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Professor M.

A riqueza da informação cria a pobreza da atenção

A grande quantidade de informações que temos disponível hoje pode nos levar à riqueza da informação criando a pobreza da atenção.

Prof. Manfrim

27/06/2020 21h00

* Com a colaboração de Thamyres Larcher.

“A riqueza da informação cria a pobreza da atenção”, já dizia o economista Hebert Simon (1916 – 2001) na década 1970, onde nem sequer imaginaria a dimensão que a tecnologia da informação tomaria nos dias atuais.

Desde aquela época, a preocupação relativa à quantidade de informação que o ser humano teria disponível poderia ser um problema, pois o autor percebera que esta riqueza de informações também cria a necessidade de alocar a atenção de maneira eficiente em meio a esta abundância.

Essa discussão nos faz refletir na forma de como estamos lidando com este cenário nos dias de hoje: Será que estamos conseguindo dar atenção para o que realmente importa, ou estamos cada vez mais alienados e dispersos em meio à tantas possibilidades?

A fronteira entre homem e máquina

No livro “A quarta revolução industrial”, o autor Klaus Schwab traz claramente uma visão pessimista da agilidade e proporção que a tecnologia da informação está tomando, principalmente das competências humanos e suas relações.

“Quanto mais digital e tecnológico o mundo se torna, maior é a necessidade de ainda sentir o toque humano, nutrido pelos relacionamentos. Enquanto nossas relações individuais e coletiva com a tecnologia aumentam, nossas habilidades sociais e capacidades empáticas diminuem negativamente”, diz Klaus Schwab.

O autor do livro apresenta um estudo de 2010, feito por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Michigan, onde descobriram um declínio de 40% da empatia entre estudantes universitários.

Klaus Schwab lista no livro 21 mudanças tecnológicas, que após uma pesquisa com mais de 800 executivos, julga acontecer, com pontos negativos e positivos e até mesmo, pontos desconhecidos, ou seja, não conseguiu identificar se era positivo ou não.

O interessante é que em praticamente todas as mudanças aparecem como ponto negativo e (ou) desconhecido: (i) aumento das distrações; (ii) mudanças nas relações e interações; (iii) privacidade.

Uma das mudanças citadas é a Neurotecnologia. Nos pontos negativos dessas mudanças está justamente o medo da criatividade ou do contato humano desaparecerem lentamente, principalmente pelo exagero sobre o que as ciências do cérebro são capazes de fazer.  O autor usa exatamente estas palavras: “tornar indistinta a fronteira entre homem e máquina”.

Outros especialistas expressam preocupações semelhantes. O escritor de tecnologia e cultura Nicholas Carr, afirma que quanto mais tempo passamos imersos nas águas digitais, mais superficiais se tornam nossas capacidades cognitivas devido ao fato de deixarmos de controlar nossa atenção.

As interrupções frequentes dispersam nossos pensamentos, enfraquecem nossa memória e nos deixam tensos e ansiosos. Quanto mais complexos forem os encadeamentos dos pensamentos em que estamos envolvidos, maior será o comprometimento causado pela distração.

No artigo “Neuromarketing e a tecnologia de ler pensamentos” falamos sobre esta questão e como a tecnologia BCI pode ser a inovação que romperá a última fronteira da privacidade das pessoas, o último lugar seguro para a liberdade de pensamento: o cérebro.

Um Mundo Imprevisível

Nas conferências TED TALKS, é recorrente diversas palestras onde são discutidas o que o avanço da tecnologia pode acarretar em relação ao desenvolvimento das nossas competências e se de fato, estamos utilizando-a como deveria.

A ex-CEO de cinco empresas, Margaret Heffernan, defende que quanto mais confiar na tecnologia para nos tornar mais eficientes, menos competitivos para enfrentar o inesperado.

Ela explica por que precisamos de menos tecnologia e de mais competências humanas, imaginação, humildade, coragem, para resolver problemas nos negócios, no governo e na vida, em uma época imprevisível. “Somos corajosos o bastante para inventar coisas jamais vistas”, diz ela. “Podemos criar qualquer futuro que escolhermos.”

Em sua palestra “As competências humanas necessárias em um mundo imprevisível”, Margareth enfatiza que a experiência com falhas parecem ineficientes, mas são geralmente a única maneira de descobrir como funciona o mundo real, ou seja, ela tenta explicar que nem sempre precisamos depender tanto das tecnologias e não deixar as máquinas pensarem por nós.

“Todas essas tecnologias tentam forçar a adaptação a um modelo padronizado de uma realidade previsível em um mundo infinitamente surpreendente, e o que fica de fora? Tudo o que não pode ser medido, que é justamente tudo o que conta”, afirma Margareth.

