, cada vinho tem sua denominação de origem controlada e garantida. As regras são estabelecidas pelos próprios produtores e não pelo Estado Italiano ou pela União Europeia;
2. Gestão da Denominação de Origem, bem como de toda a área que abrange essa denominação. A tutela de um marco de um vinho é coletiva e as regras devem ser respeitadas por todos os produtores.
3. Promoção e divulgação dos produtos da região aos consumidores mundiais.
Inclusive algumas atividades serão realizadas neste ano pensando no mercado brasileiro. Em março, será feito um evento online em colaboração com o consulado geral do Brasil em Milão, e, em novembro, uma academia para delegação de sommeliers brasileiros.

 

JB: Vejo que o tema da fraude nos vinhos é uma preocupação do consórcio. No Brasil, temos lidado com a entrada de muitos vinhos fraudados e contrabandeados. Como o consórcio está lidando com esse tema?
Ascheri: O consórcio realiza dois tipos de controle, o interno e o externo. No interno, é eleito, a cada 3 anos, um mandatário (um terceiro) para controlar toda a produção de vinhos e evitar esse tipo de fraude. Isso é importante para o consumidor final, mas, principalmente, para o produtor que usa um nome. E saber que todos aqueles que fazem parte dessa comunidade respeitam as regras nos traz segurança. O segundo controle é em nível mundial. Há um registro da marca e da denominação desses vinhos em toda parte do mundo. Quando alguém utiliza esses dados de forma irregular, o consórcio intervém.

JB: Outro assunto que se discute muito no momento é o da sustentabilidade da viticultura, do meio ambiente e do trabalho nas vinícolas. Como o consórcio colabora com o produtor para cumprir políticas mais sustentáveis?
Ascheri: A redução do impacto ambiental é fundamental e é uma preocupação dos produtores. Como comentei, a região é composta, predominantemente, por pequenos produtores, e a geografia do Piemonte exige um trabalho braçal intenso. A maior parte da vindima é feita de forma manual, por conta do terreno montanhoso. Isso impacta no emprego da mão-de-obra. É uma preocupação, para além da redução de emissão de carbono, da sustentabilidade do solo, da mínima intervenção na adega, mas, principalmente, a sustentabilidade ética com a regulamentação do trabalho das pessoas que exercem atividades nos vinhedos. Os trabalhadores dessas vinícolas possuem várias origens, nacionalidades, e é importante que sejam tratados com respeito e dignidade.

JB: A região do Piemonte é muito famosa pelo Barolo e Barbaresco. Como fica a divulgação das outras denominações?
Ascheri: O consórcio representa 9 denominações de origem e precisa promovê-las de forma igualitária. Barolo e Barbaresco são muito importantes, mas também há Nebbiolo d’Alba, Barbera d’Alba, Dolcetto d’Alba, Diano d’Alba, Langhe, Dogliani e Verduno. Cada denominação necessita de uma comunicação específica. A nossa decisão foi concentrar nossos esforços na denominação que se chama Langhe, que é mais abrangente e compreende todos nossos produtos. Além disso, é um bom nome, porque é territorial. Além de ser o nome de uma região, também é de um vinho. Assim, pode ser Langhe Nebbiolo, Langhe Barbera, Langhe Dolcetto etc. Apesar de sermos uma região predominantemente de vinho tinto, há uma variedade de uva branca, a Arneis, com alta qualidade, que estamos trabalhando em sua promoção mundial.

JB: O Brasil é um dos poucos países no mundo onde o consumo de vinho per capita tem aumentado, e ainda possui uma grande margem para crescimento. Existe alguma iniciativa para impulsionar a exportação dos vinhos do Piemonte para o Brasil?
Ascheri: Sim, possuímos várias atividades com os produtores para o incentivo das exportações. No caso do Brasil, apesar de todas as dificuldades burocráticas e tributárias, temos grande interesse em aumentar nossa participação nesse mercado. Temos um projeto importante, o Barolo e Barbaresco Academy, que possui o objetivo de comunicar toda a nossa peculiaridade, desde a geologia, viticultura, enologia, com professores universitários para os profissionais como sommeliers e compradores. O alvo desse programa é ter uma comunicação direta entre os profissionais do vinho, de modo a evitar intermediação de informações. O Barolo e Barbaresco Academy é promovido em todo o mundo e há uma edição programada para ser realizada, em breve, no Brasil.

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