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Olhar Strano
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Vitória da extrema-direita e derrota da direita tradicional

Institutos de pesquisa erraram — por muito — as projeções referentes a Bolsonaro e candidatos bolsonaristas. Não contavam com o voto útil do lado da direita

Danilo Strano

03/10/2022 10h44

Apurações finalizadas em todo Brasil e as primeiras análises começam a ser feitas pelos especialistas. Mas algo que chamou atenção de todos, logo com os primeiros números apurados, foram os equívocos de todas as pesquisas eleitorais sobre o desempenho de Jair Bolsonaro e de candidatos bolsonaristas nos estados de Sul e Sudeste.

Se por um lado as projeções acertaram sobre o desempenho de Lula, que finalizou o primeiro turno com 48.43% dos votos, valor dentro da margem de erro de IPEC e Datafolha, nenhum instituto de pesquisa, dos mais conhecidos, tinha em seu prognóstico os 43,20% alcançados por Bolsonaro. Somente um fator explica essa movimentação de votos não captada pelas pesquisas: no último mês, muito se falou do voto útil da esquerda e centro-esquerda em Lula, mas na verdade quem teve uma avalanche de voto útil foram as candidaturas de Bolsonaro e de seus indicados.

Esse voto útil da direita em Bolsonaro nos dá uma dica de quem foi o grande derrotado desse pleito. Algumas análises ansiosas e catastrofistas falavam em derrota da esquerda e centro-esquerda, mas isso não corresponde aos fatos. Lula obteve uma votação muito relevante, em porcentagem, só teve desempenho melhor em primeiro turno na sua reeleição em 2006. O PT, partido do ex-presidente, conquistou três governos estaduais em primeiro turno e disputa quatro em segundo turno. Além disso, teve um aumento significativo em sua bancada na Câmara Federal, passando de 56 deputados eleitos para 76. De uma forma geral, o partido do ex-presidente conseguiu conquistar alguns espaços perdidos em 2018 na região Sudeste e continuou como preferência de ampla maioria no Nordeste.

Como se viu, o crescimento do bolsonarismo, a quem chamo de extrema-direita nacional, não se deu sobre o petismo e a centro-esquerda, esse também teve um aumento de votos. Na realidade, esse movimento de extrema-direita cresce em cima do que conhecemos desde a redemocratização como direita tradicional ou centro-direita. Os grandes partidos desse campo sempre foram PFL e PSDB. O PFL teve a maior bancada eleita em 1994, mas com o passar do tempo foi perdendo espaço para os tucanos. Até 2016, o PSDB foi a grande estrela da direita, seus candidatos disputavam a presidência com chances reais de eleição.

Sintomático citar que em 2022, em São Paulo, estado comandado por 30 anos pelos tucanos, o próximo governador não será deste partido. Quem ocupou esse lugar com força foi o bolsonarismo. Tarcísio de Freitas, candidato ao governo de SP apoiado por Bolsonaro, está no segundo turno e é grande favorito. Nomes tradicionais da direita, como o ex-ministro José Serra e o senador Álvaro Dias, não conseguiram se eleger e tiveram votações pouco expressivas.

Se esse espectro político representado por Bolsonaro e seus escolhidos terá vida longa na política nacional, os próximos anos irão revelar. Certo é que, após as eleições de 2022, a direita tradicional perde total protagonismo, uma vez que teve seu eleitorado aniquilado e não mostra forças para se reerguer.

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