O interessante é que neste momento, Margareth é ovacionada pelos ouvintes, ou seja, já percebemos o quanto estamos distantes de nós mesmos. Temos consciência de tudo o que está acontecendo, e será que estamos de fato preocupados ou preferimos fingir que não está acontecendo nada?

Em outra conferência TED, a própria Margareth Hefferman discursa sobre a chamada “cegueira voluntária”, que nada mais é do que optarmos por não saber.

Uma era imprudente

Bina Venkataraman, autora do livro “The Optimist’s Telescope“, viajou ao redor do mundo estudando como as pessoas e as comunidades pensam sobre o futuro. Sua curiosidade nos leva a questionar se a miopia galopante nas sociedades atuais é inevitável, ou é realmente “uma escolha que estamos fazendo”.

Em sua palestra “O poder de pensar no futuro em uma era imprudente”, Bina defende que as tecnologias deveriam ser utilizadas para evitar desastres e luta para demonstrar como estamos negligenciando nosso futuro.

Ela não somente prova como vários desastres poderiam ter sido evitados com a tecnologia, mas também apresenta várias soluções de como podemos prevenir os próximos. Bina teme se seremos lembrados pela nova geração como bons ancestrais.

Na mesma palestra, ela elucida três erros que estamos cometendo e consequentemente prejudicando a previsão do futuro. Primeiro, será que de fato estamos medindo o correto para prevenir o futuro? Segundo, se recompensamos um líder político ou de negócios por desastres que conseguiram pôr em ordem, não estaríamos deixando de incentivá-los na prevenção destes desastres antes de mais nada? Terceiro, temos coragem de imaginar o que de fato pode acontecer de bom ou ruim com as previsões?

Ou seja, mesmo sabendo que uma pandemia poderia aparecer a qualquer momento, conseguimos imaginar de fato o que ela traria de ruim? Talvez se permitíssemos imaginado isso, teríamos nos prevenido. Bina não nega o quão difícil seria para tal, mas acredita que o futuro vale todo esse esforço.

Cegueira Voluntária x Miopia Galopante

Apesar de Margareth Heffernan defender a imprevisibilidade do futuro e Bina Venkataraman se posicionar o quão o futuro é previsível, ambas convergem na real preocupação deste contexto: nossa capacidade analítica e de previsibilidade das implicações de acontecimentos futuros.

A capacidade de lidar com o inesperado e o imprevisível tem se tornado uma questão fundamental em um mundo complexo, com inúmeras variáveis envolvidas e uma grande diversidade de ambientes.

E seus posicionamentos e argumentos nos fazem refletir: Será que o mundo então está caminhando para o lado errado? Tentamos prever o imprevisível, enquanto o que de fato conseguimos prevenir, fingimos cegueira e pobreza da atenção?

Afinal, quantos de nós previmos que uma hora alguma Pandemia iria chegar?

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[1] TED (em português: Tecnologia, Entretenimento, Planejamento) é uma série de
conferências realizadas na Europa, na Ásia e nas Américas pela fundação Sapling,
dos Estados Unidos, sem fins lucrativos, destinadas à disseminação de ideias.
Suas apresentações são limitadas a dezoito minutos, e os vídeos são amplamente
divulgados na Internet.

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Artigo elaborado em coautoria com:

Thamyres P. A. Oliveira Larcher

Em um relacionamento sério e eterno com o Agronegócio (Mestrado e Graduação pela Universidade de Brasília), engajada em Gestão Estratégica (Especialização), descobridora do universo inovador e ágil (MBA em Inovação e Design Thinking), compromissada com o Banco do Brasil, destinada ao Doutorado, e sempre fiel à comunicação não violenta.

Contato para palestras, eventos ou bate-papo: [email protected]

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Prof. Manfrim, L. R.

Fanático em Gestão Estratégica (Mestrado). Obcecado em Gestão de Negócios (Especialização). Compulsivo em Administração (Bacharel). Consultor pertinente, Professor apaixonado. Inovador resiliente e Intraempreendedor maker.

Explorador de skills em Gestão de Projetos, Pessoas e Educacional, Visão Sistêmica, Holística e Conectiva, Marketing, Inteligência Competitiva, Design de Negócios, Criatividade, Inovação, Empreendedorismo e Futurismo.

Coautor de Livro na área de Educação Empreendedora e membro da Rede Brasileira de Cidades Inteligentes, Humanas e Sustentáveis.

Navegador atual nos mares do Banco do Brasil, UDF/Cruzeiro do Sul e Jornal de Brasília. Já cruzou os oceanos do IMESB-SP, Nossa Caixa Nosso Banco (NCNB) e Cia Paulista de Força e Luz (CPFL). Freelance em atividades com a Microlins SP, Sebrae DF e GDF – Governo do Distrito Federal.

Contato para palestras, conferências, eventos, mentorias, hackathons e avaliação de pitchs: [email protected].

? Linkedin – Prof. Manfrim

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